Quando o garoto Marcelo Costa desembarcou no Alfredo Jaconi para arriscar a sorte nas categorias de base, em 1999, conheceu um sujeito chamado Lauro, que já se convertia em ídolo do clube com a conquista da Copa do Brasil. Quando o árbitro Leandro Vuaden apitar o início do duelo entre Juventude e Caxias, às 19h desta quinta-feira, nesse mesmo estádio, o volante papo e o camisa 10 grená, amigos desde aquele momento, se encontrarão em lados opostos do gramado.

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Assim como fazia com Marcelo, Lauro continua ainda hoje aconselhando outros tantos jogadores em início de carreira. Aos 36 anos, o Baixinho costuma dividir o carinho entre a família de casa e a do clube. Um exemplo disso ocorreu na manhã de quarta-feira, no Jaconi. Ao ver o meia Alan, 20, saindo cabisbaixo do vestiário após o treino, o ilustre jogador entrou em cena com seus gestos discretos e a fala mansa.

– Saiu a lista? – perguntou Lauro.

– Sim, tá lá – respondeu Alan.

– Tu tá na lista? – falou Lauro.

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– Não – lamentou Alan.

Só a expressão facial de Lauro foi suficiente para confortar o garoto, desiludido após ter sido testado entre os titulares.

– A gente conversa amanhã (quinta) – disse o Baixinho.

– Tá bom. Boa sorte – devolveu Alan, abraçando o companheiro.

Atitudes bondosas que o amigo Marcelo, 29 anos, não cansa de reconhecer:

– Sempre usei o Lauro como espelho, pelo caráter que tem dentro e fora de campo. Peguei um pouco da experiência.

Desde que se tornou amigo do Baixinho, o meia já o enfrentou com as camisas de Grêmio e Palmeiras.

– Mas para a gente que é daqui (natural de Campinas do Sul, Marcelo vive desde os 13 anos em Caxias do Sul), o Ca-Ju é especial. Desperta um sentimento diferente.

Razão pela qual o assunto não entra na roda de mate, que o alegretense da dupla sempre se encarrega de preparar numa pracinha do bairro Jardim Margarida, ponto de encontro das duas famílias. Um hábito que a tabela do Gauchão encarregou-se de tornar cada vez mais raro.

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– Desde a virada do ano não deu mais tempo. Só esses dias nos encontramos na rua, eu passeando com o cachorro e ele voltando do treino – lembra Marcelo.

Antes, no período de entressafra das competições, ambos mantinham a forma e a conversa em dia nos passeios de bicicleta pela cidade.

– Comentamos outros assuntos, falamos de trabalho, lembramos de ex-companheiros, onde eles estão hoje, mas nada de jogo. E nada do clube um do outro.

As conversas na pracinha só não se estendem até a praia por questões burocráticas.

– Nossa amizade é muito grande. Só não dá para viajar com as famílias nas férias porque a minha mulher é professora. Nossas folgas não batem com as dela – conta Lauro.

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E se Marcelo já é elogiado como um grande amigo por Lauro, imagine como atleta:

– O Monge (apelido de Marcelo) é trabalhador, um cara extremamente profissional. Estou muito feliz por ele estar jogando bem. É um cara técnico, inteligente, habilidoso, um jogador que está em extinção no futebol.

O que pode soar como tabu a se infiltrar na amizade, Marcelo designa por outro nome:

– Respeito. Dentro de campo, o Laurinho é guerreiro. Ele quer vencer, e eu também. E o respeito que eu posso ter por ele é fazer o meu melhor jogo.

Pois justamente a compreensão de que jogo e amizade não podem contaminar um ao outro é que permitirá que o mate volte a ser compartilhado.

– A gente está muito preocupado com essa questão de torcida. O momento dos dois clubes é difícil, então temos que ter muita tranquilidade. Guerra tem que ser só dentro de campo, pelo amor de Deus – pede Marcelo.

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– Ele vai lutar pela família dele, e eu, pela minha. Vai ser uma disputa muito leal. Acredito que tudo vai ser muito lutado, guerreado, mas limpo e lícito – completa Lauro.

Nada que abale a parceria.

– Sexta, eu e o Marcelo vamos continuar sendo amigos – encerra o Baixinho.

adao.junior@pioneiro.com

gabriel.izidoro@pioneiro.com