A Polícia Federal prendeu dois suspeitos pelo desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips, colaborador do jornal The Guardian, e de Bruno Pereira, membro da Unijava e servidor em licença da Fundação Nacional do Índio (Funai). Identificados como “Churrasco” e “Jâneo”, os dois pescadores foram detidos no início da noite desta segunda-feira (6). As informações são do jornal O Globo.
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Os dois foram levados para a cidade de Atalaia do Norte e estão em poder da Polícia Civil. O indigenista tinha reunião marcada com um homem chamado “Churrasco” apara consolidar trabalhos conjuntos entre ribeirinhos e indígenas na vigilância do território, bastante afetado pelas intensas invasões.
Eles se encontrariam na comunidade São Rafael, no Vale do Javari, e Bruno Pereira compareceu acompanhado do jornalista. Desde que os dois pararam no local, eles não foram vistos novamente.
“Depois partiram rumo a Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas. Assim, deveriam ter chegado entre 8h e 9h na cidade, o que não ocorreu”, diz um comunicado das instituições.
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“Enfatizamos que na semana do desaparecimento, conforme relatos dos colaboradores da Univaja, a equipe recebeu ameaças em campo. A ameaça não foi a primeira, outras já vinham sendo feitas a demais membros da equipe técnica da Univaja. As diligências estão sendo empreendidas e serão divulgadas oportunamente”, disse em nota a Polícia Federal, acionada após o desaparecimento.
A Funai realiza buscas desde a manhã desta segunda-feira (6), com três servidores e mais dois agentes da Força Nacional. A Univaja afirma que já enviou duas equipes de busca, que não encontraram vestígios deles. Segundo relatos obtidos por essas expedições, eles foram avistados na comunidade de São Gabriel, indo em direção a Atalaia do Norte.
— Tenho um filho de três anos e um de dois, só penso nesse momento que ele retorne bem, por causa dos meninos. Ele tem também uma filha de 16 anos. Ele precisa voltar para casa — afirmou à Folha de S.Paulo Beatriz de Almeida Matos, socióloga e companheira de Bruno.
— Eu conheço bem a região, sei que podem acontecer vários acidentes, mas estou apreensiva por causa das ameaças que ele sofria. Quero que todo o esforço possível seja feito para encontrar ele e o Dom. É importante rapidez — completa ela, que também atuou com povos indígenas na região por muitos anos.
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Bruno fez carreira na Funai, sobretudo naquela região, mas estava de licença não remunerada desde o final de 2019.
Pessoas que o conheciam disseram à Folha de S.Paulo sob condição de anonimato que ele decidiu se afastar da entidade após ser exonerado do cargo que ocupava, a coordenação geral de Índios Isolados e de Recém Contatados, onde esteve por 14 meses.
Em 2019, ele chefiou a maior expedição para contato com os isolados em 20 anos. Seus colegas dizem que ele estava insatisfeito com as dificuldades que tinha para atuar, que sofria pressão de superiores, e que por isso decidiu ir atuar diretamente com a Univaja.
Questionada, a fundação afirmou que acompanha o caso e colabora com as buscas. “Embora o indigenista Bruno da Cunha Araújo Pereira integre o quadro de servidores da Funai, ele não estava na região em missão institucional, dado que se encontra de licença para tratar de interesses particulares”, afirmou a entidade em nota.
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As ameaças que ele sofreu recentemente não são novidades, segundo as pessoas que o conheciam. Ele sempre atuou em ações de fiscalização e repressão a atividades ilegais nas Terras Indígenas da região.
A base da Funai que da qual ele retornava, a de Itui, já foi alvo de ataques a tiros, em 2018. Em 2019, um funcionário da frente de proteção Etnoambiental Vale do Javari, da qual Bruno também já fez parte, foi assassinado na cidade de Tabatinga, no Amazonas.
A sensação de quem atua com a questão indigenista é de que a violência vem escalando em todo o Brasil de forma especial neste ano. Exemplo disso são os casos relacionados aos yanomami, em Roraima, e os ataques registrados no Pará.
— Dom Phillips, um excelente jornalista, colaborador regular do Guardian e um grande amigo está desaparecido no Vale do Javari no Amazonas após ameaças de morte ao seu colega indigenista, Bruno Pereira, que também está desaparecido — afirmou Jonathan Watts, editor do Guardian.
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