Há dois meses, a decapitação do adolescente Israel de Melo Júnior, 16 anos, um dos crimes mais chocantes registrados nos últimos anos em Joinville, fazia com que a cúpula da Segurança Pública do Estado anunciasse uma série de medidas. Elas iam do reforço nas operações de investigação à criação de uma delegacia especializada em homicídios.

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O rapaz foi assassinado no dia 2 de fevereiro, tendo a cabeça arrancada a machadadas por integrantes de uma facção criminosa e, posteriormente, colocada dentro de uma mochila e abandonada em uma rua movimentada do bairro Jardim Paraíso.

Até agora, o corpo da vítima não foi encontrado. A decapitação foi filmada pelos criminosos e o vídeo circulou pelas redes sociais e por aparelhos celulares, um deboche que chocou os joinvilenses. A reação de entidades políticas e empresariais da cidade foi uma espécie de “basta”, com um pedido contundente para que o governo do Estado agisse.

Uma semana depois, o governador Raimundo Colombo já tinha assinado o decreto que criava a Delegacia de Homicídios na cidade.

Passados dois meses e uma série de operações especiais, a propagada delegacia continua apenas no papel. A expectativa do delegado regional da Polícia Civil, Laurito Akira Sato, é a de que ela esteja pronta e em operação no prazo de dez dias.

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Enquanto isso, as polícias Civil e Militar se apoiam em um índice que mostra avanços na investigação, nas prisões e nas apreensões realizadas nos últimos 40 dias.

É o chamado índice de resolubilidade, ou seja, quando o(s) autor(es) de um assassinato, por exemplo, são presos em flagrante ou acabam respondendo a um inquérito depois de investigados, identificados e presos pela Polícia Civil.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP), o índice de resolubilidade dos assassinatos cometidos em 2015 na cidade está em torno dos 24%. Embora o ano esteja longe do fim e não haja uma maneira de comparar diretamente com o ano passado inteiro, se usado o mesmo número, apenas em relação aos homicídios, o índice de resolubilidade de 2016 está perto dos 70%.

Isso significa que dos 36 homicídios registrados entre janeiro e março, mais de dois terços estão com autoria e coautoria identificadas e com inquéritos bem encaminhados para serem enviados à Justiça.

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– Tenho certeza de que nós estamos no caminho correto. Principalmente por causa do número de ações e de procedimentos instaurados – diz o delegado Akira.

Segundo ele, a estrutura física da delegacia de homicídios está prestes a ser concluída e vai ficar na sede da antiga Delegacia de Delitos de Trânsito, no bairro Floresta. Porém, mesmo sem a estrutura concluída, ele garante que há mais investigação e que as ações estão demonstrando resultados positivos.

– Estamos nos trâmites finais de despachos (para a inauguração da nova delegacia). Ela está passando por uma melhoria em alguns detalhes. Estamos aproveitando para consertar portas, piso, melhorar a pavimentação do estacionamento, reformando ambientes internos, retirando arquivos. Tudo está sendo feito para melhorar a estrutura – ressalta o delegado.

‘Nós vamos responder a altura’, diz Colombo sobre homicídios em Joinville

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Akira diz que houve avanços no combate à violência

Para o delegado regional Laurito Akira Sato, ainda não é possível divulgar números exatos que mostrem quanto avançou o confronto com os criminosos na cidade, especialmente no que se refere às facções Primeiro Comando da Capital (PCC) e Primeiro Grupo Catarinense (PGC), que têm disputado espaço e, principalmente, o controle do tráfico de drogas em Joinville.

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– Num momento oportuno, vamos divulgar os números, mas entendemos que já houve um avanço. Da mesma forma em relação aos homicídios, em que pese não ter diminuído os números. As investigações estão a todo vapor e os resultados são visíveis – destaca.

O secretário de Segurança Pública do Estado, César Grubba, garantiu, em uma de suas últimas visitas à cidade, que a ação da secretaria prevê, sempre que necessário, apoio e reforço, que poderão ser mobilizados de Florianópolis.

Segundo Grubba, são três objetivos estratégicos: a secretaria apoiará com inteligência e envio de recursos especiais; a Polícia Civil ampliará as equipes de investigação com foco nas atividades de organizações criminosas; e a Polícia Militar intensificará operações preventivas e repressivas nas áreas de maior incidência.

AS MEDIDAS

O que foi providenciado desde o começo do ano em relação à segurança pública de Joinville

Delegacia de Homicídios

– Ainda não está concluída. O governador Raimundo Colombo assinou o decreto no início de fevereiro. Segundo o delegado regional Akira Sato, faltam alguns detalhes e a estrutura deve estar funcionando completamente em dez dias.

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Processos

– Com a reestruturação de algumas delegacias e a criação da Delegacia de Homicídios, a Polícia Civil está redirecionando cada processo, repassando para equipes especializadas ou que tenham a ver com a localização dos crimes, a “circunscrição”, em linguagem policial. Assim, alguns processos que estavam parados ganharam um responsável.

Plantão 24 horas para BOs na Delegacia da Mulher

– Esta é uma das mudanças que tem dado melhor resultado. Embora não seja visível para a população, houve aumento do contingente de policiais dedicados ao trabalho de investigação. Na prática, das oito delegacias que abriam 24 horas por dia para fazer o registro de boletins de ocorrência, só uma continua centralizando o atendimento: a Delegacia da Mulher, localizada na rua São Paulo, no bairro Bucarein.

– Até hoje, não tive um furo de plantão. Ou seja, tem funcionado direto. Não tive um único dia de delegacia fechada, situação que ocorria com alguma frequência nas delegacias dos bairros. Eram oito pontos abertos 24 horas por dia ou que deveriam ficar abertos 24 horas por dia e que, na prática, quase todas fechavam noite sim, noite não, em razão da falta de efetivo – lembra o delegado.

Mais prazo

– Segundo o delegado Akira Sato, ainda não é possível mensurar ou comparar os resultados do trabalho feito em 2016 com outros anos. Para ele, a eficiência das ações adotadas ficará mais visível em dezembro deste ano ou janeiro do ano que vem.

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Investigação

– A Polícia Civil não fala em números, mas garante que houve mais prisões, mais apreensões e mais procedimenos adotados para que os criminosos sejam punidos. Em relação ao trabalho de flagrantes, feitos pela Polícia Militar, o número também tem aumentado. Só o número de prisões em flagrante feitas na Central de Polícia neste ano chegou a 300 lavraturas. Isso não significa que 300 pessoas foram ou continuam presas, mas que elas terão de explicar algum fato, seja por meio de inquérito ou por meio de termo circunstanciado (medida aplicada para delitos de menor importância).

Resolubilidade de homicídios*

24% em 2015

70% em 2016**

(*) Envolve o flagrante feito pela Polícia Militar e os resultados da investigação, identificação e prisão feitas pela Polícia Civil.

(**) Primeiros três meses do ano.

Fonte: Secretaria de Segurança Pública (SSP)