A deficiência de vitamina A, aquela encontrada, por exemplo, no brócolis, no caju e na cenoura, pode causar cegueira e infecções em crianças. De acordo com uma pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, em cada três recém-nascidos estudados, dois sofrem com a carência da substância. O levantamento leva em consideração os níveis estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que avalia o problema quando uma pessoa, independentemente da idade, apresenta um nível da vitamina no sangue de 0,70 micromol/litro ou menor.

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Para avaliar os resultados, os pesquisadores estudaram 61 pares de mães e filhos residentes na Vila Lobato, periferia de Ribeirão Preto. Na primeira etapa, 20 a 30 dias após o nascimento das crianças, um grupo de mulheres recebeu suplementação de vitamina A, via oral, e o outro grupo, um placebo. Em seguida, foram medidos os níveis de vitamina A no sangue e no leite de todas as mães. Três meses após o início da pesquisa, os pesquisadores dosaram a quantidade de vitamina A no leite e no sangue das mães e das crianças de ambos os grupos. No que recebeu o placebo, a deficiência era de 6,7% e, ao fim do estudo, de 16,7%. Já nas mulheres suplementadas, o percentual, que era de 6,5%, baixou para 3,2%.

Segundo o pediatra Ivan Ferraz, também orientador do estudo, a causa mais provável, uma vez que não foi realizada uma pesquisa dos hábitos alimentares, deve ser o fato de as mães não ingerirem as quantidades suficientes de vitamina A, ainda na gravidez, para suprir suas necessidades e as dos filhos.

– A ingestão insuficiente é a causa mais comum da deficiência de vitamina A em todo o mundo – salienta Ferraz.

O médico ressalta que a falta da substância, principalmente em crianças, pode levar à diminuição das defesas do organismo, ocasionando infecções respiratórias e diarreicas em estados graves.

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– Em casos mais extremos, a deficiência de vitamina A pode levar à cegueira – alerta.

O índice recomendado da concentração da vitamina não pode ser inferior a 0,70 micromol/litro no sangue e, no leite, a 1,05 micromol/litro. No começo da pesquisa, o índice era de 0,64 nos bebês e 1,04 nas mães. Após a intervenção, o número foi de 1,17 nas mães, com 1,56 no leite. O pediatra explica que, na literatura médica, várias autoridades defendem a quantidade mínima de 0,35 micromol/litro para crianças menores de 6 meses de idade, ao contrário do que recomenda a OMS.

– Crianças nessa faixa etária apresentam níveis menores de vitamina A. Entretanto, no nosso estudo, a maioria das crianças tinha níveis maiores que 0,35 micromol/litro – afirma Ivan.

A nutricionista Thalia Manfrin, autora do estudo, que ganhou o primeiro lugar no prêmio Henri Nestlé de 2010 na categoria Nutrição em Saúde Pública, diz que bebês nascem com baixas reservas hepáticas de vitamina A, mesmo quando as mães ingerem a quantidade correta.

– A vitamina é transferida da mãe pela placenta, mas é muito limitada – explica.

Para o pediatra, os resultados não podem ser extrapolados para outros estados, embora sirvam como alerta para que se busquem informações a respeito dessa carência em outras regiões do país.

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Dicas

Confira as principais fontes alimentares de vitamina A:

* Escarola

* Espinafre

* Mamão

* Manga

* Cenoura

* Pêssego

* Fígado de aves e outros animais

* Salsa

* Melão

* Abóbora

* Acelga

* Brócolis

* Broto de alfafa

* Caju

* Abacate

A carência de vitamina A pode acarretar os seguintes problemas

* Distúrbios na percepção das cores

* Secura nos olhos

* Fotofobia (sensibilidade à luz)

* Cegueira noturna

* Problemas nas células da pele

* Queda na resistência do sistema imunológico