Em Santa Catarina, a produção de energia e a agropecuária são os setores que mais emitem gases do efeito estufa. Porém, essas duas atividades podem se juntar para diminuir os efeitos sobre o meio ambiente. Através dos sistemas agrovoltaicos, que combinam a produção de energia solar com a agricultura, é possível tornar os dois setores mais poluentes do Estado um pouco mais sustentáveis.
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— Se você consegue aliar uma produção agrícola sustentável, com uma geração fotovoltaica (energia solar), é uma dupla certificação de que nós estamos caminhando para essa transição, numa tentativa de uma economia que chegue à neutralidade de carbono — diz Caio Victor Vieira, articulador político do Instituto Talanoa.
Na propriedade de Cezar e Teresinha Talian, no interior de Coronel Freitas, no Oeste catarinense, a família cria vacas de leite, frangos, produz milho e, desde 2020, energia elétrica através de placas solares. De acordo com a família, com os sistemas agrovoltaicos, a redução na conta de luz no final do mês é de 80%.
— A ideia foi do consumo alto que nós tínhamos de energia e daí quando vieram os caras da cidade oferecendo e explicando como é que funcionava, topamos o desafio e colocamos elas [as placas solares] — diz Cezar.
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Gás metano se torna aliado na produção de energia
Os gases do efeito estufa liberados na produção de energia e agricultura causam um desequilíbrio com os demais elementos presentes na atmosfera. O processo impede que o calor do sol que vem para o nosso planeta, volte para o espaço, como naturalmente acontece há milhões de anos. O resultado é o aquecimento global.
De acordo com o Programa Copernicus, um projeto da União Europeia que analisa as mudanças climáticas, o planeta está há dez meses com temperaturas globais médias um grau e meio acima do que costumava ser registrado no período pré-industrial.
— É catastrófico. A cada grau que você tem, são milhares de pessoas que vão passar fome por conta dos sistemas agroflorestais que não conseguem mais responder a um clima completamente colapsado. São as inundações, é o branqueamento de corais, é o aumento do nível do mar, é a perda de recursos no mar. Tudo que a humanidade precisa pra manter-se viva fica diretamente afetado a cada grau que sobe — afirma Caio Victor.
Entre os gases do efeito estufa, um dos mais prejudiciais é o gás metano (CH4). Uma das principais fontes de emissão deste gás é a pecuária. Ele é produzido conforme as bactérias decompõem os dejetos de animais de produção.
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O município de Concórdia, no Oeste, tem a maior produção de carne suína de Santa Catarina, e uma das maiores do Brasil. São 440 mil cabeças por ano. Para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, Rodrigo Benelli e seu pai Edemar conseguiram encontrar uma solução para emissão do metano em sua propriedade: uma usina de biogás.
Na propriedade existem três biodigestores que produzem energia elétrica para sete galpões de suínos e para duas casas, a do Rodrigo e a de Edemar e ainda sobra energia para vender para cinco estabelecimentos comerciais da cidade, gerando um lucro que pode chegar a R$ 15 mil por mês.
— A gente consegue, então, produzir a nossa própria energia e um excedente também digamos que gera uma boa fonte de renda — diz Rodrigo.
Os dejetos das granjas, que abrigam cerca de 5.300 suínos, são levados até os biodigestores da propriedade. Lá eles fermentam naturalmente, o gás produzido é canalizado até o motor que queima o metano, produz eletricidade e libera gás carbônico (CO2), um gás cerca de 27 vezes menos prejudicial do que o metano.
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O que sobra dos dejetos também é reaproveitado. Depois de passar pelos biodigestores, a sobra vai para um reservatório chamado de esterqueira, onde ele é bombeado para ser utilizado na fertilização, evitando assim que seja utilizado fertilizante químico na lavoura.
— Na época que se investia a gente não pensou só na fonte de renda, se pensou no meio ambiente. E, assim, a gente consegue utilizar ele gerando energia e ocupando de certa forma dentro da propriedade mesmo — finaliza Rodrigo.
*Sob supervisão de Luana Amorim
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