O desaparecimento da menina Emili Anacleto completa dois anos neste sábado e continua intrigando familiares e a Polícia Civil de Jaraguá do Sul e Barra Velha, que trabalharam no caso. Emili desapareceu no dia 21 de maio de 2014, depois de ser levada pelo pai, Alexandre Anacleto, da casa de onde a menina vivia.
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Ele levou a menina de dois anos da casa da mãe, Josenilda Miranda, e disse que nunca mais a veriam. A menina, que tinha dois anos na época, chegou a ser vista por testemunhas em um bar em Barra Velha. Mas três dias depois do sumiço, o corpo de Alexandre foi encontrado carbonizado dentro de seu carro, que também foi queimado, na praia de Itajuba, em Barra Velha.
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Começava, então, uma busca que envolveu a Polícia Civil da região, a Polícia Federal e até a Homeland Security Investigation, órgão do governo norte-americano que trabalha com desaparecidos. Fotos da menina foram disponibilizadas em aeroportos do mundo todo e a Organização Internacional de Polícia Criminal, a Interpol, fez um alerta. Mas nenhum sinal positivo da menina foi encontrado até agora.
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Quando o pai a levou, Emili tinha dois anos
O delegado de Barra Velha, Wilson Masson, que trabalhou no caso nos primeiros dias, principalmente a partir da informação de que o pai da menina estava no carro queimado na praia, tem convicção de que Alexandre deu fim à menina.
– A conclusão do inquérito é de que ele realmente se matou. Quando ele saiu, deixou claro para a mãe que iria matar a menina e se matar. Agora, a gente não pode ter certeza absoluta. Ou essa menina vai aparecer um dia, se ele não a matou, ou ninguém mais vai saber se ele realmente matou e enterrou o corpo em algum lugar. A verdade do que aconteceu morreu com ele. A dinâmica dos fatos que a gente estabeleceu me dá convicção de que ele cumpriu a promessa – diz o delegado.
O que intrigou a polícia do Norte catarinense foi a coincidência da maneira como Alexandre morreu e um boletim de ocorrência feito por ele dias antes.
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No dia 17 de março de 2014, dois meses antes do sumiço da menina, Alexandre registrou um boletim de ocorrência em que afirmou que a família da ex-mulher iria matá-lo e colocar fogo no carro. Mas, ao final do inquérito, nada ficou comprovado.
A polícia chegou em dois adolescentes, de 13 e 15 anos, que afirmaram ter colocado fogo no automóvel. Mas negaram ter matado Alexandre. Segundo o delegado Wilson Masson, da delegacia de Barra Velha, os garotos encontraram o corpo debruçado no volante, com marcas de disparos de arma de fogo no braço direito e no peito.
Segundo o depoimento, os adolescentes teriam revirado o corpo em busca de objetos de valor e, com medo que as digitais ficassem registradas, colocaram fogo no veículo e no corpo.
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Polícia esgota as possibilidades
A investigação do desaparecimento da menina Emili Anacleto ficou sob responsabilidade das delegacias de Pessoas Desaparecidas, em Florianópolis, e da Delegacia de Proteção à Criança, ao Adolescente, à Mulher e ao Idoso (DPCami), de Jaraguá do Sul.
Durante o primeiro ano, a criança foi procurada em toda a região de Jaraguá do Sul, no Paraná e na região da Capital. Praticamente todos os familiares e conhecidos do pai da menina foram ouvidos. A mãe Josenilda e integrantes das duas famílias chegaram a ser investigadas.
Segundo a delegada Milena de Fátima Rosa, o trabalho foi esgotado em todos os sentidos, tanto de investigação direta, quanto de pistas ou denúncias feitas. Em dois anos, foram apreendidos e periciados 14 aparelhos de telefone celular e um computador de familiares de Emili por parte de mãe. Também foram coletados 35 depoimentos, de testemunhas dos últimos passos dados por ela e parentes. Logo no começo, houve uma série de denúncias e pelo menos 20 locais foram vistoriados.
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Após análise do Instituto-geral de Perícias (IGP), não foram constatadas provas contundentes nos aparelhos de telefone, nem no computador. Embora haja contradições em alguns depoimentos, não há nada que possa responsabilizar alguém, e em nenhum dos locais vistoriados,havia qualquer pista do corpo ou da menina.
Segundo Milena, mesmo assim a Polícia Civil mantém a esperança de encontrar a menina.
– A gente esgotou todas as possibilidades de investigação, tentativas de localizá-la, denúncias anônimas, testes de DNA, alerta da Polícia Federal, quebra de sigilos bancários, tudo. Não temos pistas. Mas ainda trabalhamos com a possibilidade de que a menina esteja viva e tenha sido entregue para outra pessoa – disse Milena.
Tecnologia para novo retrato
De acordo com a delegada, um novo capítulo pode ser iniciados nos próximos dias, quando a Polícia Civil de SC concluir um retrato falado de progressão de idade _ como Emili estaria hoje, com pouco mais de quatro anos. A ideia é divulgar essa foto, feita de maneira eletrônica e com alto grau de similaridade, até fora do País.
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– Agora, nesta data de dois anos, as pessoas vão lembrar o caso, vão olhar para as fotos e, quem sabe, surge algo novo – diz a delegada.
A mãe de Alexandre Anacleto, Marlene Anacleto, avó de Emili, disse nesta semana que não tem muitas esperanças, mas fé em Deus.
– Envelheci uns dez anos nesse tempo. A gente tem um outro netinho, mas poderia ter mais 20 netos que a Emili continuaria fazendo muita falta – disse a avó paterna.
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Segundo Marlene, todo mundo colaborou na investigação, mas o pouco que se sabe sobre o paradeiro da menina tem deixado toda a família sem esperança.
– Não sabemos de mais nada. A polícia só nos diz que estão investigando. A gente até perde a esperança – diz a avó.
A mãe de Emili foi procurada pela reportagem por meio de telefones e redes sociais, mas não respondeu a nenhum pedido de entrevista.
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Teste de DNA foi a última pista
Em setembro do ano passado, depois de uma série de manifestações de internautas, um agente da Homeland Security Investigation, órgão do governo norte-americano que trabalha com desaparecidos, veio a Jaraguá do Sul colher amostras de DNA da mãe de Emili. Havia a suspeita de que uma menina encontrada morta nos Estados Unidos pudesse ser a garotinha de Jaraguá do Sul.
A idade não batia, e não havia qualquer suspeita de que a menina pudesse ter ido parar no exterior. Mesmo assim, foi feito um exame de DNA que descartou qualquer possibilidade de ser a mesma criança. A menina norte-americana foi achada carbonizada no Estado de Massachusetts, em julho.
O que motivou o novo passo na investigação foi a divulgação, na internet, de uma imagem da reconstituição facial da menina norte-americana.
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Mesmo não sendo comprovada qualquer relação entre Emili e a criança encontrada morta nos Estados Unidos, as informações genéticas ficarão disponíveis em um banco de dados americano. Assim, podem ser comparadas com futuros casos suspeitos.
PISTA FINAL
A última ligação telefônica de Alexandre Anacleto foi feita para a mãe dele no dia 22 de maio, um dia depois do desaparecimento da menina. Na conversa, ele dá a entender que iria desaparecer:
– Mãe, você me ligou?
– Meu filho, onde você está? Volta logo, senão a polícia vai atrás de ti.
– Eu não vou voltar. Eles vão tirar a minha filha de mim.
– Onde ela está?
– Está no carro. Tá tudo bem. Cuida do pai para mim.
Depois disso, nenhum outro contato foi feito.
COMO AJUDAR
Como a polícia mantém a esperança de encontrar a menina viva, fotos continuam sendo distribuídas. Informações ou pistas sobre a criança podem ser dadas para o DPCami (47) 3370-0331 ou para o disque denúncia da Polícia Civil, no telefone 181.
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