De local de diálogo, protesto e luta em 2011, a Praça Tahrir, no Cairo, converteu-se dois anos depois numa paisagem acinzentada em meio a um clima de desesperança. O contraste é revelado pela bacharel em Relações Internacionais Gisele Branda, gaúcha de Carazinho, que estava no Egito nos dias tumultuados da queda do ditador Hosni Mubarak e hoje está de volta à capital.

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Num depoimento por e-mail, ela diz: “Existe grande insatisfação em razão dos problemas econômicos, do aumento do desemprego e principalmente da falta de justiça em relação às mortes e maus tratos sofridos por manifestantes desde o início dos protestos, em janeiro de 2011. Muitos jovens têm intenção de deixar o Egito por medo de que o país se torne cada vez mais religioso, comandado pela Irmandade Muçulmana”.

O cansaço e o desencanto da geração que viveu 2011 parecem ser generalizados. Uma jornalista que abrigou colegas durante a revolução e mantinha um blog de análise política não faz postagens desde outubro.

– Tornei-me incrivelmente deprimida quanto a escrever sobre o Egito – afirma, pedindo para não ser identificada.

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Presidente convocou eleições parlamentares para abril

A praça símbolo da Primavera Árabe perdeu a exclusividade como local de concentração de oposicionistas. Ainda há manifestações no local às sextas-feiras, mas os que desejam protestar contra o governo do presidente Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, podem ser vistos diante do Ministério do Interior ou do palácio presidencial, mais afastado do centro.

A fim de mostrar que ainda desfruta de apoio popular, Mursi convocou na quinta-feira uma nova eleição parlamentar, que ocorrerá entre os meses de abril e junho. A Assembleia do Povo eleita em janeiro de 2012 foi dissolvida seis meses depois em razão da declaração de inconstitucionalidade do pleito.

Em novembro, os analistas Hussein Agha e Robert Malley publicaram na revista The New York Review of Books um artigo sobre o Egito com um título significativo: “Isto Não É uma Revolução”. Embora traduza uma opinião corrente, a abordagem não é unânime.

– É uma revolução no sentido de que é um processo revolucionário. Não irá parar até que tenha havido uma transformação do sistema político – sustenta, por telefone, o professor Edward Owen, do Departamento de História da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.

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