Dois a cada três atropelamentos registrados em Blumenau neste ano aconteceram na faixa de pedestres. É o que mostra um levantamento da Secretaria de Trânsito e Transportes (Seterb) feito a pedido do Santa

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O dado reflete o desrespeito de motoristas mesmo quando as pessoas a pé estão em um locais onde a preferência é delas, aponta especialista ouvida pela reportagem. 

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Nos primeiros meses de 2022, três casos ganharam repercussão e dois terminaram em morte. Charles Longen, 52, e Rotraud Hass, 74, tiveram a responsabilidade de atravessar a rua na faixa. Mesmo assim foram atingidos por carros e não resistiram aos ferimentos.

Karen Saori Kakihara, 31, escapou com vida, mas passou um mês internada. 

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Os episódios seguidos chamaram a atenção das autoridades, que decidiram abordar os cuidados com os pedestres durante o Maio Amarelo. Uma das ações da campanha nesta sexta-feira (13) levou a “morte” às ruas de Blumenau.

O objetivo? Alertar que lugar de pedestre é na faixa e reiterar aos que estão no volante que estas sinalizações dão prioridade a quem quer atravessar a rua e precisam ser respeitados.

— É preciso reiterar a responsabilidade coletiva para um trânsito seguro — diz o secretário da Seterb Alexandro Fernandes.

Os números do trânsito em Blumenau

A quantidade de acidentes no perímetro urbano está em queda quando analisados os dados entre 1º de janeiro e 22 de abril deste ano em relação há cinco anos. Passou de 831 em 2018 para 727 agora. Mas quando se trata de atropelamentos, a redução não acompanha. São, em média, 30 nos quatro primeiros meses de cada ano. 

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E um cenário se repete: dois terços desses casos sempre acontecem na faixa de pedestres, como é possível observar no gráfico abaixo.

— Isso é alarmante. Mostra que o motorista não está tendo o menor respeito com os outros usuários do trânsito. A impressão é que ocorre um fenômeno de isolamento do motorista quando ele entra no veículo. A questão da velocidade, da falta de cuidado para com a vida, porque quando ele dirige distraído, não olha a placa, não olha pro lado, não vê pedestres — lamenta Márcia Pontes, especialista em Trânsito. 

Mas o que explica a maioria dos atropelamentos ocorrer justamente onde o pedestre deveria estar protegido? Falha na sinalização viária, desatenção de quem está ao volante ou ausência de fiscalização nas ruas? 

O secretário da Seterb diz que a prefeitura não tem um levantamento apontando o que levou aos atropelamentos e pontua que essa investigação fica a cargo da polícia. 

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Mesmo assim, Fernandes garante que as indicações das faixas estão dentro do desejado e aponta o telefone e o pé no acelerador como vilões nessa história. Ressalta ainda que os atropelamentos graves recentes ocorreram em locais bem sinalizados, até com semáforos e sem histórico de ocorrências. 

— A cidade de certa forma está toda muito bem sinalizada, seja horizontal ou verticalmente. De fato, sabemos que com o passar do tempo um dos grandes problemas do trânsito, além da falta de respeito e de paciência, é o uso de celular. E isso é um agravante que precisamos coibir — frisa o secretário. 

Show de imprudência

O delegado Douglas Teixeira apurou as circusntâncias do acidente que matou Charles Longen. Concluiu que houve condução imprudente e acredita que o motorista estava acima do limite de velocidade quando atingiu o pai de uma acadêmica da Furb que estava em Blumenau para encontrar um apartamento para a filha. 

A garota teve apenas ferimentos físicos leves. Porém, emocionalmente, o abalo é gigante. A jovem não consegue falar sobre o dia trágico. O condutor está livre. Na delegacia, optou por ficar em silêncio, mas foi indiciado por homicídio culposo e por lesão corporal.

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Já no caso da enfermeira Karen Saori Kakihara, ainda em tratamento por causa das sequelas do acidente, o delegado Isomar Amorim conta que os indícios apontam que o motociclista furou o sinal o vermelho e atingiu a vítima. Gravações mostram os carros parando e o homem passa direto, conta o investigador. 

Ao ser atingida, a jovem chegou a girar no ar antes de atingir o chão de tão forte a batida. O piloto vai responder em liberdade por lesão corporal culposa. 

O atropelamento que levou à morte de Rotraud Maria Hassa ainda está sendo apurado. 

Seterb promete fiscalização eletrônica

Respeitar faixa de pedestres é lição básica dentro das autoescolas. E para quem vai cruzar as ruas, é fundamental atenção, olhar para os dois lados, se resguardar de que está sendo visto pelos motoristas. É o que defendem as autoridades. 

Mas a Secretaria de Trânsito de Blumenau sabe que fiscalização nas estradas é tão importante quanto e a cidade está sem controle eletrônico há dois anos

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Alexandro Fernandes se mostra otimista de que a situação está com os dias contados. Espera em setembro ou outubro de 2022 trazer de volta as lombadas de controle de velocidade. Serão instaladas em 45 pontos da cidade ainda em fase de estudos. Os semáforos também devem ganhar equipamentos para pegar os “furões” de sinal. 

Além disso, garante que o ano deve terminar com 50 novas faixas elavadas. 

Isso vai resolver o problema?

A resposta da especialista em Trânsito Márcia Pontes é enfática: não. Integrante do movimento “Blumenau Respeita a Faixa”, criado em março deste ano, ela defende um trabalho permanente de conscientização de motoristas e pedestres. 

As ações são isoladas, no ponto de vista dela, e pouco se aprende com as tragédias que ceifam vidas no trânsito com muita frequência. O cenário ideal seria o trabalho contínuo, com diferentes públicos e mensurando resultados. 

— Uma palestra na escola ajuda? Sim. Mas tem que se preocupar também com a população não escolar, que é muito maior. Não podemos esperar que essas crianças cresçam para fazer trânsito seguro. O que precisa é colocar segurança trânsito no topo das prioridades. Trabalhar junto com a sociedade todo dia, em casa, no trabalho, conversar sobre isso — argumenta. 

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Márcia diz que a realidade hoje é que “as pessoas estão indo para o trânsito intolerantes. E todo mundo paga essa conta”. 

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