A doença de Parkinson é a segunda doença degenerativa, crônica e progressiva do sistema nervoso central mais frequente no mundo, atrás apenas do Alzheimer. Descrita pela primeira vez em 1817 pelo médico britânico James Parkinson, tem como principal causa a morte de células de uma área específica do cérebro conhecida como “substância negra”, responsável pela produção de dopamina, um neurotransmissor que, entre outras funções, controla os movimentos. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 4 milhões de pessoas vivem com a doença, sendo cerca de 200 mil apenas no Brasil.
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A doença é conhecida por sinais e sintomas característicos, como a perda de controle motor, tremores involuntários em momentos de repouso – presente em 70% dos diagnósticos –, lentidão nos movimentos (bradicinesia), rigidez e instabilidade postural.
Segundo o médico neurocirurgião do Hospital Santa Catarina de Blumenau, Humberto Kluge Schroeder, existem ainda outros sintomas não motores, como distúrbios do sono, ansiedade, depressão e alucinações, alterações do olfato, dificuldade para engolir, problemas na bexiga e no intestino, dor, e também a demência, que pode se desenvolver em cerca de 50% a 80% das pessoas com Parkinson devido a depósitos de proteínas anormais chamadas “corpos de Lewy” no cérebro.
Adriel Ghizoni Rohling, médico veterinário e empresário, recebeu o diagnóstico da doença em 2018, um ano após o aparecimento dos primeiros sintomas.
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— Eu tinha 42 anos na época, corria maratonas e, quando estava me preparando para uma das corridas, minha perna começou a ficar mais rígida, não desempenhava igual a outra. Em seguida, comecei a ter um tremor leve nos dedos. Com isso, busquei um médico neurologista que prontamente identificou que era Parkinson. Hoje em dia, conhecendo mais sobre a doença, vejo que eu tinha sintomas há muito tempo antes do diagnóstico, eu tinha muito cansaço, muito estresse, muita fadiga muscular, dores no corpo, sonolência.
Hoje, aos 49 anos, Adriel faz acompanhamento médico e tratamento com medicação. Ele conta que os sintomas que mais afetam sua rotina são, principalmente, os emocionais, como dificuldade de concentração, de tomar decisões, depressão e perda do sono.
— Como minha função no trabalho está muito relacionada à liderança e tomada de decisões, esses sintomas não motores, que não são visíveis, interferem bastante.

Tratamento e cirurgia
A progressão da doença de Parkinson é descrita em estágios, usando escalas como a de Hoehn e a de Yahr para monitorar o avanço ao longo dos anos. Conforme o Dr. Humberto Kluge Schroeder, do HSC Blumenau, nem todos os pacientes chegam às fases mais avançadas e debilitantes da doença, que deve ser acompanhada em tratamento individualizado de acordo com cada caso específico.
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— O tratamento não é só medicamentoso, e o paciente precisa de uma equipe multiprofissional, formada por neurologista, de preferência com experiência em Distúrbios do Movimento, neuropsicólogo, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta, educador físico, neurocirurgião e outros profissionais. Em muitos casos, há tratamento cirúrgico, conhecido como estimulação cerebral profunda, ou DBS, deep brain stimulation. Quando bem indicada e realizada, talvez seja a ferramenta mais poderosa no controle dos sintomas motores, e funciona para a maioria dos pacientes, devolvendo autonomia, independência e qualidade de vida, além de potencializar o efeito das medicações.
A DBS envolve a implantação de eletrodos no cérebro, emitindo impulsos elétricos que regulam a atividade neural anormal associada ao Parkinson. Embora a doença não tenha cura, a decisão de se submeter à cirurgia deve ser ponderada pelo paciente e pela equipe médica, avaliando os benefícios, riscos e expectativas individuais. De modo geral, o neurocirurgião Humberto Schroeder destaca que os tremores respondem bem à estimulação cerebral, a rigidez e a lentidão dos movimentos diminuem, os movimentos involuntários cessam, e até mesmo equilíbrio, marcha e fala apresentam melhora.
Adriel é um dos pacientes que se beneficiou da técnica DBS. Há cerca de um ano, instalou um sistema chamado TBF (terapia com biotabs frequenciais), que ajuda a corrigir os tremores por meio da transmissão de frequências dentro do cérebro. Desde então, relata que teve melhora na qualidade de vida, mas ressalta que a prática regular de atividade física, o cultivo de bons relacionamentos, a participação em um grupo de pacientes com Parkinson também contribuem para reduzir os sintomas e melhorar seu dia a dia.
Terapias ocupacionais
Durante o tratamento com medicação e até mesmo após a cirurgia, pacientes com Parkinson podem se beneficiar de terapias ocupacionais, fisioterapia e outros métodos, como acupuntura, que ajudam a restaurar ou manter a realização das atividades cotidianas com autonomia e independência.
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— Com a progressão da doença, os pacientes costumam deixar de realizar o que necessitam ou gostam, e há impacto nas capacidades motoras da pessoa, com interferência na realização das atividades básicas do dia a dia, como a marcha, subir e descer escadas, levantar ou sentar, e até mesmo mover-se na cama”, explica Schroeder.
Por meio do treino de atividades corriqueiras, como vestir-se, alimentar-se, escovar os dentes e escrever, de maneira adaptada ao contexto de cada paciente (em casa ou um determinado local de trabalho) e com estratégias para a pessoa e sua família, é possível fortalecer a musculatura e a coordenação motora, prevenir quedas causadas pela instabilidade postural, reduzir a dor, a ansiedade e os tremores, e melhorar de forma global a qualidade de vida do paciente.
Sobre o Hospital Santa Catarina de Blumenau
O Hospital Santa Catarina de Blumenau é referência no Estado e conta com uma equipe de especialistas em diversas áreas da Medicina. Fundado em 1920 pela Comunidade Luterana do município, o hospital possui hoje 152 leitos de internação em uma área de mais de 22 mil metros quadrados. O HSC Blumenau possui infraestrutura de CTI Adulto, UTI Neonatal e Pediátrica, clínica de saúde mental, salas cirúrgicas e uma equipe com mais de mil colaboradores.
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