Os venezuelanos vão se apegando a informações que surgem daqui e dali para delinear o futuro do seu país – e tudo conspira para que a névoa de incertezas, na medida em que se aproximam as eleições de 7 de outubro, pareça mais espessa. Há fatos e não fatos reveladores. Os fatos: o presidente Hugo Chávez passou por três operações desde junho último, incluindo a remoção de um tumor do tamanho de uma bola de beisebol, na região pélvica. Desde então, foram cinco sessões de radioterapia em Cuba. Os não fatos: Chávez, que ficava oito horas falando na TV, não aparece faz duas semanas, limitando-se a duvidosos tweets.

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E há uma conclusão: ou o presidente está em situação grave de saúde, ou prepara o cenário para, depois do suspense, aparecer triunfalmente como o homem que supera todas as adversidades, até mesmo as garras da morte.

Fatalidade ou marketing de quem quer se mostrar apto a governar seu país ainda entre 2013 e 2019?

– Há muita tensão. O que se sabe é que o presidente está mal de saúde. Como pode um homem que falava tanto na TV agora estar sumido? Twitter pode ser escrito por outra pessoa – diz a escritora e analista política Milagros Socorro, do jornal El Nacional.

Mercado já vê quadro grave

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Analistas de mercado fazem coro com Milagros. Sedimentou-se a compreensão de que o presidente está muito doente. Tal convicção aparece em episódios como a negociação frenética de papéis corporativos da estatal petrolífera venezuelana PDVSA. O Barclays Capital, da Grã-Bretanha, recomenda a seus clientes atenção, na hora de adquirir ativos para a hipótese de o presidente não concorrer.

– Todos acreditam que ele está muito doente. Mas há quem diga que está bem ou se recupera e quer aparecer em algumas semanas como capaz de superar todos desafios. Não acredito nisso – afirma Miguel Sogbi, um dos assessores mais próximos do candidato oposicionista Henrique Capriles.

Da parte do governo, vem a reação.

– A oposição não fala sobre a saúde do presidente como uma questão humanitária, mas eleitoral. Sabem que só vão nos derrotar caso o presidente esteja doente. Mas o presidente está em tratamento e continua governando – afirma Aristóbulo Istúriz, deputado do partido governista PSUV.

Sim, Chávez governa orientando seus ministros. A desconfiança, porém, é fomentada até pelo governo. Paralelamente a tantas incertezas, o presidente instalou o Conselho de Estado, órgão superior de consulta do Executivo, há anos letra morta na Constituição.

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– Por que agora? – suspeita Milagros.

Para abrir o que seus integrantes definem em uníssono como “caixa-preta do governo”, a oposição faz uma tentativa fadada ao fracasso, já que o Judiciário é dominado por Chávez: pediu que a corte suprema coloque peritos médicos a examinar o presidente.

Por ora, fala-se sobre a fragilidade física, a fratura de uma perna e a depressão do presidente. E tudo isso tensiona o país em fase pré-eleitoral.