Em meio às investigações sobre as responsabilidades pelo incêndio que matou 239 pessoas na boate Kiss, em Santa Maria, um documento circula pela cidade e chama atenção. É a lista de pedidos que os bombeiros fizeram em 2012 ao Fundo de Reequipamento do Corpo de Bombeiros de Santa Maria (Funrebom). Dos R$ 899,9 mil solicitados, R$ 133 mil se destinavam à montagem de uma academia para a tropa, um carro novo do comandante e máquinas de café.
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Bancado pela comunidade, o Funrebon foi criado para ajudar a equipar os bombeiros. O Comando Regional sediado em Santa Maria pediu verba para duas cafeteiras expressas, a R$ 11 mil, uma viatura para o comandante da unidade (R$ 70 mil) e a instalação de equipamentos de musculação (R$ 51,9 mil). Os pedidos foram rejeitados pelo conselho do Funrebom em abril do ano passado. O mesmo conselho aceitou pagar por outros itens como 120 capacetes de combate a incêndio de alta resistência (R$ 42 mil), 50 conjuntos completos de combate ao fogo, a R$ 140 mil, e 50 pares de botas de combate a incêndio, a R$ 24 mil.
As duas cafeteiras de café expresso são superiores às encontradas em outros quartéis, como o de Passo Fundo, onde um equipamento simples foi doado pelo comandante, ou em Ijuí, que tem café passado no filtro.
O comandante regional dos bombeiros, tenente-coronel Moises da Silva Fuchs, argumenta que os bombeiros precisam ficar acordados em escalas de plantão de 24 horas. Em vez de um PM fazer o serviço – colocar pó e água em uma cafeteira comum -, as máquinas de café expresso do tipo comercial atenderiam o quadro e visitantes a qualquer hora.
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– Hoje são os servidores que pagam o café. Precisamos de máquinas grandes para atender todos – afirma o oficial.
Preparo físico entre as justificativas
O pedido de recursos para a instalação de uma academia colocaria Santa Maria em posição privilegiada no Estado. A maioria das unidades dispõe de poucos equipamentos, alguns adquiridos com recursos do Funrebom, outros por doações da comunidade. Segundo o oficial, em Santa Maria, os bombeiros têm de se matricular em academias privadas, pagando de seu próprio bolso. A realidade, no entanto, não é muito diferente de outros comandos regionais. Em Ijuí, existem equipamentos de musculação, adquiridos há alguns anos, sem contar com o Funrebom.
– Imagina descer as escadas com equipamentos e uma pessoa nos ombros? São mais de 120 quilos no mínimo. Preparo físico é essencial. É intrínseco à nossa atividade – afirmou o comandante Fuchs.
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A lista de equipamentos para a academia, pedidos pelos bombeiros e negados pelo Funrebon, tem três páginas e 20 itens minuciosamente descritos. ZH pediu uma análise ao professor de educação física Rogério Menegassi, presidente da Associação das Academias do Estado do Rio Grande do Sul (Acad-RS). Para ele, os equipamentos são compatíveis com o tipo de reforço muscular exigido.
– Se o bombeiro não tiver um bom condicionamento físico, talvez não consiga executar o trabalho dele.
Apesar disso, Menegassi avalia que os aparelhos parecem de uma linha mais residencial, como os instalados em condomínios e usados por poucas pessoas. Fuchs pondera:
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– São os menores valores que encontramos. E só colocamos no pedido porque hoje não falta nada em termos de EPI (Equipamento de Proteção Individual).
O oficial também defendeu o pedido de um carro novo, com direção hidráulica e ar-condicionado, no valor de dois populares. Ele hoje tem um Vectra, 1997, repassado pelo policiamento ostensivo da Capital.
– Os reparos têm custo alto e já ficamos na estrada mais de uma vez – ressalta.
Apesar de o carro velho dar trabalho, o CRB de Santa Maria não foge à regra. Em outros comandos, o veículo usado pelo comandante é antigo ou sequer é disponibilizado pela Brigada Militar. A maioria usa carros administrativos, de menor valor. Em Tramandaí, o comando utiliza dois veículos administrativos, um Tempra e um Voyage (modelo antigo). Realidade que não demove o comando de Santa Maria de ter seu veículo de R$ 70 mil:
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– Precisamos comprar um carro resistente para aguentar a rotina de viagens. Temos outros carros leves, mas que são usados na fiscalização dentro da cidade.

