Artista de talento e trajetória incomuns, Xico Stockinger (1919 – 2009) ganhou um documentário sobre sua vida e obra. O filme do estreante Frederico Mendina, mais um da grande série de longas gaúchos lançados em 2012 – em parte consequência dos recursos do Edital de Finalização de Longas-Metragens lançado pelo governo do Estado em 2011 -, estreia nesta sexta-feira na Cinemateca Paulo Amorim.
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Trata-se de um filme-homenagem a uma figura marcante para o diretor.
– Sou advogado, mas tinha uma inquietação artística, queria fazer algo diferente – explica Mendina, 39 anos. – Tudo levava a Xico. Quando criança, eu morava na Av. Jacuí e estudava no Colégio Paraná (zona sul da Capital), o que me fazia passar todos os dias em frente à casa dele. Aquele alemão exótico batendo pedra no pátio sempre me chamou a atenção. Depois, fui colega do neto dele, Francisco, na faculdade de direito. Por fim, quando resolvi dar atenção a essa inquietação artística, fiz dois anos de Atelier Livre, cuja história está totalmente ligada à figura de Stockinger.
O diretor iniciou os contatos com o artista em 2006 – e conversou com ele até sua morte, em 2009.
– Só não consegui levá-lo a lugares marcantes em sua trajetória. Tivemos dois anos de convivência com ao menos uma visita semanal – relata.
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Há muito material em Xico Stockinger, o filme. A narrativa é conduzida pelo protagonista, que fala exaustivamente ao longo dos quase 90 minutos, com intervenções pontuais dos pesquisadores José Francisco Alves e Paulo Herkenhoff e animações construídas a partir de desenhos e caricaturas assinadas pelo próprio Stockinger.
O melhor do filme, em primeiro lugar, é explicar como a arte entrou na vida de um sujeito que nasceu na Áustria e escolheu Porto Alegre para viver, foi aviador e meteorologista até descobrir que, segundo suas palavras, “fazer escultura podia ser tão emocionante quanto pilotar o pior avião do mundo”. Segundo: tomar contato com desenhos de um jovem artista de carreira incipiente, fotografias de arquivo pessoal de alto valor memorialístico e, sobretudo, vídeos e curtas raríssimos. Entre eles, o 16mm Sobre Viver Guerreiro (1977), assinado por Tuio Becker, Décio Presser e outros, e um registro de Iberê Camargo (1914 – 1994) pintando um retrato de Xico em 1980, que conta com os nomes de Jorge Furtado e Marcelo Lopes nos créditos.
A construção narrativa, no entanto, tem os seus problemas. Eles dizem respeito à prolixidade do personagem principal e, consequência disso, a falta de silêncios e de uma aposta mais incisiva nas imagens, além da sensação de subaproveitamento das intervenções de Alves e Herkenhoff. Uma dessas intervenções, de Herkenhoff, é inserida logo após Stockinger dar uma paulada nos críticos, o que causa um certo constrangimento.
E é justamente Herkenhoff quem ilumina de forma precisa o trabalho escultórico do artista, afirmando que seu ápice criativo coincide com sua perda de audição – “Também o Xico é um de seus gabirus, figuras entre o convívio coletivo e o alijamento social, à medida que aumentam suas dificuldades de se comunicar”, ele diz, no filme.
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Além das sessões na Casa de Cultura Mario Quintana, a partir desta sexta, Xico Stockinger deve ser exibido no Cine Santander no verão. Mesmo sem ter se associado a uma distribuidora, Mendina quer levar o filme a outras cidades e fazer exibições especiais, algumas delas destinadas às crianças, “para que tenham contato com este exemplo de vida”, explica. Sua produtora Pironauta, que cada vez mais toma o tempo antes dedicado somente à advocacia, também está produzindo o drama Depois de Ser Cinza, primeiro longa de Eduardo Wannmacher.
Filmes de artistas
Antes de Xico Stockinger, Danúbio Gonçalves ganhou um longa documental assinado pelo diretor Henrique de Freitas Lima. Danúbio (2011) integra uma série intitulada Grandes Mestres, da qual também fará parte um título sobre Zoravia Bettiol, entre outros artistas cujos nomes Freitas Lima prefere não antecipar. O longa sobre Zoravia já tem um teaser de 19 minutos disponível no YouTube, informa o diretor, que concebu os filmes com pouco menos de uma hora de duração, para exibição na TV.
Em âmbito nacional, uma nova onda de documentários sobre personalidades das artes visuais tem, entre outros, os longas Cildo e Ouvir o Rio (ambos sobre Cildo Meirelles, o primeiro dirigido por Gustavo Rosa de Moura, o segundo, por Marcela Lordy), À Margem da Linha (sobre Regina Silveira, Sérgio Sister e José Spaniol, com direção de Gisela Callas), A Casa de Sandro (sobre Sandro Donatello Teixeira, assinado por Gustavo Beck), Assim É se lhe Parece (sobre Nelson Leirner, de Carla Gallo) e o média-metragem 5+5 (sobre Carlos Vergara, de Rodrigo Lamounier).