Muito se diz que o Brasil é o país sul-americano que fala com mais discrição e passividade sobre a ditadura militar. Faz sentido, especialmente se pensarmos na falta de punições aos agentes do Estado responsáveis pelos episódios de tortura e assassinato durante o período.

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Também é verdade, no entanto, que têm sido realizados no Brasil alguns dos mais interessantes documentários recentes sobre o período, com revelações que dizem respeito ao regime brasileiro aqui e, simultaneamente, ao chileno, ao uruguaio e ao argentino.

Foi o caso de Condor (2008), de Roberto Mader, e também o de O Dia que Durou 21 Anos (2013), filme do diretor Camilo Tavares que é um dos destaques da safra nacional recente – foi exibido nos cinemas no ano passado, quando infelizmente foi visto por apenas 6,5 mil pessoas, e agora está disponível em DVD, em lançamento da Pequi Filmes.

Como que para atestar o vigor da produção cinematográfica nacional sobre o tema nos últimos anos, O Dia… saiu quase junto de Dossiê Jango (2013), filme de Paulo Henrique Fontenelle que expõe, com profundidade e o que é possível de clareza, as nebulosas circunstâncias da morte do presidente deposto João Goulart (1919 – 1976).

No caso do longa de Camilo Tavares, as revelações dizem respeito à participação do governo dos EUA na articulação do golpe que derrubou a democracia brasileira, há 50 anos. O jornalista Flávio Tavares, que é pai do diretor e também um dos produtores do longa, foi fundamental para buscar documentos secretos e gravações de áudio da Casa Branca que evidenciam os papéis da CIA e dos próprios presidentes John F. Kennedy e Lyndon Johnson na ação que demoveu Jango do poder – algo que permaneceu oculto durante quase meio século. Flávio, vale lembrar, militou contra a ditadura e estava entre os presos políticos que foram trocados pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, sequestrado pelo MR-8 em 1969.

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O Dia que Durou 21 Anos é um projeto maiúsculo não apenas pelas revelações históricas. Trata-se de um filme de narrativa envolvente, graças à apropriação de códigos típicos dos títulos de suspense que articulam ações de bastidores paralelas em diversos locais num mesmo espaço de tempo. No caso, principalmente o chamado Dia D do golpe militar, entre a noite de 31 de março e as primeiras horas de 1º de abril de 1964.

Por fim, produções como O Dia… ajudam a entender que as violações dos direitos civis e os abusos de autoridade militar, tão comuns no país atualmente, são herança direta de episódios históricos anteriores.

Top 20

Documentários brasileiros do século 21 que abordam a ditadura militar:

> Barra 68, de Vladimir Carvalho (2001)

> Tempo de Resistência, de André Ristum (2003)

> Vlado, 30 Anos Depois, de João Batista de Andrade (2005)

> O Profeta das Águas, de Leopoldo Nunes (2005)

> Hércules 56, de Sílvio Da-Rin (2006)

> Três Irmãos de Sangue, de Ângela Patrícia Reiniger (2006)

> Brizola – Tempos de Luta, de Tabajara Ruas (2007)

> Condor, de Roberto Mader (2008)

> Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski (2009)

> Perdão, Mister Fiel, de Jorge Oliveira (2009)

> Diário de uma Busca, de Flávia Castro (2010)

> Utopia e Barbárie, de Silvio Tendler (2010)

> Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat (2011)

> Marighella, de Isa Grinspun Ferraz (2011)

> Eu me Lembro, de Luiz Fernando Lobo (2012)

> Cassandra Rios, de Hanna Korich (2012)

> Verdade 12.528, de Paula Sacchetta e Peu Robles (2013)

> Repare Bem, de Maria de Medeiros (2013)

> Dossiê Jango, de Paulo Henrique Fontenelle (2013)

> O Dia que Durou 21 Anos, de Camilo Tavares (2013)