Um documentário sobre um músico realizado por um de seus ex-parceiros, a partir de trechos de sua autobiografia (lidos pelo próprio personagem documentado). Jorge Mautner – O Filho do Holocausto, que estreia nesta sexta-feira em Porto Alegre, no Espaço Itaú e no Instituto NT, tinha tudo para ser oficialista. O filme tem defeitos, mas este não é um deles.
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Premiado nos festivais de Recife e Gramado (foram três Kikitos, de fotografia, montagem e roteiro), o longa recupera a trajetória do compositor de Maracatu Atômico desde que seus pais fugiram da Europa Oriental ocupada pelos nazistas, em 1941 (daí o subtítulo), passando pelo exílio em companhia de Gil e Caetano e, antes disso, os cuidados de uma babá adepta do candomblé (marcante em sua “descoberta do Brasil”) e a publicação de seu primeiro e premiado livro, Deus da Chuva e da Morte, antes dos 20 anos de idade.
O ex-parceiro que assina a direção é Heitor D?Alincourt, músico e jornalista. Ao lado dele, nos créditos, aparece o “nosso herói” Pedro Bial (ele mesmo), que volta a dirigir um longa depois da ficção Outras Estórias (1999). Após um início um tantinho arrastado, calcado em depoimentos dispostos em formato bastante tradicional, a dupla de realizadores acerta a mão nos números musicais. São 26 canções no total, executadas por Mautner e os ótimos Kassin, Pedro Sá e Berna Ceppas, sempre muito bem filmadas.
Mas o filme realmente cresce no encontro, com jeito de acerto de contas, entre um doce e humilde Mautner e sua filha, Amora (diretora da TV Globo), a quem deu este nome pensando numa variação feminina da palavra “amor’. É ao falar abertamente de arrependimentos que o artista se mostra mais próximo do espectador. Pena que Bial e D?Alincourt não aprofundem com a mesma riqueza outras facetas de Mautner – inclusive as mais óbvias, como seu processo criativo.
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