Às vésperas da exumação do corpo do ex-presidente João Goulart, o documentário Dossiê Jango chega aos cinemas brasileiros na primeira semana de julho. Neste sábado, ele foi exibido no Florianópolis Audiovisual Mercosul (FAM).
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No roteiro, a possibilidade de Jango ter sido assassinado em 1976, enquanto estava exilado na Argentina. Produzido pelo Canal Brasil e pelo Instituto João Goulart, o trabalho – que recebeu premiações no festival uruguaio de cinema Atlantidoc e nos festivais do Rio e de Tiradentes – reforça as suspeitas de que, assim como Juscelino Kubitscheck e Carlos Lacerda, Jango teria sido assassinado na Operação Condor.
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ENTREVISTA/Paulo Fontenelle, diretor do documentário Dossiê Jango
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Diário Catarinense – Como surgiu a ideia do documentário?
Paulo Fontenelle – Começou quando soubemos do depoimento de um uruguaio que estava preso em Porto Alegre. Ele confessou que era agente secreto, que havia monitorado Jango e que teve participação no assassinato. Buscamos outras pessoas, procuramos arquivos, viajamos para o Uruguai e para a Argentina. Uma entrevista foi levando à outra e conseguimos muita coisa não só sobre João Goulart, mas sobre a Operação Condor.
DC – O que Dossiê Jango procura mostrar?
Fontenelle – Fala um pouco da história do Jango, do exílio e da suspeita de assassinato. Há documentos e depoimentos de pessoas que confirmam que ele estava sendo vigiado, perseguido e ameaçado. Assim como outros políticos foram assassinados em 1976 pela Operação Condor, ele também pode ter sido vítima. No final, acaba falando de todos os desaparecidos e mortos na ditadura que não tiveram suas histórias reais conhecidas e revistas.
DC – Quais foram as principais fontes de pesquisa para o documentário?
Fontenelle – Procuramos pessoas que conviveram com ele no exílio, antigos companheiros na política, jornalistas brasileiros e uruguaios, pessoal de direitos humanos no Brasil e na Argentina. A hipótese de assassinato existe desde a morte dele. Há suspeitas de que ele, Kubitscheck e Lacerda tenham sido assassinados. A Argentina faz um trabalho muito sério quanto às investigações desta época, e ele morreu na Argentina. Só o governo brasileiro nunca tomou nenhuma iniciativa de investigar o que realmente aconteceu. Também recebemos muito apoio da família.Nunca houve nenhuma barreira. A família luta há tempos para saber a verdade sobre a morte. ?
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ENTREVISTA/João Vicente Goulart, filho do ex-presidente Jango
DC – Como andam as preparações para a exumação?
João Vicente – O Estado brasileiro entendeu que teria que convidar peritos da Argentina e do Uruguai, países que teriam envolvimento na Operação Condor. A família procura agora indicar um grupo de peritos para que os resultados sejam mais esclarecedores, dentro das técnicas existentes. A Cruz Vermelha também deve participar do processo, atuando internacionalmente como espécie de juiz regulador, para fiscalizar e legitimar o protocolo. A Polícia Federal vai ser responsável pela guarda dos restos mortais. No dia 19 houve a primeira reunião preparatória; a segunda deve ser entre 29 de junho e 10 de julho, em Brasília.
DC – Quais reflexões procuram provocar com o documentário e o andamento das investigações?
João Vicente – Nós, como família, gostaríamos que o Estado brasileiro tivesse iniciado as investigações há muito tempo. A lei de anistia brasileira prevê prescrição, coisa que já foi revista em outros países. O crime de assassinato prescreve em 20 anos no Brasil. Queremos debates em torno da reformulação das leis, porque crimes que lesam a humanidade não podem ser prescritos. A exumação não é um fim, é apenas um entre tantos meios para se provar se houve ou não essa Operação Condor em cima de João Goulart. Esperamos que o documentário seja um meio para que a população conheça o período de exílio e que reflita sobre o golpe de 1964.
DC – O lançamento do documentário é oportuno então?
João Vicente – Sim. Há sete anos tentamos esclarecer a morte. Já faz 37 anos que isso aconteceu, mas temos a esperança nas tecnologias.
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