É até meme entre os nativos de Florianópolis: a Ilha do Campeche, um dos principais pontos turísticos do litoral catarinense e um dos maiores sítios arqueológicos do Estado, é um local praticamente desconhecido para muita gente que mora há tempos na cidade – apesar de ser anualmente visitada por cerca de 60 mil turistas do país inteiro. Há alguns anos, em um mês de dezembro, circulou pelas redes sociais uma piada que dizia que os manezinhos estavam colocando “visitar a Ilha do Campeche” entre suas resoluções de ano-novo.
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Os motivos são vários; mas o simples fato de que é preciso pegar um barco para chegar à ilha já é um obstáculo a mais – e o valor da passagem, no verão, não é dos mais convidativos… Nesse contexto, o documentário Mundo Ilha do Campeche traz um conteúdo interessante mesmo para quem vive em Florianópolis a vida toda – afinal, mesmo quem já visitou o local pode não conhecer muitas das informações sobre cultura, arqueologia, geografia e meio ambiente reveladas no filme de 53 minutos. E também é uma maneira de passear “virtualmente” pela área, já que, em função da pandemia de coronavírus, a visitação presencial à ilha está comprometida.
Mundo Ilha do Campeche é um projeto de conclusão do curso de Cinema da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) assinado por Cláudio Felippio Júnior, e foi inteiramente produzido por estudantes do curso. Cláudio é nativo de Caxias do Sul (RS), mas se mudou para a Capital catarinense em 2014, após ser aprovado no vestibular da universidade. Ele conta que, ao longo de sua trajetória na UFSC, sempre foi muito interdisciplinar – com interesses que passagem por design, psicologia e biologia.
– Em 2016 rolou a segunda edição do festival internacional de cinema socioambiental Planeta.DOC, onde eu trabalhei como monitor técnico, e tive a oportunidade de assistir filmes nacionais e internacionais muito bons, alguns premiados, que falavam sobre questões socioambientais – narra Cláudio. – Então comecei a pensar e me questionar sobre várias coisas; a forma como eu me alimento, consumo, descarto o lixo… A questão do plástico nos oceanos também me chamou muita atenção e me fez começar a querer aprender mais sobre esse tipo de assunto.
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No ano seguinte, o estudante ficou sabendo do trabalho realizado na Ilha do Campeche pela equipe de monitores do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e descobriu o curso, com duração de seis meses, pelos quais os monitores passam antes de começar a efetivamente trabalhar na ilha.
– Decidi fazer o curso porque ele é muito rico, tem muitas informações a respeito de coisas pelas quais eu me interesso: oceanografia, biologia, leis ambientais, turismo cultural, arqueologia… – Cláudio continua. – No final de 2017 passei no curso e comecei a trabalhar na ilha, e foi uma experiência incrível. No verão seguinte trabalhei na ilha novamente, e, como já estava no último ano do curso de Cinema, tive a ideia de fazer o filme como trabalho de conclusão.
O documentário trata principalmente do trabalho de conservação do patrimônio cultural e ambiental da Ilha do Campeche feito pelos monitores do IPHAN, em parceria com a comunidade local e os órgãos públicos. São apresentados dados e informações sobre o desenvolvimento do turismo na região e como se firmou o cenário encontrado hoje: uma ilha que é um patrimônio nacional tombado pelo IPHAN, um dos principais atrativos turísticos de Santa Catarina, e também um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil.
– Acho que o filme é uma oportunidade de as pessoas conhecerem a Ilha do Campeche pelo viés de sua riqueza ambiental, patrimonial e cultural – pondera Cláudio. – Muita gente visita a ilha sem saber da história do lugar; sem nem imaginar, por exemplo, que na Ilha do Campeche há mais gravuras rupestres do que em toda a Ilha de Santa Catarina.
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Ele diz que o clima colaborou até maio, mas depois, com o período de chuvas, o processo de gravação sofreu atrasos:
– Ainda mais porque todas as entrevistas são feitas a céu aberto – o diretor ressalta. – Eu quis manter essa estética do ser humano em meio à natureza, em ambiente aberto, até para mostrar como o patrimônio humano também é muito importante ali na ilha.
Outro desafio foi a pandemia de coronavírus; principalmente na atual etapa, de divulgação e distribuição.
– Não sabíamos direito como ia ser essa distribuição, mas sabíamos que não podíamos ficar esperando a pandemia “passar”; até porque ninguém sabe quando isso vai ser – ele comenta. – Então decidimos abraçar a divulgação online. Temos visto muitos festivais de cinema trabalhando assim, em formato virtual; mesmo com a produção reduzida, já que muitas produtoras estão paradas. A forma de chegar até as pessoas mudou, mas acho até que a divulgação online ajuda os conteúdos a chegar a mais gente, e de forma gratuita.
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Mundo Ilha do Campeche foi “pré-lançado” no dia 9 de dezembro, por meio de uma live no Instagram, onde Cláudio falou mais sobre as questões ambiental e artística e sobre o trabalho de monitoramento realizado na ilha. A ideia é lançar o documentário no circuito de festivais em 2021 – motivo pelo qual o filme ainda não vai ficar disponível abertamente no YouTube. Uma live com a imprensa também foi realizada na última quarta-feira, dia 16 de dezembro.
E Cláudio deixa a dica para quem quiser – depois da pandemia, é claro – conhecer a Ilha do Campeche não apenas por meio do documentário, e sim em carne e osso: na baixa temporada, a passagem de barco sai pela metade do preço. Será que em 2021 essa “resolução de ano-novo” sai do papel?