Ao assistir as cenas do documentário “Cigarro do crime”, você até pode pensar que os flagrantes são obras de ficção. Mas, não são. A obra revela a dura realidade do tráfico de tabaco no Brasil e acenda um alerta para Santa Catarina. Apesar do território catarinense não ser o foco do contrabando, ele tem despertado a atenção dos criminosos. O produto do crime, o cigarro mais barato e geralmente trazido do Paraguai, também já é quase um dos preferidos dos catarinenses: 44% dos cigarros consumidos são de marcas ilegais.

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Com cenas gravas no Brasil e no Paraguai, a obra possui depoimentos de contrabandistas, mostra perseguições policiais perigosas, investe em conversas com os consumidores e traz uma narrativa mais humana sem perder o caráter de denúncia. O olhar de quem dirigiu o documentário, João Wainer, também contribuiu para que o clima dos 45 minutos de imagens fosse além das imagens impressionantes e revelasse a história de pessoas por trás do crime.

Responsável por trabalhos como fotojornalista, ganhador do Prêmio Esso e diretor do documentário “Junho – O Mês que Abalou o Brasil”, sobre as históricas manifestações de 2013, o diretor do documentário vai além das imagens para debater o contrabando de cigarros no país. Para ele, é necessário expor a violência que está associada ao crime e perceber que os danos vão muito além dos que são diretamente proporcionados pelo comércio ilegal.

– É importante falarmos dessa violência conectada com o contrabando. Há a imagem de uma fuga em que soltam uma nuvem de fumaça, a polícia persegue, causam um acidente e mata uma família que estava perto. Tem também criminoso que solta prego na rodovia, parece coisa de desenho – comentou Wainer em entrevista à NSC.

Apesar de não ter passado por Santa Catarina, Wainer cita que o Estado está próximo das rotas mais fortes do contrabando. Como possui conexão com o Paraná, o território catarinense é estratégico e tem sido cada vez mais importante para os contrabandistas. Prova disso, é o aumento de apreensões. Mas, de acordo com o diretor, somente a ação repressiva da polícia catarinense não deve reduzir o transporte ilegal.

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Segundo a análise do fotojornalista e diretor do documentário, os governos deveriam investir em modalidades mistas de taxação para os cigarros. Como o valor do produto já é alto, a ideia defendida por ele após a observação dos casos do documentário, é ter impostos mais altos para os cigarros mais caros e mais baixos para os cigarros mais baratos. Dessa forma, o cigarro do Paraguai perderia força e poderia perder espaço no mercado.

Dados de SC mostram presença forte do contrabando

Parceiro do documentário, o Fórum Nacional contra a Pirataria e Ilegalidade é uma associação civil, sem fins lucrativos, formada em 2006 por entidades setoriais empresariais, empresas e sindicatos. É a maior associação brasileira com foco exclusivo no combate à ilegalidade. Para o presidente da entidade, Edson Vismona, o objetivo do documentário é passar uma mensagem de que a rede de impacto do contrabando de cigarros é muito além do que pensamos.

De acordo com os levantamentos do Fórum, o contrabando de cigarros permite o financiamento de organizações criminosas. E, ainda segundo Vismona, é necessário despertar no público a consciência de que, ao comprar um cigarro contrabandeado, ele está sustentando um poder paralelo sem leis. Na maioria das vezes, de acordo com as entrevistas e depoimentos do documentário, os usuários não conseguem perceber que estão fazendo parte da cadeia do crime ao comprar o cigarro.

Para termos uma noção da presença do contrabando em Santa Catarina, das 10 marcas de cigarro mais vendidas, 3 são fruto do contrabando. Ou seja, o consumo é grande e tem se espalhado pelo Estado. E os dados vão além: somente no ano passado, o Estado deixou de arrecadar 510 milhões de reais em impostos pelo comércio de produtos ilegais.

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Números preocupantes e que impactam na rotina econômica dos catarinenses. Segundo Vismona, Santa Catarina precisa ter noção da importância estratégica na rota e deve seguir investindo em ações coordenadas, de educação aos usuários e de repressão aos criminosos. Tudo isso para que o Estado não precise lidar com problemas maiores, segundo o Fórum, e para que fique longe de tornar-se uma nova rota oficial do “Cigarro do Crime”.

Assista ao documentário "Cigarro do Crime" 

Saiba mais sobre o contrabando de cigarros no infográfico abaixo:

Dados sobre o crime de contrabando de cigarro
Dados sobre o crime de contrabando de cigarro (Foto: Divulgação)