Muita gente nascida e criada em Florianópolis passou a vida vendo a Ponte Hercílio Luz, um dos principais cartões-postais da cidade, só de longe – pisar na ponte ou atravessá-la era impensável até a reinauguração, em dezembro de 2019. Foram décadas de obras, que eram assunto de conversa e polêmicas na capital de Santa Catarina: cada um tinha sua opinião sobre os prazos, o valor investido, a própria necessidade da obra. Havia quase uma mística em torno da ideia de a Hercílio Luz voltar a ser de fato utilizada e fazer parte do cotidiano dos florianopolitanos.
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Tudo isso chamou a atenção do jornalista e produtor audiovisual Gustavo Zinder, que tinha curiosidade a respeito da famosa ponte e dos fatos que acabavam escondidos por trás das polêmicas:
– Eu sou de Florianópolis, nasci na ilha, e sempre me incomodou muito a ponte fechada por todos esses anos – ele conta. – Tenho 33 anos e nunca tinha passado pela ponte; a primeira vez foi em dezembro de 2019, quando ela foi reinaugurada. Eu percebia também que, com o passar dos anos, as informações sobre a ponte e a obra iam se perdendo. Resolvi investigar o assunto, entender mesmo como foi que tudo aconteceu.
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Formado em comunicação social, Gustavo já tinha interesse por documentários desde a época do trabalho de conclusão de curso: o TCC do jornalista foi um filme sobre a trajetória da banda Dazaranha e o panorama da música autoral em Santa Catarina. Quando começou a elaborar o documentário sobre a restauração da ponte, Gustavo criou a produtora Contexto Filmes para dar suporte ao trabalho.
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A pesquisa para o documentário, que ganharia o título Em Obras, começou em 2018, a partir das notícias que saíram a respeito do período de restauração. A partir da pesquisa, foi estabelecido o recorte do documentário, que é focado no período a partir de 2006 – data em que foi assinada a primeira ordem de serviço de restauração. Antes disso, desde 1991, quando a ponte foi interditada pela última vez, só aconteciam serviços de manutenção; uma “manutenção para inglês ver”, nas palavras de Gustavo.
– No início de 2020 nós tivemos o projeto aprovado no Ministério da Cultura via Lei de Incentivo, mas, com a pandemia, tivemos dificuldade de captar os recursos necessários – relata o produtor. – E neste ano, como já tínhamos bastante informações e mesmo entrevistas, decidimos tocar o documentário de forma independente, com uma equipe bem mais enxuta.

– Houve momentos da pandemia em que a situação estava mais crítica e tivemos bastante dificuldade; principalmente para entrevistar as pessoas – prossegue Gustavo. – Precisamos dar uma segurada. O prazo foi ficando apertado, porque queríamos lançar agora no dia 13, por causa do aniversário da ponte. Outra curiosidade é que nosso editor foi para Chapecó no início da pandemia e não voltou mais, então todo o trabalho de edição foi online, remoto; não conseguimos nos encontrar em nenhum momento. Mas isso até funcionou muito bem, muito melhor do que inicialmente pensamos que fosse funcionar.
O jornalista explica que o documentário está dividido em três grandes temas: em um primeiro momento, a produção procura contextualizar a importância da ponte Hercílio Luz, tudo o que ela representa para a cidade de Florianópolis, seu valor histórico e cultural. Em seguida, o filme parte para o período de restauração em si, que foi tão conturbado – abordando questões de valores e prazos.
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– Tentamos trazer personagens que mostram diversos pontos de vista: um engenheiro da obra, um procurador, o secretário de mobilidade urbana, que definiu como a ponte seria utilizada após a abertura… – lista Gustavo. – Entrevistamos a Anita Pires, que sempre foi muito envolvida com a questão do turismo na cidade; o Roberto de Oliveira, presidente de Associação Catarinense de Engenheiros, que foi membro de uma comissão que fazia vistorias na ponte…
Por fim, além de analisar quais resultados e soluções a conclusão da obra trouxe para a cidade no que tange à mobilidade e também ao turismo, o filme propõe maneiras de a ponte ser melhor aproveitada – não só a estrutura em si, mas toda a região do entorno; as cabeceiras, o Parque da Luz. Os usos variam da prática de esportes radicais até manifestações artísticas.
– Queremos apresentar o que aconteceu, mas também agir de forma propositiva, para que a gente consiga aproveitar melhor esse patrimônio tão majestoso que temos – Gustavo conclui.
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O lançamento de Em Obras acontece nesta quinta-feira (13), aniversário de 95 anos da ponte Hercílio Luz: o documentário vai estar disponível gratuitamente no canal da Contexto Filmes no YouTube. A trilha sonora é assinada pelo projeto de música eletrônica e experimental Modernas Ferramentas Científicas de Exploração, de Florianópolis.
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Documentário Em Obras – ficha técnica:
Direção e roteiro – Gustavo Zinder
Direção de fotografia e imagens – Jeferson Vieira
Imagens aéreas – Leandro do Amaral
Imagens de arquivo – Zeca Pires e TVAL (Agência Alesc)
Edição – Gustavo Zinder e João Ricardo Cararo Lazaro
Montagem – João Ricardo Cararo Lazaro
Direção de arte – Lucas Milk
Finalização – Jeferson Vieira
Trilha sonora – Modernas Ferramentas Científicas de Exploração