A menos de 10 dias do segundo turno, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou de caminhada em Juiz de Fora, em Minas Gerais, na tarde desta sexta-feira (21), reforçou propostas que vem defendendo na economia e afirmou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) irá investir em “mentiras” e em “propostas falsas” na reta final da campanha.
Continua depois da publicidade
Receba notícias do DC via Telegram
— Essa semana vocês vão ouvir muitas mentiras do nosso adversário, muitas promessas falsas. Ele vai propor fazer tudo o que não fez. Temos o dever e a obrigação de não acreditar — disse Lula.
Lula estava acompanhado da senadora Simone Tebet (MDB), terceira colocada no primeiro turno e apoiadora do ex-presidente na segunda rodada das eleições. As agendas em Minas Gerais são as primeiras que contam com a participação de Tebet.
Veja como será o debate de Lula e Bolsonaro na TV Globo no dia 28
Continua depois da publicidade
A senadora é vista como um trunfo da campanha de Lula, uma vez que ela reforça a ideia que a campanha propala de que a candidatura do ex-presidente não está restrita ao PT ou à esquerda. Além disso, a equipe do petista tenta diminuir os índices de abstenção registrados no primeiro turno e atrair eleitores indecisos – e conta com a atuação de novos aliados que se somaram à campanha no segundo turno, como Tebet.
Na caminhada, Tebet afirmou aos apoiadores do petista que é preciso conversar com eleitores indecisos, que anularam ou votaram em branco e pediu que seus eleitores votem em Lula no segundo turno:
— Quando encontrarem um mineiro ou uma mineira que votou em mim, digam a eles que agora eu sou 13. Quem votou em Simone vota em Lula no segundo turno.
Ela também subiu o tom das críticas que tem feito a Bolsonaro.
— Estou aqui para dizer a Bolsonaro: “Você vai entrar para o lixo da história” — afirmou a senadora.
Continua depois da publicidade
Tebet disse ainda que “quando Bolsonaro perder a faixa e o foro privilegiado” ele terá que dar explicações à Justiça e à sociedade. Ela citou denúncias de esquemas de rachadinha no gabinete de Bolsonaro e a compra de 51 imóveis em dinheiro vivo pela família do atual chefe do Executivo.
TSE julga neste sábado pacote de direitos de resposta de Lula contra Bolsonaro
Além do simbolismo de ter Tebet ao seu lado nesta atividade, a agenda ocorre na cidade onde o então candidato à Presidência do PSL Jair Bolsonaro levou uma facada, em setembro de 2018.
A visita de Lula ao estado mineiro faz parte da estratégia da campanha de focar as agendas no Sudeste, que concentra 42,6% do eleitorado nacional. O petista participou mais cedo de caminhada em Teófilo Otoni e fará outra neste sábado (22) entre Belo Horizonte e Ribeirão das Neves.
Lula optou por não participar de debate presidencial promovido pelo SBT e outros veículos nesta sexta para privilegiar agendas de campanha.
Continua depois da publicidade
Além disso, Minas Gerais é considerado um estado chave na disputa ao Palácio do Planalto. E tanto Lula quanto Bolsonaro estão investindo no estado na tentativa de aumentar suas votações.
Apenas 3 das 20 maiores cidades de SC terão ônibus de graça no 2º turno das Eleições
Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, os dois candidatos têm reforçado a busca de apoio junto a prefeitos, intensificado a agenda de visitas ao interior e apostado na presença de novos aliados no palanque.
A atividade do petista ocorre três dias após Bolsonaro ter visitado o município onde perdeu a eleição para Lula por 52,62% a 38,41% dos votos válidos.
O presidente costuma dizer que a cidade é a sua segunda “terra natal”, justamente por ser o local onde sofreu o atentado, e foi nela que o chefe do Executivo deu o pontapé inicial de sua campanha à reeleição neste ano.
Continua depois da publicidade
Ele já cumpriu agendas no município outras duas vezes neste ano –sendo a mais recente na última terça-feira (18).
Esta é a segunda visita de Lula na cidade mineira neste ano. A primeira foi em maio, durante a pré-campanha. Naquela ocasião, um vídeo publicado nas redes sociais naquele dia mostrou um policial militar apontando arma a um grupo do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) que esperava por Lula na cidade.
Bolsonaro gasta R$ 600 mil com anúncios no Google e YouTube em dia de Lula no Flow
Desta vez, pouco antes das 14h, cerca de 10 apoiadores do petista aguardavam a sua chegada. A reportagem viu ao menos três carros de apoiadores de Bolsonaro passarem pelo local e provocarem os apoiadores de Lula – um deles colocou o braço pra fora e com a mão fez um gesto de arma que atirava contra eles. Os apoiadores do ex-presidente responderam fazendo gestos de L com as mãos.
Nas atividades de campanha, a segurança de Lula é feita com membros da própria equipe do petista, militantes do MST que fazem um cordão de proteção no entorno do ex-presidente e integrantes da equipe da Polícia Federal que está atuando desde o início da campanha, em agosto.
Continua depois da publicidade
A equipe da PF mobiliza cerca de 50 pessoas nas atividades, entre elas atiradores de elite que ficam posicionados em pontos estratégicos e um grupo tático para eventuais intervenções.
Além de Tebet, Lula estava acompanhado da caminhada nesta sexta da ex-ministra Marina Silva (Rede), do senador Alexandre Silveira (PSD), dos deputados André Janones (Avante) e Reginaldo Lopes (PT).
O ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice do petista, não participou – há uma expectativa que ele faça agendas solo no estado na próxima semana.
Lula tem 49% no 2º turno, e Bolsonaro, 45%, diz Datafolha
Lula percorreu o trajeto em cima de uma caminhonete sem proteção nas laterais e no teto. Ele acenou e cumprimentou apoiadores ao longo do ato. A caminhada, que começou por volta das 18h e teve duração de cerca de uma hora, foi embalada por jingles da campanha e por pequenas falas do ex-presidente e de seus aliados.
Continua depois da publicidade
Lula discursou ao final da caminhada. Ele reforçou propostas relacionadas à economia que ele vem defendendo ao longo da campanha, como o aumento do salário mínimo, a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, a realização de uma reforma tributária “para que os ricos paguem mais e os pobres paguem menos” e a renegociação de dívidas. Ele também afirmou que não haverá privatizações da Petrobras e dos Correios.
Mais cedo, à imprensa, o petista disse que que a sua campanha não deve aceitar acordo proposto pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, para que a sua equipe e a de Bolsonaro negociem os direitos de resposta obtidos nas propagandas eleitorais e interrompam os ataques na TV.
Como mostrou a coluna Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, tentou costurar um acordo entre as campanhas.
Propaganda eleitoral de Bolsonaro é interrompida com aviso de infração
Ele chamou os advogados tanto de Lula como de Bolsonaro para uma reunião na quinta (20) e propôs que ambos cessassem os ataques nas propagandas.
Continua depois da publicidade
— Hoje falei com o advogado, ele ia conversar com o Alexandre de Moraes. Houve uma proposta de acordo e eu disse que não tem acordo. Se nós ganhamos 184 e perdemos 14. Ele que utilize os nossos 14 e nós utilizamos os 184 dele — disse Lula nesta sexta.
— Se a gente ganhar o direito de resposta, a gente vai aproveitar para falar coisa mais séria com o povo. O que vamos fazer com o salário mínimo, com o Imposto de Renda, com as pessoas endividadas. Esses são os assuntos que interessam ao nosso povo —completou.
À imprensa, Marina Silva disse que é “muito simbólico” o apoio dela e de Tebet à candidatura de Lula num momento em que “Bolsonaro tenta dividir o Brasil”:
— Temos aqui duas mulheres. Uma da Amazônia, outra do Centro-Oeste. Uma que tem visão atualizada do que é agricultura e uma que tem visão atualizada do que é o meio ambiente. Uma mulher preta e uma mulher branca. Uma mulher católica e uma evangélica. Para dizer que esse Brasil cindido que o Bolsonaro quer impor, até mesmo dentro das igrejas, não vai prevalecer.
Continua depois da publicidade
Desde 1989, Minas Gerais mantém a tradição de refletir os resultados nacionais da corrida presidencial, o que o faz ser considerado uma espécie de termômetro das eleições.
No primeiro turno, Lula teve 48,43% dos votos dos eleitores brasileiros, contra 43,20% de Bolsonaro. Entre os mineiros, esses índices foram de 48,29% e 43,60%, respectivamente.
Aliados de Lula afirmam que agendas em Minas Gerais também são importantes na tentativa de diminuir os índices de abstenção. No primeiro turno, nacionalmente, o índice registrado foi de 20,95% – em Minas, 22,28%.
— A média de abstenção nas regiões onde tivemos larga vantagem de votos foi maior que a média estadual. Temos a avaliação que são votos nossos de pessoas que, principalmente, tiveram dificuldade de se locomover no dia da votação — diz à reportagem o senador Alexandre Silveira (PSD).
Continua depois da publicidade
Silveira diz ainda que um dos desafios da campanha é justamente atrair o voto dos indecisos. Para ele, é preciso insistir na estratégia de desmentir notícias falsas propagadas por Bolsonaro e seus aliados, como a que Lula irá fechar igrejas ou fará banheiros unissex caso eleito.
“É a campanha ardilosa do bem contra o mal que Bolsonaro armou o tempo todo para chegar na campanha tentando ludibriar a consciência popular”, diz o senador.
*Reportagem de Victoria Azevedo