É cada vez maior o número de brasileiras que tentam engravidar depois dos 35 anos. São elas as responsáveis por metade do movimento das clínicas de fertilização no país. Dessas, pelo menos 20% têm mais de 40 anos. Nessa faixa etária, porém, restam poucos óvulos para garantir a fertilidade feminina e as chances de gravidez com óvulos próprios são inferiores a 5%. Neste contexto, é de extrema relevância a idade da paciente: as mais novas (com menos de 30 anos) podem esperar por tratamentos clínicos ou cirúrgicos, que são mais prolongados; as mais velhas (com mais de 35 anos) têm urgência por um resultado positivo, geralmente obtido com as técnicas de reprodução assistida.
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A adoção de um óvulo tem sido uma das opções válidas para que as mulheres mais velhas constituam uma família. Chamada de Ovodoação, essa técnica de reprodução assistida se dá quando os gametas femininos são oriundos de uma mulher doadora e o embrião resultante é transferido para uma receptora. A fertilização, feita em laboratório, pelo mesmo método da fertilização in vitro, é então realizada com os espermatozoides do marido da receptora. Mas, caso o homem também seja infértil, eles podem receber óvulos fertilizados de outro casal, paciente do programa de fertilização in vitro ou inseminação artificial, de forma anônima.
– A doadora deverá passar por um processo de indução da ovulação indicado para o bebê de proveta. Paralelamente, a receptora recebe hormônios que preparam o endométrio para receber os embriões. Enquanto os óvulos se desenvolvem na doadora, o endométrio da receptora fica mais espesso, a cada dia. Quando os óvulos da doadora forem aspirados, parte deles será encaminhada para a receptora, sendo fertilizado com o sêmen do próprio marido. Em seguida, os embriões são transferidos para cada uma das pacientes – explica o ginecologista Joji Ueno, doutor em medicina pela Faculdade Medicina da USP.
A Ovodoação é uma técnica com excelentes resultados e representa uma forma viável de se obter uma gestação em determinadas pacientes que antes tinham um diagnóstico de infertilidade. Segundo Ueno, investigações recentes registram taxa de gestação de 15% por transferência embrionária em ciclos com óvulos próprios em mulheres com mais de 40 anos, com 37% de abortamento, sendo que a doação de óvulos permite taxa de gestação 49,5% por transferência embrionária, com 20% de abortamento. Vale lembrar que essas mulheres são consideradas mais ‘velhas’ apenas do ponto de vista reprodutivo. Algumas podem ter filhos naturalmente até depois dos 50 anos de idade, mas é raro. Muitas já não conseguem ter filhos, mesmo recorrendo às tecnologias mais modernas aos 40 anos, por exemplo. Exceto, se recorrerem ao recebimento de óvulos de pacientes mais jovens.
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– Com o tempo, a qualidade dos óvulos vai diminuindo e isso ocorre progressivamente. Infelizmente, há uma discrepância entre os novos anseios e aspirações da mulher no mercado de trabalho e a sua biologia, pois a função reprodutiva feminina não acompanha as tendências sociais do mundo moderno – avalia.
Faltam óvulos de mulheres negras e orientais
Ao contrário de países como Estados Unidos e Espanha, a doação de óvulos no Brasil não pode ter caráter lucrativo ou comercial, ou seja, é proibida a venda de gametas e embriões. A coleta, gratuita e voluntária, depende da solidariedade de homens e mulheres aos problemas de infertilidade, já que não há nenhuma recompensa material. Em consequência disto, o tempo de espera por uma doação pode ser grande.
O problema é ainda maior quando se tenta cumprir outra regra: garantir que o doador tenha a maior semelhança fenotípica e imunológica e a máxima possibilidade de compatibilidade com a receptora. Assim, o número de doações, que já é baixo, fica ainda menor em relação às etnias negra e oriental. Para o ginecologista, é preciso criar campanhas de conscientização e sensibilização porque a maioria das pessoas não sabe o que é Ovodoação e como é o procedimento.
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– Nos bancos de sêmen oficiais e nos programas de doação de óvulos são pouquíssimos os cadastros de doadoras orientais e negras. A dificuldade é ainda maior entre os orientais porque a seleção, além de racial, é também étnica. Apesar de semelhantes fisicamente, os coreanos, chineses e japoneses se sentem diferentes uns dos outros – diz o especialista.
A Ovodoação no Brasil
Segundo as orientações do Conselho Federal de Medicina, as regras gerais para doação de óvulos são:
? A doação nunca terá caráter lucrativo ou comercial. Não se vende óvulos (nem espermatozoides).
? Os doadores não podem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa. Obrigatoriamente serão mantidos o sigilo e o anonimato. A legislação não permite doação entre familiares.
? As clínicas especializadas mantêm de forma permanente um registro dos doadores, dados clínicos de caráter geral com as características fenotípicas (semelhança física), exames laboratoriais que comprovem sua saúde física e uma amostra celular. A escolha dos doadores baseia-se na semelhança física, imunológica e a máxima compatibilidade entre doador e receptor (tipo sanguíneo etc).
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As doadoras devem ter as seguintes características:
? Menos do que 35 anos de idade.
? Bom nível intelectual.
? Histórico negativo de doenças genéticas transmissíveis.
? Teste negativo para doenças infecciosas sexualmente transmissíveis (Hepatite, Sífilis, Aids etc) e tipagem sanguínea compatível com a receptora.
As pacientes fontes doadoras são:
? Mulheres férteis que desejam submeter-se à ligadura tubária poderão ser incentivadas a aceitar a estimulação ovariana e a doação de óvulos.
? Pacientes do programa de Fertilização In Vitro ou Inseminação Artificial com altas respostas ao estímulo ovariano às vezes desejam de forma voluntária e anônima doar parte dos óvulos obtidos.
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? Doação compartilhada: neste caso, a receptora pagaria parte dos custos da paciente que têm indicação para bebê de proveta (doadora), mas não pode fazê-los por motivos financeiros. Em troca, a receptora recebe metade dos óvulos produzidos pela doadora.