O desprendimento de doadores anônimos devolveu cor à vida de Maria Batista dos Santos, 67 anos, e Luiz dos Santos, 42. Mãe e filho, ambos passaram por transplantes de olhos em Itajaí, após terem enfrentado uma demorada espera. Somente no Hospital Marieta Konder Bornhausen, o maior da região, 74 pacientes aguardam para receber uma nova córnea. Se consideradas todas as formas de transplantes, o número de pessoas na fila de espera, em todo o Estado, passa de 1.400. Entre janeiro e agosto deste ano, 87 potenciais doadores foram identificados no Hospital Marieta. Mas somente 30 tiveram a retirada de algum órgão ou tecido autorizada pela família _ praticamente um terço.

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Embora a quantidade de doadores tenha aumentado 10% ao ano, ainda é insuficiente para suprir a demanda. O momento delicado e doloroso da perda de um parente e, em muitos casos, a recusa do próprio paciente em ser doador, ainda em vida, são alguns dos motivos que levam os familiares a negar a doação. Hoje, quando se comemora o Dia Mundial do Doador de Órgãos, a palavra de ordem é conscientizar e sensibilizar para mudar os números.

– O que explicamos às famílias é que a doação de órgãos é uma forma de não acabar tudo com a morte, de não ficar em vão. Doar é uma extensão da vida – diz Milene Aparecida Machado, coordenadora da Comissão intra-hospitalar de doação de órgão e tecidos para transplantes do Hospital Marieta.

A ideia é derrubar tabus. Muitas famílias argumentam que gostariam de manter a integridade do corpo quando negam a doação _ embora os órgãos sejam retirados em cirurgia e o procedimento não impeça que seja feito um velório como outro qualquer.

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Contra o tempo

A retirada de órgãos se resume àqueles que foram autorizados pela família. A partir daí, começa uma corrida contra o tempo para fazer com que o sim dos familiares não seja em vão: órgãos mais sensíveis, como coração e fígado, devem ser transplantados em até quatro horas _ e a maioria viaja para longe. Hoje, o único hospital da região a fazer transplantes é o Marieta Konder Bornhausen, que trabalha exclusivamente com córneas. Desde outubro do ano passado, quando o hospital foi credenciado para o trabalho, 41 pacientes já foram transplantados. Maria e Luiz estavam entre eles.

– No dia em que me chamaram para o transplante, tremi. Mas foi maravilhoso – diz Maria, que passou pelo transplante há oito meses. Passada a cirurgia, aos poucos o olho esquerdo, que não enxergava nada, foi se enchendo de luz. A fisionomia dos filhos e netos ficou mais nítida, e ela pode voltar a pintar e costurar.

Luiz, filho de Maria, foi submetido à operação em julho. Se diz grato à família que fez a doação e permitiu que ele voltasse a enxergar perfeitamente.

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– Sou doador porque tenho certeza de que quem receber meus órgãos vai ficar tão feliz quanto eu fiquei – afirma.

Doação pode ser feita em vida

O melhor caminho para se tornar um doador de órgãos após a morte é deixar claro, em vida, que tem esta vontade. Em julho, o Ministério da Saúde lançou uma parceria com o Facebook para incentivar as doações. Todo usuário da rede social pode tornar pública a intenção de doar, incluindo este dado no perfil (veja tutorial). Somente no primeiro mês, mais de 80 mil pessoas se declararam doadoras.

Mesmo assim, a decisão entre doar ou não vai caber à família. Até 12 anos atrás, a condição de doador podia ser incluída na carteira de identidade ou de habilitação, mas hoje isso não tem mais validade.

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– É a família quem decide. Muitas vezes doam tudo, em outras não querem doar pele, coração, ou olhos. Tudo vai depender do que a família quiser – explica Milene Aparecida Machado, que trabalha com a captação no Hospital Marieta Konder Bornhausen.

É possível, também, ser doador em vida. No caso de órgãos como rins e pâncreas, é preciso ser parente de até quarto grau ou cônjuge para ter a doação aceita. No caso de medula óssea, a doação é mais simples: ao se apresentar, o candidato retira uma amostra de 5 mililitros de sangue. O cruzamento de dados é feito pelo Hemocentro de Santa Catarina (Hemosc). Se for encontrado receptor compatível, é agendada a doação.