Se amamentar é um ato de amor, o que dizer de quem doa o leite materno? Para quem precisa, a doação é amor em dobro. E esta união não seria possível sem um elo que conecta as duas pontas, recebe e encaminha o leite e faz essa roda girar. Conheça a seguir três das muitas histórias que fazem parte do ciclo do leite humano, capaz de salvar vidas por meio da solidariedade:
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O começo
O desejo de Magda Giacomelli, 29 anos, sempre foi doar um pouco da vida que corre dentro dela para quem precisasse de sua força. O sangue não pode ser compartilhado — por conta de uma anemia — e foi por isso que, ao engravidar da pequena Cecilia, hoje com seis meses, que ela soube qual seria a força que poderia compartilhar: o leite materno.
Duas semanas após o nascimento da primeira filha ela começou a retirar o leite — procedimento que se chama ordenha — para fazer a doação. Recebeu assistência das funcionárias do Banco de Leite Humano de Blumenau e começou a doar:
— Eu entrei em contato com eles e na mesma semana já vieram na minha casa. Trouxeram o material, eu mostrei meus exames, elas me explicaram como fazer a ordenha da forma correta e ainda deram várias dicas de amamentação.
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A desenhista conta que já chegou a doar de cinco a seis vidros por semana, o que significa cerca de dois litros de leite, além do destinado a Cecilia. Atualmente ela passa por uma fase de transição: está retomando a atividade profissional e acostumando a bebê a consumir o leite materno na mamadeira, que é dada pelo pai quando ela está distante. Isso fez com que a quantidade diminuísse, mas ela acredita que logo vai voltar à rotina normal e planeja seguir doando.
Com todo o trabalho que tem, de aprender a ser uma nova mãe, a se entender com sua pequena e retornar a suas atividades, Magda vai além e vê na doação muito mais que o frasco de leite: para ela é a doação de seu tempo e de sua solidariedade com o próximo que fazem a diferença.
Mesmo entendendo que a maternidade é um caminho de surpresas e que quem vai decidir até quando segue o aleitamento é a pequena Cecilia, Magda pretende seguir amamentando, doando leite materno e sendo feliz enquanto for possível:
— Antes de ter filho eu achava que era um ato bonito, de amor, mas quando eu consegui doar pela primeira vez foi uma felicidade tão grande quanto ter a minha filha. Me enche de orgulho poder doar.
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A ponte
O caminho entre quem oferece e quem precisa de algo é, muitas vezes, cheio de obstáculos e é por isso que as pessoas constroem pontes: para facilitar o acesso a um lugar diferente e especial. É mais ou menos esta a função exercida pelo Banco de Leite Humano que, mais do que um espaço de processamento e distribuição de um produto, é um Centro de Lactação desenvolvido para que seja possível colocar em prática a política do aleitamento materno.
Funcionária do local desde a sua fundação, em 1998, a atual coordenadora do espaço Elisabeth Kuehn de Souza conta que já viu passarem por ali muitas histórias de vida como a de Manuela, uma bebê prematura que nasceu com apenas 500 gramas e foi alimentada com o leite da própria mãe, que coletava e mandava para a pasteurização no banco de leite. Depois o alimento era devolvido ao hospital para que ela fosse alimentada até que pudesse ir para casa.
— Quem nos procura é por ter alguma dificuldade, então, ainda bem, a maioria consegue amamentar. Diariamente nós vemos aqui histórias de luta e de superação, porque muitas mães vêm com muita pressão e é claro que elas têm dificuldades. Também tem muita história bonita, como a da nossa maior doadora até hoje, uma mãe que doou 1.245 frascos de leite, isso dá mais ou menos 600 litros, durante dois anos — relembra.
Hoje o Banco de Leite conta com uma equipe multidisciplinar de 13 pessoas com enfermeiras, pediatras, psicóloga, nutricionista e bioquímica, entre outros profissionais. As doadoras são cadastradas e variam de 50 a 80, dependendo da época do ano, e processa de 200 a 250 litros de leite materno por mês. Após passar pelo processo e pasteurização e por todas as análises, a maior parte do leite é distribuída aos hospitais da região para bebês prematuros internados em Unidades de Terapia Intensiva Neonatal.
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O banco de leite também oferece atendimento gratuito a mães — e famílias — que têm dificuldades para fazer evoluir o processo de amamentação, já que tudo está incluso na política de aleitamento materno:– O Brasil é modelo mundial de apoio ao aleitamento materno. As políticas desenvolvidas aqui têm resultados e servem de exemplo para muitos lugares, porque nós entendemos que tudo faz parte de um conjunto: que o leite materno é o melhor alimento para o bebê, que a família precisa participar desse processo e a mãe tem que estar tranquila, pois tudo influencia na produção do leite. São as emoções que controlam o corpo e a gente precisa entender isso para tudo funcionar.
O destino
Hector Voltolini chegou ao mundo há pouco e antes da hora. Decidiu sair da barriga da mãe com apenas 34 semanas de gestação. Há seis dias seu cantinho na Terra é uma incubadora da UTI Neonatal do Hospital Santo Antônio, onde ele está hospedado para ganhar forças e aproveitar a vida que lhe espera.
Do lado da máquina a dona de casa Suelen Voltolini, 24 anos, segura a mãozinha do pequeno pela janela redonda e espera ansiosa o dia em que vai pegá-lo no colo e oferecer a ele o alimento que ela própria produz. Enquanto isso não acontece, ela agradece o leite que vem de outros seios, de outras mães, para alimentar o seu rebento que cresce a cada dia:
— Eu tiro o meu leite para ele, mas ainda é pouco, então esse leite que vem doado é muito importante para ele se fortalecer.
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O bebê é o terceiro filho da jovem mãe e do pai Joelison Nunes da Silva, 25 anos. Os mais velhos nasceram no tempo certo e puderam aproveitar logo de cara toda a saúde transmitida pelo leite materno.
Hector ainda precisa esperar e recebe o alimento por meio de uma pequena sonda, já que ainda é muito pequeno para ser alimentado pela boca. O pai, que também fica ao lado do menino todo o tempo que pode, também agradece o alimento doado por outras mães, que considera essencial para a vida do filho e acredita que sua recuperação seria muito mais difícil se não houvesse a doação.
Ansiosos para levar Hector para casa, os pais agora contam o tempo e esperam que ele passe rápido. Além de poder pegar seu pequeno no colo, Suelen quer mesmo é poder alimentá-lo em seus braços para que ele possa crescer feliz e com toda a saúde que carrega o leite materno.