Em frente ao espelho, Bruna* tentava enxergar o brilho que havia sido arrancado dela. Com o incentivo da irmã mais nova, a blumenauense aproveitou aquela sexta-feira à noite, 23 de setembro, para se maquiar mesmo que não fosse sair de casa. Isso porque não se tratava apenas de um momento de vaidade ou autocuidado. Depois de tudo o que tinha vivido, o simples ato de passar um batom representava liberdade. Um direito que lhe foi tirado nos minutos seguintes pelo ex-companheiro.
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Três tiros a atingiram naquele fatídico dia. Diferentemente do que se costuma noticiar, no entanto, Bruna sobreviveu à tentativa de feminicídio. Por isso, dessa vez, é ela quem vai contar a própria história.
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Bruna sentiu na pele o que era ser vítima de violência psicológica diariamente. Aquele era o segundo relacionamento dela, com 30 anos de idade. No início, parecia um conto de fadas, relembra. O ex-companheiro a levava para jantar fora e lhe entregava flores com frequência. Era praticamente impossível desconfiar de qualquer comportamento agressivo.
Até que os primeiros episódios de ciúmes foram surgindo.
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— Ele me matava psicologicamente. Me proibia de falar com a família, com meus pais, com meus irmãos. Me proibia de usar roupas que ele considerava vulgares, me controlava — conta.
A experiência vivida por Bruna, no entanto, não é um caso isolado. Uma pesquisa desenvolvida pelo projeto Focus, da Universidade Regional de Blumenau (Furb) e obtida com exclusividade pelo NSC Total Blumenau, mostrou que a maioria das blumenauenses já se viu em um relacionamento abusivo. Das mais de 3,2 mil mulheres entrevistadas para o estudo feito em 2024, 60,8% relataram já ter sofrido violência psicológica.
O número é ainda mais preocupante quando elas são questionadas sobre realidades alheias: 81,5% disseram conhecer ao menos uma mulher que já foi vítima dessa violência “invisível”.

Para a psicóloga e pesquisadora na área de violência contra mulheres e feminicídio, Camila Maffioleti Cavaler, os dados são, de fato, alarmantes. O que chama a atenção, porém, é que o estudo evidencia que as mulheres estão, cada vez mais, identificando e desnaturalizando a violência psicológica, o que, segundo a especialista, pode ser difícil na maioria das vezes — principalmente por ser algo impregnado em uma cultura machista, conforme explica.
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— Ao mesmo tempo, parece que as mulheres têm mais facilidade de fazer esse reconhecimento quando se trata de uma outra mulher do que em sua própria situação. Já que, por exemplo, 67% também afirmaram conhecer alguma mulher que já sofreu violência física, mas apenas 23,3% disseram ter sido a própria vítima. É importante nos questionarmos se essas mulheres compreendem que empurrões, puxões de cabelo e agressões leves também são consideradas violência física — complementa.
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Ao todo, a pesquisa questionou mulheres a respeito de oito tipos de violência diferentes: física, psicológica, sexual, patrimonial, moral, política, institucional e assédio sexual. Pelo menos metade (50,2%) das entrevistadas relataram saber de casos de violência sexual vividos por outras mulheres.
Quando questionadas sobre assédio, 70,7% disseram conhecer pessoas do sexo feminino que já passaram por esse constrangimento. Ao mencionarem as próprias experiências, 49% concluíram também já ter sido vítima de assédio sexual ao menos uma vez na vida (confira todas as respostas abaixo).
Da violência invisível até a tentativa de feminicídio
Cerca de dois meses depois do início do relacionamento, em meados de 2022, Bruna notou que algumas atitudes do companheiro lhe causavam desconforto. Todas as vezes que não estava ao lado do namorado, ela tinha de atender ele por vídeo para mostrar o lugar que frequentava naquele momento, por exemplo.
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Em algumas tentativas fracassadas, Bruna conversou com o companheiro para explicar que o comportamento dele não era aceitável em uma relação. O namorado até dizia que iria mudar, só que a promessa durava, no máximo, dois dias. Depois, o pesadelo voltava.
O sentimento de obsessão que tinha por Bruna fazia com que ele a impedisse, inclusive, de conversar com outros homens, conforme relembra a vítima. Em uma das últimas brigas que tiveram — por causa de outro episódio de ciúmes depois de Bruna ter postado uma foto nas redes sociais —, a mulher foi ameaçada pela primeira vez. Os dois estavam juntos há apenas seis meses quando o homem mandou uma mensagem a ela dizendo que, com ele, “mulher só se resolvia na bala”.

Àquela altura, os dois já moravam juntos, mas Bruna decidiu que era hora de partir. No dia seguinte, ela esperou que o companheiro fosse trabalhar para ir até a casa da mãe, onde pretendia ficar a partir de então. Ela conta, no entanto, que depois disso o namorado passou a persegui-la ainda mais. Entre as ameaças, o homem costumava dizer que, se não fosse com ele, Bruna não ficaria com mais ninguém.
Diante das intimidações, a mulher foi a delegacia para pedir uma medida protetiva. Foi nesse momento que ele afirmou que iria matá-la.
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Dez dias depois, o homem invadiu o apartamento da mãe de Bruna, onde ela e a irmã mais nova se maquiavam como uma forma de melhorar a autoestima. Eram 22h30min de uma sexta-feira, dia 23 de setembro de 2022.
Com a ajuda de um comparsa, ele deu o primeiro tiro contra a ex-namorada. Mesmo já caída ao chão, Bruna foi atingida por mais dois disparos, tendo um deles acertado o abdômen dela. Antes de desmaiar, a mulher lembra que ainda foi agredida pelo ex-companheiro.
Mesmo assim, Bruna sobreviveu à tentativa de feminicídio. Foram 15 dias internada no hospital, sendo cinco na UTI. Até hoje, a mulher segue fazendo acompanhamento psicológico e indo em consultas médicas, já que um dos tiros comprometeu o funcionamento do fígado, intestino e estômago.
Na barriga, a cicatriz decorrente de uma cirurgia quase desaparece em meio aos ramos de flores tatuados para ressignificar aquela marca que, antes, remetia apenas à dor. A arte foi feita em Jaraguá do Sul, por um profissional especializado em atender mulheres vítimas de violência doméstica. Ela não precisou pagar valor algum pelo trabalho.
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Mais ao ombro, a frase “seja forte e corajosa” dispensa explicações. Afinal, qualquer um que conheça a história de Bruna sabe do impacto desses adjetivos na vida dela. É exatamente isso o que a define.
O criminoso, por sua vez, foi preso em flagrante em 2022, mas somente em março de 2024 passou por júri popular. Para Bruna, foram anos de angústia até que se sentisse, novamente, segura e em paz.
— Eu fiquei com bastante medo de soltarem ele, de concluírem que ele não tinha feito nada, ainda mais porque eu acho que quando a gente é mulher, muitas vezes a verdade não está do nosso lado. Somos julgadas, culpadas. Mas nada justifica tirar a vida de uma pessoa — ressalta.
O agressor foi condenado a 29 anos de prisão. Já Bruna, hoje com 32 anos, teve a oportunidade de renascer, como ela mesma diz. Agora, ela dá palestras para mulheres que sofrem violência doméstica, pois sabe o quão difícil é se libertar desse ciclo. Além disso, também decidiu que quer ser assistente social para seguir com o propósito de ajudar outras pessoas.
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— Me sinto vitoriosa por poder ajudar essas mulheres. Sei que a maioria delas vai e não volta mais [quando chega ao estágio do feminicídio]. Mas eu estou aqui para pedir justiça e lutar por todas nós — finaliza Bruna.
E ela, certamente, não está sozinha.
Uma nova vida após um casamento violento de quase 30 anos
Para Bruna, bastaram seis meses até que o ciclo de violência terminasse na tentativa de feminicídio. Em outros casos, essa situação pode perdurar por quase 30 anos. Foi o que aconteceu com a dona Maria*, que saiu do Ceará para morar em Blumenau aos 19, em busca de um emprego. Com 24 anos ela se casou com um companheiro que conheceu na nova cidade e não demorou para que se visse vítima de um relacionamento violento.
O primeiro tapa veio ainda no puerpério, logo depois de gerar a primeira filha. Além das agressões, dona Maria também precisou lidar com a violência psicológica, já que o ex-marido a menosprezava sempre que tivesse a oportunidade, conforme relembra.
— Quanto mais eu convivia com aquela violência, mais eu ia me acostumando. Pensava que eu merecia — conta.
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A psicóloga Camila explica que é comum mulheres serem ensinadas, desde criança, a planejar relacionamentos e casamentos. Assim, no futuro, algumas atitudes suspeitas cometidas pelos companheiros podem não receber a devida atenção, já que o principal foco, naquele momento, está em construir a tão sonhada família com a pessoa que encontrou.
— Essa idealização pode fazer com que não percebamos sinais de violência que podem estar presentes desde o início do namoro. O desejo de fazer a relação dar certo tende a fazer com que percebamos nosso parceiro a partir de um filtro, onde apenas características positivas serão filtradas — complementa.
Segundo Camila, ao iniciar um relacionamento é importante analisar o que é dito pela pessoa, mas também ficar atenta, principalmente, ao modo como ela age com os outros. A psicóloga ressalta que não existe uma receita pronta para tentar se proteger de relações violentas antes de conhecer alguém, mas que sinais como ciúmes, tentativa de controle e manipulação geralmente são indicadores de agressividade.
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No caso de dona Maria, vizinhos e colegas enxergavam o marido dela como um bom pai e amigo. Dentro de casa, porém, ela vivia um medo constante. De madrugada, chegava a acordar com o companheiro em cima dela e sendo estrangulada. Os filhos pequenos ainda tentavam intervir para proteger a mãe, mas nada adiantava.
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Por isso, era comum que dona Maria dormisse com uma faca de cozinha debaixo do travesseiro caso tivesse de se defender do agressor. Durante anos ela não soube o que era ter uma noite de sono tranquila, já que vivia diariamente um pesadelo sem nem precisar fechar os olhos — e que perdurou por quase três décadas.
— Enquanto eu apanhava, ele ia dormir e eu ficava com a cara toda inchada, com o olho roxo. Hoje em dia eu uso óculos porque uma vez ele me deu um soco tão forte que o meu olho quase saiu para fora — relembra.

Nessas situações, dona Maria evitava sair de casa com os machucados à mostra por medo de ser julgada pelas outras pessoas. À época, ela também dependia do ex-companheiro financeiramente e ainda tinha filhos pequenos para sustentar.
A vítima conta que, antigamente, chegava a recorrer aos órgãos de segurança quando era violentada pelo marido. As denúncias, no entanto, não valiam de nada.
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— Eu chamava a polícia, mas chegava a escutar dos próprios policiais que eu tinha que sair de casa e deixar ele esfriar a cabeça. Até que um dia eu falei que quando ele me batesse de novo, eles viriam só para buscar o meu corpo — relata.
A Lei Maria da Penha, vale lembrar, entrou em vigor apenas em agosto de 2006, ao ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A partir dali, se tornou o principal instrumento legal no combate à violência doméstica.
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Aos 40 anos de idade, quando levou outro tapa do marido, dona Maria decidiu que aquele seria o último. Buscou ajuda da assistência social e pediu para que fosse acompanhada até uma delegacia, onde iria denunciá-lo mais uma vez.
No meio de uma batalha dura que envolvia, também, a guarda dos filhos, a mulher ainda encontrou forças para dizer que homem nenhum jamais encostaria um dedo nela novamente.
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Hoje, faz oito anos que dona Maria — assim como Bruna — renasceu para uma nova vida. Oito anos desde que ela viu com os próprios olhos o agressor finalmente indo embora de casa depois de conseguir uma medida judicial.
E, mesmo após quase uma década, dona Maria conta que ainda lembra, com todas as letras, a frase que ecoou dentro da própria mente enquanto se despedia de um passado cruel: “A partir de hoje eu estou liberta de ti”.
Como ajudar uma mulher em situação de violência?
Em cerca de 30 anos, a violência vivida por dona Maria também foi presenciada por pessoas que conviviam com ela. Alguns amigos e vizinhos tinham consciência do que ela passava entre quatro paredes, mas também não sabiam como tirá-la daquela situação, relembra a vítima.
— Às vezes eu dormia na rua, atrás da minha casa. Ouvia meus filhos chorando e me procurando. Às vezes ia para a casa dos vizinhos, mas nem eles queriam mais me apoiar porque tinham medo que o agressor fosse lá, brigar com eles também — conta dona Maria.
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A psicóloga Camila explica que, hoje, qualquer pessoa pode fazer uma denúncia de violência física ou sexual. Já nos casos de violência patrimonial, psicológica e moral, é a própria vítima que precisa tomar a iniciativa.
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A especialista ressalta, no entanto, que é preciso levar em conta que, quando uma mulher se encontra em um ciclo da violência, ela pode optar por permanecer nesse relacionamento, ainda que outra pessoa faça uma denúncia em nome da vítima.
Isso porque, segundo Camila, é comum que a violência contra a mulher ocorra em três etapas, com o objetivo de manter a vítima naquela situação. A primeira delas é a tensão, quando a pessoa sente que precisa pisar em ovos com o companheiro pois, a qualquer momento, uma palavra “errada” pode ser o estopim para a violência física.
Quando a agressão de fato ocorre, começa o período da “lua de mel”, onde o autor pede desculpas, faz promessas à companheira e ainda costuma presentear a mulher. Assim, de forma cíclica, a violência tende a continuar e pode ir ficando cada vez mais grave, explica a psicóloga.
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Por isso, é comum que no momento da violência a mulher esteja disposta a denunciar, mas tente retirar a queixa quando se vê na fase da lua de mel, decidindo permanecer com o agressor. O momento pode interferir na escolha da vítima justamente por mexer com idealizações sobre família, casamento e o desejo de manter a relação, ressalta Camila, tornando difícil o processo da separação conjugal.
— Mas então como podemos ajudar? Caso a mulher queira denunciar, podemos ajudá-la com informações, acolhimento e, talvez, acompanhando-a até uma delegacia. Caso ela não queira, podemos encaminha-la para grupos com mulheres em situação de violência, psicoterapia e serviços da rede pública, como Cras, Creas e UBS. O objetivo desse encaminhamento é para que ela se fortaleça, recupere sua autonomia e, após isso, consiga, efetivamente, fazer a denúncia e se separar do autor da violência — recomenda a especialista.
Foi por esse caminho, inclusive, que dona Maria e Bruna conseguiram se reerguer. Dentro de uma sala, elas encontraram tudo aquilo que lhes fora tirado de forma agressiva e covarde. Depois de meses e anos presas em relacionamentos violentos, as duas finalmente puderam entender, novamente, o significado de amor, empatia e respeito.
O Instituto Bia Wachholz
Em pleno “coração” de Blumenau, um edifício de três andares abriga muito mais do que roupas para brechó e itens artesanais. As paredes cor-de-rosa da sala trazem vida para um ambiente que tem, de fato, essa função no dia a dia de algumas mulheres.
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Ali, em frente ao Teatro Carlos Gomes, na Rua XV de Novembro, fica o Instituto Bia Wachholz, uma Organização Não Governamental (ONG) que acolhe mulheres, adolescentes e crianças vítimas de violência.
A entidade foi fundada em agosto de 2018 após o feminicídio de Bianca Wachholz em Blumenau, ocorrido no dia 25 de julho daquele mesmo ano. A ideia, na época, veio da própria Bia, que tentava se libertar de um relacionamento abusivo enquanto pretendia, também, ajudar outras mulheres a saírem de situações semelhantes de vulnerabilidade e perigo.

Antes que pudesse tirar esse projeto do papel, Bianca foi assassinada pelo ex-companheiro. O legado dela, no entanto, ganhou ainda mais força a partir de então.
Atualmente, cerca de 20 voluntárias atuam no Instituto Bia Wachholz, que passou a ser liderado por mulheres decididas a honrar a memória de Bianca. Uma delas é Luana Geiss, que entrou para a iniciativa em 2019 e, hoje, é responsável pela gestão dos projetos da ONG.
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Entre eles, estão as oficinas de artesanato e empreendedorismo, por exemplo. Muito além de desenvolver práticas e habilidades, Luana explica que a iniciativa busca, também, ajudar mulheres a recuperarem a autoestima. Através do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), essas vítimas chegam ao instituto e encontram, umas nas outras, uma força que nem elas mais acreditavam ter.
— O projeto de oficinas, desde que ele acontece, foi o principal projeto do Instituto. Ele vem muito nesse encontro de elas entenderem que não estão sozinhas. Elas fazem amizades, se fortalecem, saem juntas, conversam e desabafam. Elas dão risadas ali. Então é um espaço onde essas mulheres saem um pouco da rotina, já que muitas delas ainda estão em um relacionamento abusivo — ressalta Luana.

Assim como já mencionado pela psicóloga Camila, a voluntária do instituto explica que algumas mulheres não conseguem se desvencilhar de relações violentas por diferentes motivos, desde dependência financeira até questões psicológicas, por exemplo.
Por isso, a instituição busca servir como um canal de acolhimento e suporte para as vítimas, ressalta Luana. A ideia é levar informação até elas e orientá-las com o auxílio de profissionais, para que saibam, acima de tudo, que não estão sozinhas.
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— Estar com essas mulheres é entender também os processos. É um aprendizado diário, onde a gente tem de quebrar os nossos próprios preconceitos e julgamentos. Me trouxe também muito fortalecimento como mulher, de entender o meu lugar, o meu espaço. Do que que eu sou capaz também — conta.
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Tanto Bruna como dona Maria frequentam o Instituto Bia Wachholz atualmente. Para as duas, o espaço se tornou um porto seguro assim que souberam da existência do lugar. Ali, elas não precisavam temer julgamentos, nem esconder cicatrizes. Empatia sempre teve de sobra naquele grupo. E, para Luana, é justamente isso o que torna a ONG uma verdadeira família.
— O instituto, hoje, ajuda a fortalecer as mulheres por prestar um apoio muito humano. Porque, por mais que essas mulheres recorram a outros dispositivos, como Delegacia da Mulher ou Ministério Público, é tudo muito burocrático, protocolar. Aqui no instituto a gente tenta acolher, entender, ouvir, direcionar. Trazemos essa mulher para um lugar seguro. Criamos um espaço com um pouco de conforto para que elas possam ter mais coragem. Para que se entendam melhor — ressalta.

No caso de dona Maria, por exemplo, foi só depois de se libertar de uma situação de vulnerabilidade que ela conseguiu voltar a ter uma noite de sono tranquila. Levaram quase 30 anos até que ela entendesse que era, na verdade, uma vítima de um relacionamento violento.
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Hoje, dona Maria tem 57 anos. Alguns podem até pensar que é tarde demais para recomeçar. A nordestina de sotaque forte e risada espontânea, porém, tem mais disposição do que nunca para viver. Afinal, assim como Bruna e tantas outras que encontraram forças para resistir a diferentes tipos de abusos, dona Maria também é, agora, uma mulher livre.
— Hoje eu posso me olhar no espelho e até ver as marcas da velhice. Agora, as marcas por ter sido espancada por um homem… eu não tenho mais — finaliza dona Maria.
Como denunciar a violência contra a mulher
- Realizar a chamada ao 190 e conversar como se estivesse realizando um pedido de delivery é uma forma útil de pedir socorro;
- Qualquer cidadão pode fazer denúncias através da Central de Atendimento à Mulher, pelo número telefônico 180. As delegacias especializadas não são direcionadas a tratar apenas destes tipos penais, permitindo um socorro de forma mais ampla;
- Por meio da Delegacia Virtual da Polícia Civil;
- Disque Denúncia 181 (aceita denúncia anônima) ou (48) 98844-0011 (WhatsApp/Telegram).
*Bruna e Maria foram nomes criados pela reportagem para preservar as identidades das vítimas.
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