Receber pessoas está nos genes de Jaraguá do Sul desde a época em que centenas de passageiros desembarcavam dos vagões do trem, tão popular ao cotidiano jaraguaense. O tempo foi transformando o mundo e a cidade, a locomoção foi ficando cada vez mais fácil e, na medida em que nossas indústrias mandavam produtos para todo o Brasil, pessoas de todo o Brasil começaram a chegar nessa cidade cercada de morros, cortada por rios e transpassada por uma linha férrea.
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A cada ano que passa, os jaraguaenses ganham novas faces, novos sotaques, novas experiências e novas histórias. Pessoas de diferentes histórias se cruzam nos corredores dos supermercados, nos balcões do comércio e nos refeitórios das empresas. Criam times de futebol com mineiros, baianos, paranaenses e gaúchos. Misturam, cada vez mais, as origens e raízes de um país que nasceu, justamente, da mistura de raças e raízes.
Com muita facilidade, encontramos alguém que falará com saudade do lugar onde nasceu, mas que, em seguida, falará de Jaraguá do Sul com alegria e com um brilho no olhar.
Uma conversa
Pedro sempre abastecia seu carro no mesmo posto de combustível. Já estava acostumado com o atendimento do estabelecimento e já tinha feito certa amizade com os atendentes. Alcir, o frentista, era uma dessas pessoas.
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– Bom dia, Alcir. Completa pra mim?
– É pra já. Vai passear no feriado?
– Sim. Estou indo para Cascavel.
– Sério? Então o senhor vai passar pela minha terra.
– Você é paranaense também, Alcir?
– De Cantagalo. Dá uns 450 quilômetros daqui. O senhor conhece bem a região?
– Sim, conheço.
– Sabe aquela ponte de concreto que tem na rodovia?
– Sei, parece um arco.
– Isso. Ali já pertence a Cantagalo, minha terra.
– E você costuma ir para lá?
– Já faz uns 12 anos que não vou pra lá.
– Nossa… Por que tanto tempo?
– Falta de tempo, seu Pedro. E também, minha família toda veio pra cá. Meus filhos mesmo, nem querem saber de voltar pra lá. Estão todos bem criados aqui. Minha menina tá acabando a faculdade, meu mais velho trabalha numa empresa grande, mexe com computador, sabe como é.
– Que bom, Alcir. A gente se orgulha quando os filhos estão bem encaminhados, não é?
– Graças a Deus. Seu Pedro, quando o senhor estiver indo, tira uma foto daquela ponte de concreto. Ali já pertence a Cantagalo, minha terra.
* Cronista e escritor, 30 anos, nascido e criado em Jaraguá do Sul, onde enveredou pelo lado literário ainda criança.