O mês de maio foi palco de importantes momentos históricos de Joinville ao longo dos últimos séculos. Em 17 de maio de 1907, por exemplo, foi a primeira vez que um carro circulou pelas ruas da cidade do Norte catarinense. Foi neste mesmo mês, também, que foi fundada uma das sociedades mais tradicionais do município e que existe até os dias de hoje.

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Primeiro carro em Joinville

O primeiro carro que circulou por Joinville foi um Oldsmobile, com motor, volante e outros mecanismos aparentes. O item era considerado artigo de luxo na época e poderia ser comprado apenas por famílias da elite, já que precisava ser importado, este, inclusive, veio de Chicago, explica Dilney Cunha, coordenador do Arquivo Histórico de Joinville.

— Aqui era ainda mais de elite porque era uma colônia praticamente, e aí inclusive os proprietários faziam parte da elite local, que era uma família Trinks […]. Se já era caro nos Estados Unidos, se era para elite, aqui mais exclusivo ainda pelo fato de ter que importar. E aí, aumentava o valor dele  — conta Dilney.

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O episódio chocou a população local causando espanto, admiração e repercussão na mídia da época. Os carros só se popularizaram no Brasil após a década de 1950 com o plano de desenvolvimento de Juscelino Kubitschek e a implantação da indústria nacional. Antes disso, ainda existiram os táxis no anos 1930, mas ainda com valor alto.

Fundação da Harmonia Lyra

A associação mais antiga de Joinville e que continua em funcionamento também foi fundada no mês de maio, em 1858. O espaço tinha, inicialmente, foco na arte dramática amadora e atividades musicais.

Segundo Dilney, nos primeiros anos a associação passou por altos e baixos, isso porque não tinha uma sede e a Harmonia Lyra (na época apenas “Harmonia” já que ainda não havia acontecido a fusão com a sociedade Lyra) e espaços precisavam ser constantemente alugados. Inclusive, foi por esse motivo que as duas associações se fundiram, dando lugar à “Sociedade Harmonia Lyra”. A sede própria, como conhecemos hoje, passou a existir a partir dos anos de 1930, após a fusão das duas sociedades, conta Dilney.

Assim como os carros, os frequentadores da associação também faziam parte da elite local, explica o historiador,

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— Uma associação bem elitizada, tanto que ela era muito chamada, hoje ninguém fala mais disso, como aristocrática. Isso no antigamente, hoje não. Então era uma coisa bem de elite. E sempre muito vinculada aos valores, a cultura germânica, era o espaço de práticas culturais desses descendentes germânicos da cidade. Isso é bem nítido nas peças que eram em alemão — lembra Dilney.

O historiador também reforça que o espaço, existente há séculos, marcou a história da cidade por ser um espaço de práticas culturais. Segundo o coordenador do Arquivo Histórico de Joinville, foi dentro desse espaço que a dança ganhou força, junto com a bailarina Liselott Trinks. Mais uma vez, a família dona do primeiro carro de Joinville marcou a história da cidade: fundação da Harmonia Lyra e como precursora da dança no município.

Visita polêmica 

Mas, nem tudo foram flores na cidade. O mês de maio também marcou uma visita polêmica: o interventor federal Nereu Ramos visitou o município para propagar a campanha de nacionalização junto com o Estado Novo de Getúlio Vargas, o que desestimulou e inibiu imigrantes e descendentes a falarem a língua alemã.

— E lembrar que dois meses antes veio Getúlio Vargas em março, no aniversário da cidade. Foram duas visitas grandiosas, festejos, baile, desfile, só que é muito simbólico no mesmo ano num intervalo bem curto, esses dois personagens tão importantes estiveram aqui porque, assim, Joinville era ainda muito afamada como uma cidade de influência germânica. A gente tem que pensar nisso […] Um dos objetivos [de Getúlio] era justamente atingir essas antigas colônias germânicas, também italianas, por exemplo, onde houvesse estrangeiros ou descendentes. Então a ideia era mesmo nacionalizar esses locais. […] E era assim uma heresia, ‘como assim ainda tem gente falando alemão?’ — conta Dilney.

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Apesar das festividades da vinda do interventor federal, as medidas nacionalistas marcaram gerações de imigrantes e descendentes. Dilney conta que, por anos, houve famílias que não suportavam ouvir o nome da família Ramos e que se sentiram prejudicados pela atuação de Nereu.

Além disso, o historiador lembra que as medidas não foram implementadas, mas impostas, que as pessoas eram delatadas e levadas ao exército para prestar esclarecimentos. 

— Ele era mais getulista que o Getúlio, digamos assim, sabe? Os descendentes de alemães não votavam nele, na família Ramos. […] Depois da Segunda Guerra Mundial, assim, até hoje, os mais velhos dessa linha germânica, se falar na família Ramos, eles vão dizer ‘ó, esse cara fez mal para nós. Esse cara perseguiu’ — conta.

Morte de uma figura marcante na cidade

Nascido em Joinville no dia 15 de março de 1868, Otto Boehm foi deputado estadual pelo Partido Republicano Catarinense, eleito com 2.172 votos, tendo participado da 10ª Legislatura, de 1916 a 1918. O político viveu por 55 anos e faleceu em 18 de maio de 1923. Hoje, o bairro América possui uma rua com seu nome.

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