Primeira líbero medalhista com a seleção brasileira de vôlei; campeã dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg; estudante de Educação Física; mentora e professora de um projeto social em Balneário Camboriú; mãe de Gustavo, 21, e Gabi, 13; atleta profissional de vôlei de praia aos 42 anos. E essa é só parte do currículo de Andréa Teixeira, paulista que há 12 anos escolheu o litoral catarinense como sua casa definitiva e seu centro de treinamentos.
Continua depois da publicidade
::: Brasileiro de Vôlei de Praia desembarca em São José
::: Leia mais notícias sobre Esportes
Incansável, a veterana das quadras e da areia será um dos destaques da fase Nacional doCircuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia, que desembarca em São José neste fim de semana para a quarta etapa da temporada 2014/2015. Competindo contra adversárias muito mais jovens, ela quer repetir ao menos o bronze conquistado ano passado e engatar uma boa série para, na sequência, defender o título nos Jogos Abertos de Santa Catarina.
Continua depois da publicidade
– Um pódio nos coloca na fase Open** da próxima etapa, entre as duplas melhores ranqueadas do Brasil. Faço 43 anos em dezembro e falo com orgulho minha idade, porque ainda consigo fazer o que eu gosto.
E é com ainda mais orgulho que ela relembra o passado de conquistas, deixado de lado por uma difícil escolha: às vésperas da Olimpíada de Sidney, para a qual estava pré-convocada, decidiu largar tudo e engravidar.
– Não dá para comparar minha carreira na quadra com a da praia. Fui muito bem-sucedida na quadra. Se não tivesse decidido parar em 2000, acredito que teria chegado ainda mais longe. Em termos de resultado e financeiramente, a quadra me deu muito mais. Ganhava bem, fui campeã pan-americana e eleita três vezes a melhor defesa da liga nacional, a atual Superliga.
Continua depois da publicidade

No entanto, o arrependimento hoje passa longe, e muito por ter encontrado em Itapema seu refúgio perfeito. A paixão pelo vôlei de praia vai além de qualquer título.
– Moro a 30 metros da praia, acordo com vista para o mar, não tem como ir embora daqui. Tem dias que antes do treino, de manhã cedo, na praia do Estaleirinho, abro os braços ali, aquele céu azul, e agradeço a Deus. Esse prazer do vôlei de praia é indescritível, apaixonante.
No fim, um desabafo de quem já viveu os altos e baixos da carreira de atleta:
– A gente fala que brasileiro tem memória curta e infelizmente é verdade. As pessoas não reconhecem tudo o que a gente fez, mas foi o que abriu portas para o que está acontecendo agora. Hoje o pessoal da quadra ganha muito dinheiro, mas quem começou tudo isso fomos nós. Fui a primeira líbero medalhista no feminino e o Kid, meu marido, o primeiro líbero da seleção masculina. Meu objetivo agora é passar minha experiência para frente.
Continua depois da publicidade
** A fase Open da etapa de São José será realizada no próximo fim de semana, no mesmo local, com a presença dos líderes do circuito, como os campeões olímpicos Ricardo e Emanuel e as últimas vencedoras Maria Elisa e Juliana.
Confira tudo o que Andréa disse ao Diário Catarinense sobre a transição das quadras para a areia e o que planeja daqui para frente:
“Você está louca?”
Sou casada com o Kid, ex-jogador da seleção brasileira. Em 1999, o seu clube, que viria a ser a Unisul, transferiu-se aqui para Santa Catarina, para Florianópolis. Na época, eu jogava no Osasco. Tinha acabado de ser campeã Pan-Americana em 1999 e estava pré-convocada para a Olimpíada de Sidney. Mas no começo de 2000 me deu aqueles cinco minutos, não aguentava mais, me estressei com meu técnico e falei quando cheguei em casa: “quero engravidar”. Kid não acreditou? “Você está louca? Acabou de ser convocada para uma Olimpíada”. Então fizemos um acordo. Era final de fevereiro, se até o final de março eu engravidasse, ótimo. Senão voltaria a tomar o anticoncepcional treinaria para confirmar a vaga para Sidney. Só que 20 dias depois já estava grávida da Gabi, nossa segunda filha. A gente veio para Florianópolis naquele mesmo ano, mas só vendemos as coisas em São Paulo três anos depois. Em 2001 voltei a jogar, mas já no vôlei de praia.
Continua depois da publicidade
Uma praia linda
No meu retorno, o problema da quadra foi que nunca tinha time para mim e para o meu marido no mesmo lugar, e, com duas crianças, não queria mais abrir mão de ficar com a família. Decidi então migrar para a praia, porque onde estivesse com ele poderia treinar. Morei em Porto Alegre, João Pessoa, Porto Rico, sempre treinando. Em 2002, em uma das nossas viagens, percebemos que não aguentávamos mais guardar as coisas em guarda-móveis. Aí falei para o Kid: “Tem um lugar que bato bola e é uma praia linda, vou comprar um apartamento lá”. Ele estava na Europa e disse: “Pelo amor de deus, olha onde vai enfiar nosso dinheiro”. Mas eu garanti que ele não se arrependeria.
Era Itapema. A princípio nossa intenção era morar em Floripa e ter Itapema como casa de praia, mas quando viemos em definitivo a gente teve certeza de que aqui era nosso lugar. Aqui é muito bom, moro a 30 metros da praia, acordo com vista para o mar, não tem como sair. Nossa vida está entre Balneário Camboriú e Itapema. Faço faculdade em Balneário, minha filha estuda em Itapema, meu marido trabalha em Balneário. Quando entrei na faculdade propus um projeto social em troca da bolsa, na área de esporte. Já sou formada e pós-graduada na área de gestão, e agora estou cursando educação física e quero partir para o lado de treinamento de alto nível.
Balanço da carreira
Não dá nem para comparar a carreira da quadra com a da praia. Fui muito bem-sucedida na quadra, acredito mesmo que se não tivesse parado em 2000 teria chegado mais longe, tido um bom tempo de seleção. Ganhava bem na época, fui eleita três vezes melhor defesa da Liga Nacional, melhor defesa sul-americana, melhor defesa do Mundial de Clubes. Tive uma carreira muito boa na quadra. Quando migrei para a areia, lembro de uma frase da central Ana Paula, que também já estava na praia: “Ai Andréa, foi uma pena, você veio muito tarde para praia”. Cortou meu coração, porque realmente, até você se adaptar para a praia, é muito diferente. A movimentação é diferente, a técnica é diferente, o físico na areia é fundamental, na quadra se você for bem habilidosa consegue superar algumas deficiências físicas, na areia é mais difícil.
Continua depois da publicidade
Não consegui chegar onde almejava. E, como abri mão da quadra pela minha família, tive oportunidades de ir para algumas etapas de mundiais e não quis, também não quis pegar uma parceira mais forte e sair de Santa Catarina para morar no Rio de Janeiro, porque minha prioridade sempre foi a família. Quando vim para cá, estava crescendo o vôlei de praia aqui, hoje tem bons atletas que já representaram Santa Catarina, mas quando comecei ainda estava nascendo, despontando para o Brasil.
Influência em Santa Catarina
Aqui acredito que sim, ajudei o esporte a crescer. Fui a primeira atleta a conseguir uma transferência que é direito do cidadão, mas a confederação brasileira não concedia. Fui a primeira atleta fora do estado, que não é natural de Santa Catarina, a se federar aqui. Aí trouxe a Paola da quadra, achamos que dava para adaptá-la, e foi uma aposta que deu muito certo – ela foi para a seleção sub-21 ano passado, foi para o Mundial e ficou em quinto lugar, e é uma menina que resgatamos da quadra em 2011, bem recente. Trouxemos também uma menina do Paraná que não era federada e hoje joga com a Leize. Então se não fosse por mim não teria essas jogadoras mais novas, fora a nova geração que está vindo.
Nova missão: passar experiência
Meu objetivo nessa temporada é ainda ir bem, tentar honrar a minha coroa no JASC, mas para o ano que vem já quero estar atuando na comissão técnica, passando a minha experiência. Até porque estou para completar 43 anos. Fico muito feliz e falo com orgulho minha idade, por ainda estar conseguindo fazer o que gosto. Duas temporadas atrás fui campeã em uma das etapas do Nacional. Mas meu projeto agora é de passar experiência para frente aqui em SC. Quero terminar a temporada 14/15 e para a próxima vou avaliar melhor no futuro.
Continua depois da publicidade
Nesta etapa de São José, nossa expectativa, minha e da Leize, é estar no pódio, porque aí conseguimos pontuação suficiente para estar no Open na próxima etapa. Não é fácil, porque no ranking brasileiro, da 10ª dupla para baixo é tudo muito equilibrado. É um campeonato difícil, mas estamos bem entusiasmadas, ainda mais por todas as competições que vem depois. Jogo com a Leize o Nacional, que fomos bronze ano passado em São José, e os Jogos Abertos de São Paulo, que somos as atuais campeãs, e tenho a Paola como dupla nos Jogos Abertos de Santa Catarina, que também somos as tatuais campeãs.
Prazer indescritível
Se for comparar resultados e financeiramente, a quadra me deu muito mais. Não tem como comparar o que um atleta de praia ganha com um atleta de quadra. Porque o atleta de praia que ganha bem é o que está no topo, sempre no pódio, pelas premiações, mas em termos de patrocínio é pouco. Isso a quadra me deu, financeiramente e também os resultados que eu tive, o Pan-Americano, os campeonatos brasileiros que ganhei, foi maravilhoso. Mas a praia é uma coisa assim apaixonante. Não dá para descrever.
Acordo de manhã, treino em um lugar… Você conhece o Estaleirinho? É um lugar lindo, tranquilo. Como é uma praia com restaurantes e baladas, só funciona mesmo quando tem feriado com sol, ou agora na alta temporada. O resto do ano inteiro ela é paradisíaca. São três centros de treinamento ali, o de Brusque, da Josi, o de Itajaí, que é o meu e da Paola, e o de Balneário, da Leize. Só fica agente treinando e os surfistas. Tem dias que abro os braços ali de manhã cedo, aquele céu azul e agradeço a Deus. Obrigada por me dar a oportunidade de ser perfeita, fazer o que eu amo, ter esse lugar lindo para trabalhar. Esse prazer da praia é indescritível , os lugares que a gente conhece, que a gente visita, é maravilhoso.
Continua depois da publicidade
Na trilha dos campeões
Tive o primeiro filho em 1993, logo que casamos, bem novinhos. O Gu hoje tem 21 anos, não seguiu a carreira dos pais, foi vice-campeão mundial de Jiu-Jtsu, tinha parado com 17 anos, mas voltou há quatro meses a competir e está cursando administração. E a Gabi que veio dessa encomenda de Sidney, é jogadora também, tem 13 anos, 1,86m, foi convocada para avaliação da Seleção brasileira infantil, o que me deixou muito emocionada, muito feliz por ela. Eu abri mão de uma coisa minha em determinado momento, mas Deus me abençoou com a vinda de uma jogadora. Ela ama jogar, eu fico enchendo o saco para ela jogar um pouquinho de praia, mas o pai faz a cabeça dela para jogar primeiro quadra.
Circuito Banco do Brasil de Vôlei de Praia – etapa Nacional
Onde: Beira Mar de São José, s/nº, Bairro Campinas, São José
Fase de grupos e quartas de final: 8 de novembro, das 8h30min às 16h
Semifinais e final: 9 de novembro, das 8h30min às 12h30min
Duplas participantes*:
Masculino
Bernardo Lima/Ramon Gomes (CE/RJ)
Benjamin/Harley (MS/DF)
Bernart/Léo Gomes (RJ/RJ)
Fabiano/Yuri (PE/BA)
Brian/Anderson Melo (SC/RJ)
Gilmário/Fábio Guerra (PB/RJ)
Álvaro Andrade/Yuri (SE/RJ)
Léo/Carlos Luciano (PB/RJ)
Feminino
Semírames/Fabrine (ES/BA)
Luiza Amélia/Érica Freita (CE/MG)
Andréa Teixeira/Leize (SC/SC)
Evelyn/Fernanda Nunes (SC/RJ)
Luciana/Luana (CE/ES)
Andressa/Tainá (PB/SE)
Mayana/Flávia (TO/RJ)
Karine/Paula Hoffmann (CE/RJ)
*mais quatro duplas em cada naipe classificadas pelo qualifying