“Salve o Marcílio, o rubro-anil das avenidas. Traz na torcida, a mais garrida do Brasil”. O trecho do hino composto em 1994 pelo músico Arildo Simão da Silva representa uma paixão centenária que começou com o desejo de três jovens amigos entusiastas do esporte em ter na cidade de Itajaí um clube de remo.

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Em uma reunião na noite do dia 17 de março de 1919, na Sociedade Guarany, Gabriel Collares, Victor Emmanoel Miranda e Alyrio Gandra foram os responsáveis pelo nascimento do que se tornaria um das mais tradicionais instituições esportivas de Santa Catarina, o Clube Náutico Marcílio Dias.

O clube recebeu o nome do bravo marinheiro morto aos 27 anos, na Guerra do Paraguai. O Marcílio Dias foi o quarto clube náutico fundado em Santa Catarina. Dois dos antecessores da capital Florianópolis foram homenageados por meio das cores, com a incorporação da cor azul do Riachuelo e o vermelho do Martinelli. Assim nascia o rubro-anil, que leva no escudo remos e âncoras, em alusão ao mar.

O nome de fundação já deixa claro, clube náutico. O remo foi o carro-chefe no início das atividades do Marcílio Dias, mas seguindo uma tendência nacional, o futebol tomou uma projeção inimaginável nas primeiras décadas do século 20.

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Desde as primeiras reuniões da diretoria o futebol já estava em pauta para ser uma das atividades desenvolvidas no clube. Segundo o jornalista e diretor de memória e cultura do Marcílio Dias, Fernando Alécio, o pontapé inicial do esporte no clube náutico veio com a incorporação do Itajayense Foot Ball Club, uma das mais antigas equipes de futebol que se tem registro em Santa Catarina.

A história de títulos no clube começou com o remo, com a conquista do Campeonato Catarinense em 1925. No tênis, os atletas do Marinheiro, como carinhosamente é chamado, levaram para a galeria de troféus os títulos do catarinense da modalidade em 1945 e 1947.

Com o fim do remo no clube, o futebol se popularizou e ganhou a notoriedade. Na década de 1960, Marcílio Dias e Metropol, de Criciúma, rivalizavam como as grandes forças do esporte em Santa Catarina, aponta Fernando Alécio. O time de Itajaí bateu na trave em 1960, 1961 e 1962. Em 1963, com um time estrelado o Marcílio reescreveu a história, conquistando o torneio Luiza de Mello, organizado pela Federação Catarinense de Futebol.

Achiles Pagnoncelli, hoje com 78 anos, foi o artilheiro da equipe naquele torneio e conta que as pessoas comentavam que o Santos tinha Pelé e cia e o Marcílio tinha Achiles, Ratinho, Odilon, Idésio e Jorginho, um esquadrão que botava medo aos adversários, principalmente no grande rival.

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– O pessoal do Barroso tinha medo de mim, sempre fazia gol neles – diz com um sorriso no rosto o artilheiro.

Gelson, o filho ilustre

Nascido em Itajaí e formado na base do clube, Gelson Silva é o atleta mais vitorioso da história recente do Marcílio Dias. Subiu ao profissional em 1988 e as boas atuações como meia armador o credenciaram para ser contratado pelo Criciúma em 1989.

Na equipe do Sul do Estado, o itajaiense mudou o estilo de jogo e começou a atuar como volante. No Criciúma veio o primeiro título sobre a batuta do técnico Luiz Felipe Scolari, ainda em início de carreira.

– Ganhamos dois estaduais e depois o grande título, que foi a Copa do Brasil em 1991 – conta Gelson.

Depois do Criciúma, Gelson jogou pelo Grêmio, quando teve a oportunidade de disputar o Torneio Interclubes, contra o Ajax, da Holanda. O atleta nunca deixou de lado a ligação com o Marcílio Dias, voltando mais duas vezes ao clube como jogador até a encerrar a carreira em 2001.

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– Após pendurar as chuteiras voltei ao clube como treinador e ganhei o título da Série B do Catarinense – diz.

Atualmente, Gelson trabalha como coordenador técnico de futebol no Marinheiro e espera que a boa campanha neste ano do centenário renda bons frutos.

– Itajaí merece, cresceu muito e o Marcílio Dias é um expoente disso tudo. O time precisa resgatar essa paixão pelo clube da cidade. As crianças necessitam de ídolos e estão carentes disso – pontua.

Curiosidade: Na decisão do Interclubes de 1995, contra o Ajax, Gelson foi selecionado por Felipão para cobrar um pênalti na decisão por penalidades, diante do gigante Edwin Van der Sar. Gelson marcou para o Grêmio, mas não evitou o título da equipe holandesa.

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Torcer é vencer na derrota

Aos 12 anos ele era levado ao estádio pelo pai, uma rotina de fim de semana que era entendida como diversão, mas que com o passar dos anos despertou uma paixão sem igual. Por onde passa nas ruas de Itajaí, Vilmar Herondino Rosa vira atração, sempre com camisa do time, um quadro com a imagem do marinheiro Marcílio Dias e uma dezena de bandeiras, que demonstram o amor pelo clube da sua cidade.

– Sou de Itajaí e tenho orgulho do meu time. Na vitória ou na derrota sempre estarei apoiando. Por onde passo vou mostrando e falando do clube, pois é preciso reviver a história pra não deixar morrer essa linda trajetória – diz o torcedor, com brilho nos olhos.

Rosa tem 53 anos e é um dos torcedores símbolos do Marinheiro. Ele conta que vai para o estádio algumas horas antes e fica ostentando as bandeiras nas imediações do Gigante das Avenidas.

– Pessoal até acha que estou vendendo bandeira. Já ofereceram dinheiro pra comprar, mas não vendo, não. Minha irmã faz elas pra mim, e tenho muito apreço pelas bandeiras – conta.

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No estádio, Vilmar é um torcedor passional. Canta, grita, xinga e não para um minuto. Ele diz que fica no alambrado com as bandeiras correndo de um lado para o outro.

– Com isso estou divulgando o meu clube de coração, pois as pessoas precisam conhecer o Marcílio e ir ao estádio torcer. Sou sócio, mas nem sei onde fica minha cadeira. Prefiro agitar a beira do gramado – completa Rosa, que trabalha no Porto de Itajaí, como assistente de logística.