Há quase dois anos em Santa Catarina, vivi experiência gratificante no sábado passado, logo após o Figueirense ter confirmada sua ascensão à Série A do Brasileirão. Em Florianópolis, na Ilha e no Continente assisti e ouvi por mais de 24 horas uma sinfonia impressionante de alegria, buzinas e foguetes comemorando a classificação. Senti também enorme satisfação, não apenas pela exemplar recuperação de um time desacreditado mas por ver a torcida local celebrando o clube com alta dose de paixão.
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Num Estado onde clubes do Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul têm ainda grande influência, noto que cresce a paixão e o envolvimento com times locais. Felizmente, cresce o número de crianças que desde cedo aprendem a gostar de Criciúma, Avaí, JEC, Figueira, Chapecoense e outros – inclusive quando os pais têm outras paixões de infância.
As sextas-feiras, na escola de minha filha de três anos, é dia sem uniforme. É quando as crianças usam fantasias dos superherois preferidos, vestem-se de bailarinas ou de princesas. Ou vestem cores da paixão precoce. Me encanta ver meninos e meninas fardados de azul ou alvinegro. É uma geração diferente que vem vindo, com identidade local.
Como jornalista, torço que rádios, sites e jornais catarinenses abandonem a prática pretérita de abrir generosos espaços para Flamengo, Corinthians ou Inter. É assim também que se amplia a fatia de torcedores locais. Sabemos que a tradição catarinense de torcer por times de fora tem muito a ver com a amplificação das rádios de antigamente com alta penetração em ondas médias e curtas, narrando gols e emoção de Vasco, Palmeiras e Grêmio.
Como jornalista, não tenho direito algum – e muito menos pretensão – de ser xenófobo, mas tenho presente que um dos principais papeis de um veículo de comunicação é fortalecer identidades locais. Graças à diversidade de Santa Catarina, não se deve sonhar que os moradores de Joinville vibrem com a ascensão do Figueirense ou que os criciumenses saiam às ruas para celebrar a chegada da Chapecoense à Série A. Não. São rivalidades regionais saudáveis e inspiradoras. Bem administrada, toda disputa é fonte de crescimento. Bem administrada, toda concorrência é fator de desenvolvimento.
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Como moradores de Santa Catarina, nascidos aqui ou não, deveríamos nos orgulhar pelo momento histórico do nosso futebol. É uma vitória da identidade local. Assim como celebramos o sucesso do florianopolitano Gustavo Kuerten nos anos 90, a atração de uma grande montadora à região de Joinville, a ótima colocação de uma escola blumenauense no Enem ou com a pujante economia do Oeste, retratada das páginas 6 a 14 desta edição dominical.
Diversidades regionais enriquecem. Separatismo entre regiões apequenam Santa Catarina. A existência de cinco, seis ou até sete diferentes culturas no mesmo território deve ser uma fortaleza – e não fator de desintegração como alguns apregoam. Contem com o DC para mudar essa história.