Dita Von Teese não apenas chega a algum lugar, mas se materializa nele. Antes que você tenha notado sua presença, ela já está apertando sua mão e lhe oferecendo chá, um momento que é como algum truque de uma feiticeira hábil.
Continua depois da publicidade
– Eu sou mágica – ela sussurra sugestivamente. – Faço você ver alguma coisa que não estava lá antes.
Esse quê de magia, segundo ela, “é a pura definição de poder e glamour”.
Observando Von Teese bebericar seu chá de limão e jasmim, com um vestido longo amarelo realçando o cabelo pretíssimo e a pele pálida, você pode acreditar nela. Você pode até mesmo sucumbir à ambientação sombriamente excêntrica de sua casa no bairro de Los Feliz, um abajur com clima de tarde minguante sobre seu zoológico de animais de pelúcia: cisnes, um pavão e uma avestruz imperial lançando olhares sobre os visitantes.
Mas ela quebra o feitiço rapidamente.
Continua depois da publicidade
– Eu quero que as pessoas me entendam melhor – disse ela. – As pessoas estão sempre perguntando: O que você faz mesmo?
O que ela faz, é claro, é tirar a roupa no palco, tão artisticamente quanto seu ídolo Gypsy Rose Lee.
Rainha do fetiche, avatar da moda, decana sensual do burlesco americano, Von Teese, nascida Heather Sweet em Rochester, no Michigan, é ídolo de ao menos uma geração de aspirantes a garotas do calendário. E ela é esperta demais para, a esta altura, abandonar o cetro. O que pode ser o motivo de, aos 40 anos de idade, ela estar redobrando esforços para se aproveitar de sua notoriedade ao tornar-se o mais novo fenômeno cult a transformar seu nome em marca.
Recentemente, em um coquetel na Decades, uma loja vintage luxuosa aqui em Los Angeles, ela lançou uma pequena linha de moda, sua primeira. Feita em parceria com a Lime Door, uma empresa de desenvolvimento de marcas, a coleção de cinco peças, com roupas ousadas, mas que cobrem o corpo, e com um quê de retrô, são ricamente detalhadas, com forros de seda e tule e com toques de gorgurão.
Continua depois da publicidade
A coleção é a última novidade de uma série de produtos que incluem um perfume, cosméticos, lingerie e meias-calças (com a costura aparente, claro) que pretendem fixar seu status de fornecedora de excentricidades requintadas. Ela está apostando que seus fãs, 80% mulheres, segundo ela, morderão a isca. Seus admiradores não têm dúvida.
– Você percebe quando alguém é mesmo o que diz ser – pontuou Ron Robinson, presidente de uma boutique de vanguarda em Los Angeles que leva seu nome e que vende o perfume dela, e passará a vender, assim que estiverem disponíveis nos Estados Unidos, seus batons e bálsamos para a pele produzidos pela marca alemã ArtDeco, assim como uma linha à parte de unhas vermelhas postiças.
– A Dita é madura e sofisticada, linda e fácil de abordar – disse Robinson. – Me diz se isso já não é uma marca.
Certamente ela encantou o mundo da moda, juntando admiradores como Christian Louboutin, Marc Jacobs (cujo desfile foi agraciado por ela na primeira fileira) e Jean Paul Gaultier, cuja passarela uma vez foi palco para uma performance sua de um strip-tease exoticamente elegante. Ela já apareceu em uma campanha Viva Glam de cosméticos para a MAC. Sua atuação, provocante de um certo modo, deixou a Cointreau, marca de destilados de luxo, entusiasmada para nomeá-la sua embaixadora internacional.
Continua depois da publicidade
Tudo ótimo. Mas se Von Teese espera tornar-se um nome conhecido, do tipo que vende desde de bijuterias a roupas de cama, ela tem muito trabalho pela frente.

Sua linha fashion, vendida exclusivamente hoje na Decades e no site shopdecadesinc.com, e com preços que variam entre 600 e mil dólares, tem ido bem, disse Melissa Dishell, empresária e parceira comercial de Von Teese.
– Mas nossa versão de “indo bem” não é a mesma versão das Kardashians de “ir bem”. Dishell não falou em números. Diferentemente das Kardashians, Von Teese ainda precisa transcender seu status cult.
– Ela não faz filmes, não vende álbuns. Ela ainda não apareceu na capa de uma revista de moda americana. Isso faz nosso desafio de fazer parcerias e de vender os produtos ainda maior.
Continua depois da publicidade
Mais artista do que empresária, Von Teese parece relutante quando o assunto é dinheiro.
– Eu não quero saber dos números. Estou apenas fazendo meu pé-de-meia – disse ela.
Um belo pé-de-meia, admitidamente, fruto em parte dos cachês de até 200 mil dólares que ela recebe por apresentação, o suficiente para mantê-la em carros vintage como o Cadillac 53 estacionado em sua garagem. Ainda assim, ela diz, “eu não entendo muito de negócios”.
Isso leva Dishell, produtora de eventos e ex-empresária das Pussycat Dolls, a fazer malabarismos com os números e trabalhar pesado no que, até recentemente, tem sido um esforço passivo de marketing, tão depende do acaso quanto de uma estratégia óbvia. Tentativas de colocar seu perfil em evidência foram aleatórias, na melhor das hipóteses. Uma participação especial no ano passado no seriado CSI: Crime Scene Investigation foi fruto do acaso. Von Teese é amiga de um dos atores do seriado.
– E eu levo meu cachorro para passear com um dos produtores – contou Dishell.
Von Teese não tem planos de ir em frente com outros papéis.
– Eu não poderia ser atriz e não ser uma Tilda Swinton – explicou ela. E embora não seja comilona, ela foi abordada no verão passado pelo canal de TV Bravo para aparecer como jurada no reality show gastronômico Top Chefs Masters.
– Parece muito fragmentado, aleatório, ou coincidência – Tom Julian, especialista em marcas de moda de Nova York, disse sobre as tentativas de fazer publicidade para um artista performático. – É quase como se a equipe dela estivesse pensando: “vamos exibi-la na mídia e ver se alguma coisa pega.”
Continua depois da publicidade
Dishell está caçando revendedores sofisticados como Jeffrey New York e Ikram, a boutique de Chicago, onde Von Teese uma vez apresentou uma versão adaptada de seu número. Mas até recentemente, seu papel principal era agir como protetora e guardiã severa da imagem retrô e glamourosa de Von Teese, rejeitando ofertas mais do que as aceitando. Uma linha de peles foi vetada. Assim como um perfume anterior e jeans.
– A Dita não usa jeans, disse Dishell terminantemente. E ela desencoraja Von Teese a se despir completamente no palco ou a compartilhar muitas informações, ao estilo Kardashian, em um reality show para a TV.
Não é por acaso que apesar dos melhores esforços dos blogueiros em juntá-la com o ator Peter Sarsgaard e com o lorde francês Louis-Marie de Castelbajac, a vida amorosa de Von Teese guarde um pouco de mistério. Houve seu casamento de um ano, em 2005, com o roqueiro gótico Marilyn Mason, uma união que elevou sua visibilidade mas acabou em divórcio.
Ela compartilhava com o marido uma propensão à autoinovação. Os problemas surgiram, em parte, porque, segundo ela, “Eu gostava de ser Heather Sweet do Michigan, mas eu não acho que ele gostasse de ser Brian Hugh Warner de Ohio”.
Continua depois da publicidade
Há evidências de que o silêncio tem seus benefícios.
– Existe muita gente que não sabe quem é Dita Von Teese – explicou Cameron Silver, um dos donos da Decades. – Mas as pessoas certas sabem. Ela tem uma multidão influente de fãs.
Não incomoda que ela mostre curvas que, ela admite, foram cirurgicamente aprimoradas. Até o sinal que ela tem no rosto é tatuagem.
– Toda stripper deveria ter um sinal perto do olho esquerdo – disse suavemente.
Você desconfia que seu personagem, parte sedutora, parte menina à moda antiga, também tenha sido meticulosamente criado, especialmente quando ela fala sobre amor.
– Eu não preciso de alguém que me compre coisas – ela diz, e você espera que ela cante como uma cantora dos velhos tempos. – Eu só preciso de alguém que se sinta como um homem.
Continua depois da publicidade
Ela parece galanteadora mas, na verdade, Von Teese tem sido o pivô na integração de uma estética de fetiches que vem se infiltrando no mundo da moda através de cintos arnês, sutiãs de couro, unhas escuras e gargantilhas de níquel com pregos. Ela parece estar na crista da onda de uma crescente obsessão pelo pornô light que transformou um conto sinistro de submissão feminina em best-seller internacional.
– Quando eles fizerem o filme deveriam pensar em produtos relacionados.
Algo como “Cinquenta Tons de Von Teese”?