Barack Obama pode ajudar “muitíssimo” a melhorar a situação de direitos humanos em Cuba, se enviar, durante sua visita à ilha, uma mensagem de distensão política – disse à AFP o líder dissidente Manuel Cuesta, que se reuniu com o presidente americano em 2015.

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O presidente dos Estados Unidos estará em Cuba entre 20 e 22 deste mês.

“Acredito que uma mensagem de distensão enviada por Obama, de que os Estados Unidos acompanham o povo cubano e não são inimigos do povo cubano (…), vai ajudar muitíssimo a avançar os direitos humanos”, comentou este opositor de tendência moderada.

A opinião de Cuesta se contrapõe a de outros dissidentes, como a líder das Damas de Branco, Berta Soler, que espera que, na visita, Obama apresente exigências firmes de mudança.

Uma mensagem de distensão “ajudará a dissipar dúvidas e, ao mesmo tempo, a estimular os que, de alguma maneira, acreditam em que Cuba deve evoluir para um âmbito de mais liberdades, mas têm em seu DNA o conflito histórico com os Estados Unidos como um obstáculo para que isso aconteça”, afirmou Cuesta.

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Em um editorial, o jornal oficial Granma garantiu nesta quarta-feira que Obama será bem-vindo a Cuba, mas que o governo comunista não fará concessões políticas.

“Ninguém pode pretender que, para isso, tenhamos de renunciar a qualquer um desses princípios, ceder um milímetro em sua defesa”, escreveu o Granma.

Cuesta considerou o editorial “um dever retórico, (porque) o governo sabe que tem de evoluir”, mas “não pode aparecer pressionado pelos Estados Unidos”.

Ele descartou ainda que, durante o encontro entre Obama e Raúl Castro, vá-se anunciar alguma reforma importante em matéria de direitos humanos.

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Cuesta e a advogada opositora Lartiza Diversent se reuniram com Obama na Cúpula do Panamá, em 2015. De sua conversa no Panamá, Manuel Cuesta lembra que o presidente americano instou os dissidentes a terem “uma abordagem mais criativa em matéria de direitos humanos, sobretudo, uma questão de linguagem política”.

Em entrevista coletiva em Miami nesta quarta-feira, a dissidente cubana Martha Beatriz Roque manifestou um otimismo contido sobre a viagem. Além de pedir a Obama que exalte a democracia e reconheça a oposição quando for a Cuba, ela minimizou o impacto que a visita poderá ter para o futuro da ilha.

Segundo Martha, são os cubanos que devem definir seu próprio destino.

Obama deve “falar de democracia, não de forma abstrata, mas das oportunidades que países democráticos como este (em referência aos EUA) oferecem a seus habitantes”, disse Martha, a única mulher do grupo de 75 opositores presos na chamada “Primavera negra” de 2003 e libertados entre 2004 e 2011.

Martha visita os EUA na primeira vez que obtém autorização do governo para deixar Havana.

De qualquer modo, acrescentou, “o fato de que se reconheça, em suas conversas e contatos, uma sociedade civil independente seria um apoio aos opositores”.

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“Não há muito a esperar desta viagem, além de alguma nova concessão que se faça ao regime”, antecipou Martha.

“A mudança à qual todos aspiramos tem de vir, mas não virá porque os Estados Unidos vão fazer isso”, frisou.

“Mas, se o presidente do país mais poderoso do mundo tomou a decisão de visitar Cuba, não se deve reclamar. O importante é aproveitar o pequeno espaço que se possa ter”, insistiu.

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