Os 43 mil alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão de férias até o dia 17 de março, mas politicamente o ano já começou na maior instituição de ensino superior do Estado. Professores, servidores e estudantes e a própria reitoria da universidade ainda assimilam o significado do pedido conjunto de demissão de três pró-reitores e uma pró-reitora adjunta que tornou explícita a antecipação do debate eleitoral na universidade.
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As eleições para sucessão da reitora Roselane Neckel estão marcadas para o ainda distante novembro de 2015, mas as avaliações correntes no campus central da UFSC, em Florianópolis, dão conta de um realinhamento entre os grupos políticos que garantiram a vitória contra a então chapa situacionista liderada por Carlos Alberto Justo da Silva, o Paraná, em 2011. A cisão na base de Roselane Neckel aconteceu em 14 de fevereiro, quando os pró-reitores Beatriz Paiva (Planejamento e Orçamento), Roselane Campos (Ensino de Graduação) e Lauro Mattei (Assuntos Estudantis) assinaram uma carta aberta dizendo-se alvos de “implacáveis contestações” e falta de sintonia com a administração central da universidade. Também assinava a carta a adjunta de Assuntos Estudantis Lucia Helena Lenzi.
.: Leia entrevista com a reitora Roselane Neckel no blog Bloco de Notas.
A decisão foi o segundo passo de um movimento pré-eleitoral no campo da esquerda da UFSC. Em novembro, quando a gestão completou dois anos foi distribuída pelo campus uma carta aberta do professor Irineu Manoel de Souza, terceiro colocado nas eleições de 2011. No documento, alega “insatisfação coletiva” pelo não atendimento de propostas que teriam sido absorvidas por Roselane no segundo turno das eleições. Com forte apoio entre os servidores, Irineu foi fundamental na virada eleitoral que levou Roselane à reitoria. A principal bandeira do professor era a redução da jornada de trabalho para seis horas sem alteração de salário. A reitora tem afirmado que não tem autonomia legal para implantar a mudança e que tenha absorvido a proposta.
– Eram aquelas as nossas propostas. Se ela aceitou nosso apoio, estava claro que aceitava as propostas – afirma Irineu.
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Nas conversas de bastidor, as cartas abertas de outubro e de fevereiro são definidas como realinhamento. Uma nova candidatura de Irineu seria construída sem vinculações com a atual administração e com uma postura mais à esquerda que o da reitora. Duas vezes candidato à reitor e apoiador de Irineu na última eleição, o professor Nildo Ouriques avalia que a cisão não é apenas um rearranjo da esquerda – inclusive negando o rótulo à atual reitora.
– Ela não se apresentou como esquerda. Ela defendia transparência e tratamento republicano, seja lá o que isso signifique – afirma.
A maior surpresa foi a adesão de Roselane Campos, considerada uma das pessoas mais próximas da reitora na administração central. Houve desgaste entre as duas na polêmica das seis horas e em votações pontuais no Conselho Universitário. Os ex-pró-reitores têm evitado alimentar as polêmicas. Fecharam acordo de não conceder entrevistas e participaram ativamente da transição nos cargos.
– A reitora representa uma descontinuidade e sofre com o inconformismo de um grupo à direita que sempre comandou a universidade e que ela destronou. Esse embate é diário. Ao mesmo tempo, sofre a crítica de uma certa esquerda. Fora isso, há que se levar em conta que boa parte das pessoas que ocupam cargos na gestão o fazem pela primeira vez – analisa um colaborador direto da atual administração.
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Oposição busca recomposição
A reitora sofre críticas de grupos ligados às antigas administrações da universidade. São correntes as críticas de perseguição a funcionários que participaram das gestões dos reitores Álvaro Prata, Lúcio Botelho e Rodolfo Pinto da Luz. A reitoria não soube precisar o número de sindicâncias abertas para investigar atos de professores e servidores. Admite algo em torno de 180 processos em curso.
– Ela foi limpando vários setores, removendo pessoas. Professores que para ela representam as antigas gestões, não conseguem aprovar projetos – queixa-se um professor ligado a administrações passadas.
O maior palco dessas disputas foi o Conselho de Curadores. Foi que aconteceu a maior polêmica da primeira metade do mandato de Roselane: a compra do Edifício Santa Clara. O órgão deu parecer contrário à operação questionando os valores envolvidos, mas teve seu encaminhamento rejeitado pela reitoria. Desde então, o conflito foi permanente.
Derrotado em 2011, o grupo político tenta se recompor e buscar uma candidatura viável para 2015. Na última disputa, a chapa liderada por Carlos Alberto Justo da Silva, o Paraná, foi derrotada no segundo turno, com forte rejeição entre os estudantes. O antecessor Álvaro Prata é citado, mas atualmente comanda a Secretario Nacional de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação, no Ministério de Ciência e Tecnologia. Se permanecer no cargo, dificilmente entraria na disputa.
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