Na última vez em que saiu de casa, o joinvilense David Moyses dos Santos levava uma preocupação que não cabia a um adolescente de 16 anos. Havia passado o domingo de 28 de agosto trancado no quarto pensando em uma dívida que não podia pagar e pela qual havia pedido dinheiro à avó que o criava, Aparecida Ramos.
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– Eu disse que não tinha, porque não tinha mesmo naquela hora. Ele chorou, a gente se abraçou e eu falei que o amava. Pedi: “David, sai dessa vida errada, por favor” – recorda Aparecida.
Eram 19 horas quando o garoto partiu, deixando a residência no bairro Petrópolis, zona Sul de Joinville, ainda sob o delicado cuidado da avó que chegou a pedir que ele se arrumasse melhor e colocasse a bermuda nova que ela havia comprado. Os cinco dias que seguiram-se àquele foram de aflição: ainda não há informações sobre o que ocorreu com o adolescente até que seu corpo fosse encontrado em meio a uma área de mata no final da rua Waldemar Antônio de Araújo, no bairro Boehmerwald, na manhã de sábado, 3 de setembro.
Segundo a Delegacia de Homicídios, o corpo apresentava lesões na cabeça causadas por objeto pesado e encontrava-se em avançado estado de decomposição. Equipes dos Bombeiros, do IGP e do IML participaram dos trabalhos para retirada da vítima do local.
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A família se preparava para passar o sábado fazendo buscas pelo adolescente quando recebeu o chamado da polícia contando sobre a localização de um corpo que poderia ser de David. Segundo a mãe, Andresa, foi por meio de uma denúncia anônima que a polícia chegou ao local.
– Ligaram dizendo que ouviram gritos pedindo “não me mata, não me mata” e que havia luzes no morro – conta ela.
Lembrado com adjetivos como bonzinho, quieto e querido pela mãe e pela avó, David havia se envolvido com uso de drogas e fazia acompanhamento com o Centro de Atenção Psicossocial (Caps). Dizia que queria trabalhar para comprar moto e celular e chegou a ficar três meses sem contato com as drogas depois que sofreu um acidente.
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– Ele me disse outro dia “vó, eu não brigo com ninguém, não gosto disso”. Tinha muitos amigos, mas, infelizmente, nem todos eram bons amigos – lamenta Aparecida.
O corpo de David ainda está no Instituto Médico Legal (IML) e a causa da morte será investigada. David é o 11º jovem com menos de 18 anos morto em Joinville em 2016, entre os 76 homicídios já registrados até agora.
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