O Diário Catarinense entrevistou cinco candidatos à prefeitura de Florianópolis. Confira a entrevista de Angela Albino (PCdoB):

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A senhora foi candidata há quatro anos e a gente percebe que os temas estão se repetindo, especialmente a questão da mobilidade urbana. O que é preciso fazer?

Estamos discutindo a mesma pauta porque a cidade não avançou em nada naqueles temas que já eram críticos. De mobilidade, a gente vai propor centralmente o investimento em trasporte coletivo. BRT, vans para transporte em alguns bairros e morros, investimento em bicicleta.

Essas van atuariam dentro do atual sistema que tem o Consórcio Fênix como concessionária ou viriam à parte?

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Dentro do sistema. Se dentro do Consórcio Fênix, não sei.

Pode ser uma nova concorrência?

O Consórcio Fênix não deu as respostas que se pretendia com a licitação. Havia uma expectativa na cidade de que licitar faria o transporte dar um salto de qualidade e no final ficou, como a frase do O Leopardo (romance de Giuseppe di Lampedusa sobre a decadência da aristocracia siciliana), mudou para que tudo ficasse como está. Na vivência do transporte coletivo, as coisas não mudaram.

A senhora vai herdar esse contrato que tem 20 anos de prazo total. É possível mudar ou o pacote está feito?

Temos que partir do parâmetro da legalidade, mas é possível ajustar dentro. Cobrar judicialmente, se for preciso, mas acredito que deva ser na política, na construção, para que atenda de fato o que diz o edital. O que o edital promete não é o que gente vivência.

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O que diferencia a discussão sobre mobilidade urbana este ano é a existência do Plamus, que é uma espécie de plano diretor da mobilidade da Grande Florianópolis. A senhora vai abraçar o Plamus se for eleita prefeita?

Eu gosto muito do Plamus, acho que é uma ferramenta importantíssima. A ressalva que faço, e na época para mim já foi um espanto, é o baixo protagonismo do Executivo municipal. A debilidade do Plamus é não ter dialogado com as prefeituras da região. Se faz uma grande construção, mas não acompanha a contrução política. Aí não vence. O produto final é excelente, a construção dele teve essa debilidade.

As prefeituras terceirizaram o planejamento?

O debate técnico é essencial, mas apenas o técnico não dá conta do debate que é a gestão da coisa pública. É preciso fazer mediações, discutir realidade concretas, como as pessoas recebem. Nos grande planos diretores, Barcelona por exemplo, há uma participação efetiva das pessoas porque eles dizem qual a cidade que as pessoas querem no futuro. O Plamus é um primor técnico, mas o pecado dele é não ter sido construído dentro uma orquestração da região metropolitana.

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Isso deve levar a mudanças no plano?

Não, acho ele tecnicamente muito bom. O que precisamos agora é que ele de fato vire uma ferramenta de todos. Construir esse pertencimento. Os prefeitos da região nem conhecem e impacta para todo mundo.

A senhora também falou em plano diretor e esse é outro tema pendente da eleição passada. O atual prefeito prometeu que aprovaria o plano no primeiro ano de mandato, mas a questão foi judicializada o plano ainda não entrou em vigor. A senhora acredita que assume com o Plano Diretor aprovado ou que vai ter que aprová-lo?

Acho que vou ter que aprovar o Plano Diretor. Ao menos aprovado de forma inserida na realidade concreta das pessoas. Não acredito que dê tempo até lá de as pessoas se reconhecerem. Claro que um plano diretor é uma pactuação de mediação de conflitos. Vai ter sempre alguém insatisfeito, mas é preciso que a cidade se enxergue nele. Não vejo que se consiga fazer isso até o final do ano.

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O Plano Diretor está na reta final das audiências públicas e tem certa consolidação. Ainda há espaço para mexer nele ou é preciso aprovar logo?

Acho que as oficinas, as audiências, são mais do que qualquer coisa um plano de governo. Aparecia todo tipo de demanda das comunidades ali. Acho melhor ter um plano diretor agora que a gente se responsabilize de em tempos em tempos fazer as revisões – e quando digo de tempo em tempo é chamando a sociedade como um todo e não por emendas que o fracionem como o plano diretor anterior. Eu acho que a celeridade nesse sentido agora é importante.

O atual prefeito se comprometeu com a aprovação do plano em um ano. A senhora também se dá uma data?

O primeiro ano é o de colocar a casa em ordem e esse é um dos temas que precisa estar resolvido no primeiro ano.

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Entrando na questão política, o que impede a esquerda de ter uma candidatura única na cidade? Faltou diálogo ou vontade?

Acho que sobrou perspectiva de crescimento. Considerando a minha candidatura e a do Elson Pereira (PSOL) em 2012, juntos fizemos 40% dos votos na cidade. Em qualquer avaliação política isso traria a obviedade de que deveríamos estar juntos. Fizemos um grande esforço para isso. O PT se sensibilizou, tanto que tinha candidatura posta, há pelo menos dois anos o Gabriel Kazapi (candidato a vice-prefeito) construiu as condições para ser candidato. Ele abriu mão porque achou necessário fazer, mas o PSOL não se sensibilizou com o apelo.

Há quatro anos a senhora também tinha o apoio do PT e depois disso a relação entre PT e PCdoB estremeceu, tanto que a senhora e seu partido apoiaram a reeleição do governador Raimundo Colombo (PSD) e sofre críticas de militantes petistas até hoje¿

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Até hoje¿

Esse movimento feito pela senhora e pelo PCdoB há dois anos foi correto? Se arrepende dele?

Em absoluto. Considero corretíssimo. Principalmente porque foi um movimento impulsionado por um cenário político grave que já vivíamos em 2014 e um apelo da presidenta Dilma Rousseff (PT). Setores importantes do PT que esbravejavam contra nossa coligação com Colombo em 2014, hoje reconhecem a falta que faz ter um senador ou senadora do PT de Santa Catarina, que era o que aconteceria se eles estivessem com Colombo. Naquele momento, estar com Colombo ajudava mais ao projeto da presidente Dilma e ela mesmo reafirmou isso com bastante clareza quando esteve aqui no segundo turno.

Foi um momento de tensão, inclusive militantes do PCdoB deixaram o partido, alguns em direção ao próprio PT. Como curar estas feridas para agora estarem juntos novamente na Capital?

O PT é o maior partido de esquerda da América Latina, é um patrimônio da classe trabalhadora latino americana. E o PT também tem múltiplas leituras internas. No PCdoB nós discutimos amplamente e depois unificamos as posições, o PT tem a construção de conviver com várias leituras. Nem todo mundo no PT teve concordância com a leitura de 2014, com o projeto do jeito que foi. Claro que na época foi bastante crítico, principalmente entre as direções estaduais, mas depois ficou claro o compromisso do PCdoB com o projeto da presidenta Dilma. Aliás, por articulação do próprio Colombo eu estou desde outubro na Câmara dos Deputados fazendo o enfrentamento deste momento. Acredito que o PT reconheça a lealdade com que o PCdoB trata a questão nacional.

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Em 2012, as pesquisas indicava que era forte sua chance de ir ao segundo turno. No fim, Elson Pereira (PSOL) cresceu em cima de um eleitorado que a apoiava e a senhora ficou fora do segundo turno. Faltou falar com seu eleitor?

Avalio que disputar para valer uma prefeitura com um partido pouco sólido, com uma estrutura modesta, é um desafio gigantesco. Nós fizemos 25% dos votos, quase fomos para o segundo turno. Foi o melhor desempenho percentual do PCdoB em capitais naquele ano. Isso se construiu como patrimônio. Em 2014, fui a quinta deputada federal mais votada do PCdoB no país. Acredito que o que faltou foi fôlego. Não tenho o acordo de que o crescimento do Elson me tirou do segundo turno. Nos últimos 10 dias a candidatura do Gean Loureiro cresceu com base na força do PMDB, um partido enorme, com muita inserção, e por muita diferença ele foi para o segundo turno (Gean teve 27,3%, contra 25% de Angela Albino e 14,4% de Elson).

Florianópolis teve uma experiência com governo de esquerda com a vitória da Frente Popular, liderada por Sérgio Grando, então PCB, em 1992. Foi uma gestão que enfrentou dificuldades, tinha apenas cinco ou seis vereadores na base de apoio. Se a senhora vencer, a senhora deve viver um cenário semelhante. Como evitar que essas dificuldades se repitam em um governo seu?

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Participo do processo eleitoral desde 2004 (eleita vereadora) e estou muitíssimo convencida, inclusive cenário nacional que o país vive, de que o voto do parlamento define mais a cidade do que o voto no Executivo. Um bom parlamento segura um mau prefeito e um mau parlamento destrói um bom prefeito. O atual parlamento tem suas dificuldades e se for mantida essa proporção de distribuição de forças, a aposta é no diálogo, de quem pensar no bem da cidade. Quem não pensar no bem da cidade, paciência, impossível lidar.

Seu plano de governo fala em ¿construção da governabilidade ampliada¿, trazer sociedade civil, outros fóruns. Como se constrói isso?

Com diálogo, com presença. Eu tenho uma sensação como florianopolitana, não só no último governo, mas num período recente da cidade, um certo isolamento. A cidade não dialoga com a prefeitura, a prefeitura não dialoga com a cidade, com os saberes locais. Temos soluções extraordinárias na área de tecnologia que não são aproveitadas pela prefeitura, temos respostas extraordinárias nas universidades, Udesc e UFSC em especial, e não são aproveitadas.

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Também está no seu plano a criação de um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. É para fazer a discussão mais ampla driblado a Câmara de Vereadores?

Construindo consensos, não driblando a Câmara. Eu sou parlamentar e considero o parlamento essencial à democracia. Mas precisamos construir consensos na cidade, não podemos mais apostar no ¿quem está de um lado, quem está de outro¿. Se há 20 anos tivéssemos construído as bases de uma nova Florianópolis, não estaríamos do que jeito que estamos. Quando a gente constrói um viaduto em pleno século sem espaço para pedestres e nem bicicleta, a gente não está apontando para o futuro.

O seu plano também fala em empoderamento das subprefeituras. A senhora pretende criar novas estruturas, mudar o modelo de gestão descentralizada?

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Acredito que inclusive essa é uma parte da discussão de mobilidade. As pessoas terem que vir ao Centro para ir ao Pró-Cidadão e com isso entupir o trânsito não nos serve. É preciso que a cidade seja polinucleada e tenha presença da gestão municipal.

As dificuldades financeiras da Comcap também são uma dos grandes temas da atual campanha. Há quem fale em privatizar a companhia. Qual seu plano pra ela?

A Comcap tem que diversificar sua atividade. Hoje, o débito mensal dela tem a ver com estrangulamento que viveu nos últimos tempos, seu desmonte. Vai ver os equipamentos dela e é impressionante ver como ficou, sem nenhum aporte de investimento. Além disso tem uma dívida histórica do município com a Comcap que acabou contribuindo pra ela ficar nessa situação. Não temos nenhuma intenção de privatizar, ao contrário. Ela tem que diversificar sua participação no município e ampliar sua fonte de renda.

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De que forma diversificar? Buscar clientes além da prefeitura?

Não, voltado mesmo para a administração de alguns equipamentos públicos que hoje a gente privatizou e que podem estar fazendo parte da própria receita da Comcap.

Outra questão que a cidade discute e o último verão deixou isso muito latente é a relação da cidade com a Casan. O município é cliente da estatal e há um déficit na questão do saneamento que prejudica, inclusive, nosso turismo. A senhora pensa em rever essa relação?

A Casan é uma concessionária da prefeitura, que precisa ter um papel fiscalizador, ser timoneira do processo. Precisamos protagonizar essa relação. Aqui na Grande Florianópolis, a única experiência que temos de privatização ou municipalização é em Palhoça. Virou uma tragédia. A arrecadação que é feita de água e esgoto vai para o caixa do município que paga o funcionário. Recentemente a Águas de Palhoça até virou caso de polícia. Há imperfeições na relação com a Casan, mas ainda é a melhor ferramentas que temos.

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É notório que a prefeitura vive sérios problemas financeiros. Ao mesmo tempo, a senhora fala em criar uma nova política salarial para os servidores, com reajustes. Como conciliar esse cenário de falta de arrecadação e as demandas do servidor público?

Se pegar hoje, não há nada que possa ser feito. O que a gente está propondo é investir no desenvolvimento econômico da cidade, pelo viés da economia criativa. Ciência e tecnologia, a área de maricultura, que é nossa vocação, o turismo e a cultura. E vocacionar os arranjos produtivos locais por região. Temos uma característica que poucos lugares têm que as diferentes localidades do município cresceram isoladamente e têm vocações específicas. Temos que apostar no desenvolvimento para sair do gargalo econômico. O Brasil viveu uma década bastante próspera que Florianópolis aproveitou muito mal. É lamentável ver a situação em que Florianópolis está e poderia estar hoje. Quanto aos servidores, eu sou servidora pública federal, sindicalista minha vida inteira, e compreendo que precisamos é discutir o plano de carreira. Ir construindo gratificações para esta ou aquela carreira, empoderando esta ou aquela liderança, não serve mais.

O aumento do IPTU foi o grande momento de queda de popularidade do atual prefeito. Ao mesmo tempo, sem este aumento a situação do caixa da prefeitura estaria ainda pior. A senhora pensa em mexer no IPTU?

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Acredito que existem locais onde há um descompasso entre o valor atual do imóvel e o valor histórico que ensejou o IPTU. Acho que o grande erro é que não foi discutido. Não podemos fazer uma medida desse tamanho sem que as pessoas entendam o valor que isso tem para o município. Não estou referendando o que ele fez, mas estou criticando em particular como ele fez. O erro foi passar um recorte linear para situações que são bastante diversas. O novo valor foi calculado por uma estimativa de valorização de imóvel que nem sempre acontece. A especulação imobiliária coloca teu imóvel em um valor mais alto, mas a tua renda não aumentou.

Nuvem de palavras da candidata: