A disputa pelo uso de um terreno em frente à praia da Armação, sul da Ilha, em Florianópolis, tem causado conflitos entre moradores, prefeitura e União. Na última sexta-feira, técnicos da prefeitura foram ao local instalar aparelhos de ginástica e delimitar a área de um parquinho infantil — uma antiga reivindicação da comunidade. Na segunda-feira, porém, o suposto proprietário do local determinou a retirada os equipamentos da prefeitura por conta própria, desencadeado o conflito.

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— Em 2011 entramos com um pedido na prefeitura para transformar a área em uma praça pública, sendo aprovado no começo de 2017. Começaram a instalar os equipamentos de ginástica, mas depois ele (o inquilino do terreno) arrancou tudo. Como um cidadão pode retirar equipamentos da prefeitura sem mais nem menos? — questiona Vera Lucia Farias, de 71 anos, moradora da Armação há quase 50 anos e porta-voz do grupo que reivindica a praça.

O terreno em questão era parte da praia da Armação, mas foi um dos trechos mais impactados pelas ressacas de 2010. Depois da construção do enrocamento de pedras para conter a força das ondas, a área foi aterrada e, em seguida, considerada da União. Nos fundos, havia um terreno em posse de Regis Bordin. Sendo assim, a União determinou que parte da área fosse cedida à prefeitura, parte ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) — que pretende instalar um receptivo para os passeios à Ilha do Campeche — e parte a Bordin.

“A área em questão, localizada à praia da Armação, na Ilha de Santa Catarina, é de propriedade da União. O terreno, que totaliza cerca de 1,3 mil metros quadrados, foi cedido pela Superintendência do Patrimônio da União em Santa Catarina (SPU-SC) a três ocupantes: Sr. Regis Bordin, que detém 270 metros quadrados; Município de Florianópolis, que detém 699,20 metros quadrados; e Iphan, que detém 342 metros quadrados”, diz a nota enviada à reportagem pelo Ministério do Planejamento, em Brasília.

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Apesar do entendimento da União, o advogado de Regis Bordin, Ernesto São Thiago, afirma que todo o terreno é de seu cliente. Ernesto chegou a impetrar um mandado de segurança na 6ª Vara Federal de Florianópolis, no começo de 2017, mas o pedido foi indeferido. Em novembro do ano passado, protocolou recurso de apelação no Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região. No dia 15 de março o MPF deu parecer sobre o caso e, agora, a relatora irá analisar o processo para, em seguida, dar seu voto e encaminhar para análise da turma composta por três desembargadores. Ainda não há data definida para a decisão.

— O objetivo do mandado de segurança é anular o processo administrativo da SPU que de essão de uso à prefeitura com o argumento de que a demarcação de terreno de marinha não está homologada e, portanto, a União não tem certeza jurídica de que o bem é dela. Além disso, o direito à ampla defesa do meu cliente não foi respeitado — afirma o advogado.

Comunidade reivindica área de lazer
Comunidade reivindica área de lazer (Foto: Betina Humeres / Diário Catarinense)

Prefeitura tomará medidas judiciais

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A procuradoria-geral da prefeitura de Florianópolis, por sua vez, afirma que recebeu da SPU a cessão do terreno e passou a exercer esse direito. De acordo com o subprocurador geral do sistema jurídico, Sady Becker Junior, a prefeitura pretende chegar a um entendimento com as partes pela via jurídica.

— Fomos, de certa forma, surpreendidos por um cidadão que se intitula posseiro daquela área. Não vamos utilizar da força (para resolver a questão), mas, sim, de medidas judiciais. A gente lamenta o que está acontecendo, mas vamos fazer a defesa do interesse público.

Os equipamentos esportivos foram instalados na praia, ao lado do terreno.

Equipamento esportivo foi instalado ao lado do terreno
Equipamento esportivo foi instalado ao lado do terreno (Foto: Betina Humeres / Diário Catarinense)

Troca de acusações entre moradores

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A disputa pelo uso do terreno gerou conflito na região. Um grupo de moradores da Armação acusa o inquilino do terreno, Manoel João Aguiar, e seu ajudante de fazer ameaças a fim de garantir a posse do terreno para Regis Bordin, inclusive com registro de Boletim de Ocorrência (B.O.) na 2ª Delegacia de Polícia da Capital. Além da acusação de ameaça, o B.O. também registra ato de “vandalismo” por parte dos acusados por conta da retirada de equipamentos públicos.

— Além de nos ameaçar e intimidar, ele destruiu o patrimônio público — afirma Vera Lucia Farias, responsável legal pelo B.O.

A reportagem conversou com Manoel João Aguiar, que se identificou como policial militar e, além de rejeitar as acusações, disse ser vítima de calúnia.

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— Sou uma pessoa de boa índole, jamais ameacei ninguém. Outros moradores, podem atestar isso. Sou PM, sei dos meus deveres e direitos. Vou fazer um ato notorial e acionar o (Juizado de) Pequenas Causas, porque essas acusações são injustas.

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