A campanha morna do primeiro turno deu lugar a um acirramento crescente nesta reta final da eleição à prefeitura de Florianópolis. Até quarta-feira, a Justiça Eleitoral tinha recebido 17 representações dos candidatos Angela Amin (PP) e Gean Loureiro (PMDB) contra propagandas no rádio e na TV do adversário. Nas outras duas cidades catarinenses com segundo turno, este número é bem menor: seis em Joinville e apenas cinco em Blumenau.

Continua depois da publicidade

De um lado, Angela ataca contra obras que Gean assume a autoria, e que foram realizadas na gestão do prefeito Dário Berger (PMDB). Alega que o peemedebista teve envolvimento nas polêmicas da árvore de Natal e do show de Andrea Bocelli que nunca aconteceu e a poluição no rio do Braz. Já o deputado usa inserções criticando investimentos de recursos previdenciários no Banco Santos poucas semanas antes da falência da instituição e em ações de Angela em relação aos animais de rua e os terminais de integração de ônibus construídos por ela e desativados após sua gestão. Os rivais ainda se alfinetam em questões mais subjetivas, como o tamanho da coligação de Gean e as décadas de eleições do PP no Estado.

A coordenação da campanha de Angela afirma que o foco é debater ideias e confrontar visões sobre a cidade, mas que não pode e não vai aceitar ataques de caráter pessoal. O coordenador jurídico Alessandro Abreu argumenta que a iniciativa dos ataques partiu do adversário, desde o primeiro turno, quando inclusive algumas peças foram retiradas do ar pela Justiça.

— Tudo se iniciou no primeiro turno, com a campanha em que o próprio candidato se dizia dono de obras dos oito anos da gestão do prefeito Dário Berger. Ele mostra tudo que é bom, temos que mostrar também o que é ruim. Ele trouxe para o debate, senão não entraríamos nesta seara. Acredito que o embate mais duro não pode partir para o ataque pessoal e na nossa avaliação, que mais ultrapassou esse linear foi a coligação do Gean, quando traz à baila questões familiares e situações extremas como a dos animais, com apelo emocional — pondera o coordenador jurídico.

Na coligação do peemedebista, a análise é semelhante à da pepista, de que foi a adversária que partiu para o ataque. O próprio candidato Gean Loureiro falou com a reportagem, por e-mail, e declara ele próprio estar descontente com o clima mais agressivo da campanha:

Continua depois da publicidade

— Muita gente, e me incluo aí, está chateada com os rumos que a campanha tem tomado. Críticas e ataques não podem se sobrepor a propostas para a cidade. Por isso, aproveito para pedir mais uma vez desculpas aos eleitores, se em alguns momentos insisti em mostrar a verdade de fatos. Quando atacam a minha probidade, não posso me calar. Mas esse não é o tipo de política que me representa. Eu sofro com isso. Para cada crítica ou mentira que a minha concorrente mostrar na TV ou no rádio, eu vou responder com propostas.

Esse enfrentamento é saudável?

O professor de Ciências Sociais da Unisul e cientista político Valmir dos Passos avalia que o clima de ataque versus defesa, desde que não avance para o campo privado e de ofensas pessoais entre os candidatos, faz parte do jogo político e é importante para definir o voto do eleitor. Veja abaixo a entrevista.

Esse tipo de campanha em rádio e TV é saudável para o processo eleitoral?

Esse tipo de embate é muito positivo para a política. Acima de tudo, desde que não exista acusação pessoal, esse enfrentamento é saudável e deve compor o quadro eleitoral. É preciso informar a população que quando tal foi prefeito fez isso, quando tal foi vereador fez aquilo. Foi se formando no nosso país, e a mídia tem enorme contribuição, a ideia de que política deve ser feita apenas em cima de propostas e portanto esse tipo de estratégia estaria baixando o nível. Em função disso, os eleitores não veem essa prática com bons olhos. Mas, na minha avaliação, é parte da campanha. No que diz respeito a questões públicas, é muito bem-vindo esse diálogo.

As propostas, nesse cenário, importam menos?

Acima de tudo o passado de cada candidato e que deve orientar o seu voto. Porque as promessas, o papel aceita qualquer coisa. Agora, o que constitui a história política de cada candidato e que obviamente o desabone, cabe aos adversários atacar e ele defender. Não tenho a menor dúvida que a grande baliza do voto é o passado. No caso de Florianópolis, são os dois experientes. Algumas acusações são importantes, relevantes, outras coisas mais de picuinha. Mas confesso que não vi ataques de ordem pessoal, de privacidade.

Continua depois da publicidade

Qual o impacto que isso gera no eleitor, na sua avaliação?

Evidente que é preciso ter capacidade de fazer um diagnóstico da situação do município, em todos os aspectos, e os candidatos têm que apresentar quais suas linhas de atuações em áreas estratégicas de saúde, educação, meio ambiente. O conteúdo propositivo é importante, mas não deve se resumir a isso. Se um candidato acha que o eleitor precisa saber do que o outro fez e isso tem interesse público, deve ir para o debate. O nosso eleitor ainda é muito impactado por essa ideia de construir uma política apenas pautada em propostas e na minha avaliação, isso é um profundo equívoco.