A chegada do prefeito de Florianópolis Topazio Neto, 60 anos, ao velório da professora Alessandra Abdalla não teve pompa de chefe de governo. Discreto, ele se misturou rapidamente aos familiares e amigos que lamentavam o brutal assassinato da funcionária pública municipal que causou comoção na cidade e que ocorreu em uma das capelas anexas ao Cemitério São Francisco de Assis, no bairro Itacorubi, na Capital. Já fora do espaço onde o corpo era velado, uma senhora notou a presença do desconhecido e questionou baixinho: “Quem é aquele ali?”.
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O empresário do ramo da tecnologia reconhece que, diferente de seu antecessor na prefeitura, ainda não é tão popular entre os 500 mil moradores da Capital. Topazio foi eleito para seu primeiro cargo público em 2020 na chapa encabeçada por Gean Loureiro à prefeitura de Florianópolis. Assumiu como vice, mas em 1º de abril deste ano se tornou chefe de governo municipal após Loureiro deixar o cargo para concorrer nas eleições gerais.
— O prefeito Gean é um craque. Onde ele vai todo mundo conhece — diz Topazio ao se comparar com o ex-prefeito.
Ainda na sombra de Gean, ele afirma, no entanto, que a sua preocupação neste momento é “fazer um bom trabalho”. O reconhecimento é o passo seguinte, comenta o prefeito.
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O “bom trabalho” de Topazio começa oficialmente às 7h, quando ele chega no prédio onde está seu gabinete, no Centro de Florianópolis. Antes disso, já atua como chefe de Estado fora do horário oficial respondendo, por exemplo, as mais de 250 mensagens diárias que recebe no WhatsApp.
— Do buraco à escola, tudo é culpa ou mérito do prefeito — ri Topazio ao falar sobre as mensagens que recebe no celular.

O prefeito não costuma ficar o tempo todo do expediente no gabinete. Seus compromissos são a maioria “na rua”, em visitas de obras ou reuniões externas. Com tempo curto, conta que costuma almoçar nas proximidades da prefeitura ou aproveita para beliscar um dos bolos deixados pela secretária em sua sala. Outra opção é tomar uma vitamina de abacate, sua preferida, na lanchonete Filhos da Fruta.
Natural de Florianópolis, Topazio construiu a carreira no setor privado. Em 2009, ele fundou a Flex, empresa que atua com telemarketing e tem unidades em Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul. Inexperiente até então na área, diz que mudou sua opinião sobre os funcionários públicos ao assumir a prefeitura. Se em algum momento foi crítico, agora se tornou defensor.
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— Trabalha-se muito no setor público, pelo menos aqui na prefeitura — fala Topazio.
Dois anos atrás, a reeleição de Gean Loureiro em primeiro turno com 53,46% impulsionou o projeto de viabilizar a candidatura do então prefeito de Florianópolis ao governo do Estado. As conversas sobre uma possível troca no comando se intensificaram depois da vitória.
Loureiro concorreu pelo União Brasil, partido no qual é presidente estadual. Ele foi o quarto mais votado obtendo 13,61% dos votos. Nesta eleição, Jorginho Mello (PL) acabou eleito no segundo turno com 70,69%.
— Não foi uma coisa inesperada. Foi muito combinado, muito acordado — relembra Topazio sobre o acordo feito com Gean à época.
Topazio foi cabo eleitoral na campanha de Gean. Foi inclusive um dos convidados de Loureiro para compor sua “tropa de choque” no último debate antes do pleito. Questionado sobre o seu futuro político, Topázio disse que ainda é cedo para pensar em candidatura, mas não nega a intenção de concorrer. Para 2024, na eleição municipal, o apoio de Gean é esperado.
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— Eu acho que essa visão que eu trago comigo é de ter um olhar diferenciado para as regiões mais vulneráveis da cidade para aquelas pessoas que mais precisam da presença do Estado, daquela pessoas que tem na prefeitura o seu porto seguro — afirma ao ser perguntado sobre o legado que espera deixar.
Esse legado passa pela entrega de obras importantes para a cidade, algumas delas que já viraram novelas com roteiros repetitivos — seja pela demora na entrega ou pelo “azar” em empresas sempre desistirem antes de finalizarem os serviços. A duplicação da rua Antônio Edu Vieira, no bairro Pantanal, é uma delas.
A prefeitura espera entregar parte da obra até o começo do ano letivo do ano que vem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A obra começou em 2016 após um imbróglio envolvendo a liberação de um terreno da universidade se arrastar por anos. O prefeito já pensa em mudanças no trânsito após a entrega, como quem tem certeza de quem o trabalho será finalizado.
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Ele celebra ações que já andaram como a melhoria no sistema de incêndio do Mercado Público de Florianópolis, questão que foi alvo de ação do Ministério Público e chegou a interditar o ponto turístico.
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Topazio também quer concluir sua gestão com a entrega de duas praias alargadas: Ingleses e Jurerê Internacional. Florianópolis já tem a Canasvieiras com a faixa de areia engordada, obra de Gean. O atual gestor quer agora deixar seu nome nessas duas mega-obras.
Em dezembro deste ano, a Câmara Municipal de Florianópolis aprovou a reforma administrativa de Topazio. Essa foi a segunda mudança nos cargos e secretarias da prefeitura em dois anos e talvez a primeira grande crise da gestão do prefeito.
Alvo da oposição que o acusa de aumentar os gastos da máquina pública, criar mais cargos comissionados e dissolver órgãos como Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis (IPUF). Diferente de seu antecessor, ele não foi às redes para responder às acusações. Com perfil mais discreto, preferiu rebater as críticas por meio da assessoria de comunicação — que com a reforma aprovada ganha status de secretaria. A nota chegou aos jornalistas em um grupo de mensagens no WhatsApp. Ela negou a criação de cargos a mais e também o gasto.
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