Alguns concurseiros estão procurando o Hemocentro de Santa Catarina (Hemosc) não pelo ato solidário de doar, mas apenas para conseguir isenção de taxa de inscrição. O diretor geral do Centro de Hematologia e Hemoterapia de Santa Catarina (Hemosc), Guilherme Genovez, diz que essa distorção é um reflexo da lei e defende o fim do benefício.
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— É aquela coisa do legal, mas imoral. Existe lei que dá legalidade a isso, embora essa lei afronte de maneira grave a filosofia, a ideologia da doação de doação de sangue e de medula óssea. Pelos princípios básicos da Organização Mundial da Saúde, a doação é um ato altruísta, espontâneo e anônimo — afirmou Genovez, em entrevista ao Direto da Redação da tarde desta quarta-feira:
O diretor do Hemosc diz que os processos de segurança que antecedem a doação, como a entrevista com o doador, acabam prejudicados quando a doação é motivada por outro fator.
— Nosso foco é o paciente, a pessoa que está doente e precisa da transfusão de sangue ou do transplante de medula óssea.
No afã de ajudar, mas sem conversar com a gente, alguns legisladores criaram um problema sério. Pessoas não estão vindo aqui com objetivo de ajudar, mas buscando a isenção da taxa de concurso. Isso se torna uma remuneraçãoDiretor do Hemosc, Guilherme Genovez
Um fato grave envolveu pessoas cadastradas para doação de medula, em que o doador só é chamado caso um paciente seja compatível. Uma situação delicada para quem está na fila esperando uma chance de viver:
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— Houve casos em dezembro de pessoas que eram compatíveis para doação de medula óssea, estavam no banco, mas quando fomos chamar disseram: "não vou doar coisa nenhuma. Só fiz isso para ser isento da taxa do concurso". Isso nos afronta de maneira grave. É perverso, antiético e imoral — desabafou Genovez.
A solução, para ele, é uma só: retomar a discussão no parlamento e derrubar a lei que prevê gratuidade para doadores. A lei federal, que isenta doadores de medula da inscrição para concursos no âmbito da União, vigora desde maio de 2018.
Terceiro banco do mundo
O Brasil tem o terceiro maior banco de doadores medula óssea do mundo (o Redome), com mais de 4 milhões de doadores cadastrados, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. Esse montante, segundo Genovez atende a 80% das necessidades.
No entanto, o diretor do Hemosc chama a atenção para o fato de a maioria dos cadastrados estar nas regiões Sul e Sudeste e serem de origem europeia. Com isso, é mais difícil encontrar doadores para pacientes de outras etnias, como negros e índios.
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— Quando a pessoa tem leucemia ou outra doença que precise de medula, e não encontra doador na família, a gente vai buscar um doador no Redome. Se eu não tiver no meu banco de sangue, eu vou no banco europeu e consigo. Mas se o paciente tiver outra etnia, é mais difícil encontrar.