O diretor e professor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) da UFSC, Paulo Pinheiro Machado, fala ao DC sobre o que alega ter presenciado durante o confronto entre estudantes, Polícia Federal e Polícia Militar na universidade na última terça-feira.

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Machado aparece em fotos sendo agredido com spray de pimenta ao tentar negociar com policiais. Confira a entrevista na íntegra:

DC-Como começou o confronto?

Machado – Ficamos por duas horas negociando com o delegado Cassiano da Polícia Federal. Ele foi irredutível. Quando iríamos conseguir a dispersão mútua para evitar o confronto ele decidiu levar os estudantes presos. O comandante Araújo da Polícia Militar estava cooperando conosco, mas o delegado se mostrou intransigente. Propomos que o Boletim de Ocorrência fosse feito no local ou então que um procurador e um professor acompanhasse os estudantes, mas ele disse que não poderia colocar eles no carro da polícia.

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DC-O que o senhor foi fazer no local?

Machado- A vice diretora do CFH (Centro de Filosofia e Humanas), a professora Sônia me relatou que os policiais chegaram a paisana, fui lá porque ela estava presa. Logo se formou a muvuca com cerca de 100 estudantes. Ficou um impasse e os policiais ainda provocavam chamando os estudantes de frouxas. Tivemos várias mediações, uma negociação delicada. Em um momento eles aceitaram recuar, mas a polícia tinha que evacuar também. Mas o delegado decidiu levar à força. Os professores tentaram formar um cordão, mas foi tudo muito rápido.

DC-O senhor tentou convencê-lo a evitar o confronto?

Machado- Sim, mas ele estava emocionalmente desequilibrado e colocou em risco a vida das pessoas do local, que inclusive era entre duas escolas. Uma jovem teve a perna dilacerada por uma bomba de efeito moral. Foi muito grave e poderia ainda ser pior. Temos fotos e vídeos de toda a ação e vamos encaminhar para a Secretaria dos Direitos Humanos. O delegado Cassiano não estava a altura da sua responsabilidade.

DC-Quando o senhor foi agredido por um spray de pimenta?

Machado- O batalhão de choque apareceu e eu me dirigi ao comandante e fiz um sinal com as mãos de número dois, pedindo dois minutos para falar com o comando. Foi quando o policial jogou o spray no meu rosto. Depois disso foi uma muvuca e o confronto começou.

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DC-E os carros que aparecem nas fotos sendo virados pelos estudantes?

Machado- É bom salientar que antes disso o vidro do carro da universidade foi estourado pela Polícia Federal e aí no tumulto os estudantes viraram o carro. O delegado da PF é responsável pelos danos causados. Eu ouvi quando ele falou: Entra o choque. Eu disse: Delegado isto vai ter consequências. Ele respondeu: Mas a população me apoia.

DC-Como o senhor analisa tudo o que aconteceu?

Machado- Foi um show midiático. Uma operação de grandes proporções para pegar um usuário. Podiam ter feito um BO mas quiseram fazer um show. Vi o próprio delegado surrando estudantes, ele não só ordenou, o que mostra seu desequilíbrio. A Polícia Federal tem que dar explicações pelo ato desmedido de violência e exagerado. Não estou entendo o que está por trás disso.