Sem a técnica correta para o combate à reação química que provocou a nuvem de fumaça na semana passada em São Francisco do Sul, a montanha de 10 mil toneladas de fertilizantes arderia sem parar por pelo menos 20 dias, até que todo o produto fosse consumido.

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A informação é do diretor industrial de nitrogenados da Vale Fertilizantes, Valdir José Caobianco, que liderou a intervenção pontual de uma equipe da empresa no combate ao incêndio químico. No começo da tarde de quarta-feira, Caobianco conversou com “A Notícia” e explicou como ficou sabendo do acidente e os momentos decisivos para o sucesso dos trabalhos.

A decisão de intervir em SC, mesmo sem ser acionado pela Prefeitura, bombeiros ou Defesa Civil estadual, foi tomada depois que ele recebeu uma ligação de um colega do Centro de Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), na quarta, cerca de 12 horas depois do começo do incêndio e em um dos momentos mais tensos na cidade, quando a população tentava sair às pressas de perto da coluna de fumaça.

Segundo Caobianco, as empresas da região de Cubatão (SP), onde fica a Vale Fertilizantes, têm um trabalho conjunto, um plano de auxílio mútuo, o que torna possível que brigadas de emergência de uma empresa sejam treinadas e estejam preparadas para atuar em outra, mesmo que de outro setor industrial. Isso faz do grupo que viajou a Santa Catarina um dos mais preparados para atuar em incêndios químicos como o que houve em São Francisco do Sul – em termos técnicos, uma reação de oxidação do fertilizante, com liberação de gases e fumaça.

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– A ação com a técnica correta permitiu resolver o problema rapidamente – disse o engenheiro.

Além de Caobianco, fizeram parte da equipe o gerente de saúde e meio ambiente Manoel Dubra; o técnico de operações Haroldo Martins; o técnico de segurança Edgar Santos; e o operador José Aguinaldo Siviero, todos de Cubatão. Embora o fertilizante não tenha sido produzido pela Vale – a empresa não tem qualquer relação com a carga -, a equipe decidiu ajudar porque percebeu que havia a necessidade de conhecimentos muito específicos do produto e o combate à reação.

Barreiras

Um dos problemas enfrentados pelos técnicos foi a própria barreira de isolamento feita pela Polícia Rodoviária Federal e o Exército. Foi preciso a intervenção do prefeito e do major Aldo Neto, os dois principais líderes da operação, para que os técnicos chegassem até a base da operação. Segundo Caobianco, isso não chegou a atrasar ou impedir o trabalho. Dois dos técnicos chegaram a São Francisco na quinta de manhã.

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Toxicidade

A fumaça era perigosa, sim, para as pessoas que ficassem por muito tempo expostas a ela e, especialmente, para aqueles que aspiraram doses mais concentradas. A inalação causa a irritação das mucosas do aparelho respiratório, dos olhos, da garganta e, em casos mais graves, dos pulmões. Segundo Valdir Caobianco, essa “queima” das mucosas e dos pulmões foi o que houve com o bombeiros que ainda está internado no Regional.

A nova técnica

Ainda na quinta de manhã, os técnicos decidiram que a estratégia adotada até então, de retirada do material e o abafamento com água, deveria ser suspensa. Dois equipamentos seriam necessários: uma câmera com capacidade de detectar os locais de maior calor e um equipamento que levaria a mangueira dos bombeiros até os núcleos. Os dois equipamentos foram providenciados e na quinta à tarde foi possível alterar o combate.

Meio ambiente

Segundo Caobianco, o contato com a água e a vegetação são os dois principais problemas ambientais. A água contaminada com o produto fica inutilizada para outros fins. Só pode ser tratada em um aterro industrial ou usada pela indústria de fertilizantes líquidos. Quanto à flora, a concentração do produto acaba matando toda a vegetação. As pessoas não devem consumir hortifrútis que foram afetados pelo produto.

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Possíveis causas

Caobianco disse que não pode definir o que houve no caso específico da Global Logística, mas listou alguns dos fatores que provocam a reação:

– Por ser oxidante, o fertilizante pode reagir com outros produtos químicos. Restos de outros materiais orgânicos, por exemplo, sob a carga, poderiam ter provocado a reação.

– O calor excessivo dentro do depósito ou agentes físicos, como restos de cigarro, podem provocar a reação.

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– Problemas elétricos ou similares, como faíscas durante a operação.