A morte brutal do joinvilense Israel Melo Júnior, de 16 anos, degolado e exibido por criminosos nas redes sociais neste mês, deu visibilidade para um problema que não é recente: a presença de jovens no crime organizado. Nenhum pai ou mãe conseguem conceber a ideia de um filho envolvido em algo tão longe da rotina e dos valores das famílias em geral. No imaginário, é como se existisse uma barreira entre os dois mundos, quando, na verdade, há uma ponte e muitos pais não percebem quando os filhos começam a trilhá-la.
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A partir do momento em que o jovem responde “sim” ao convite para experimentar drogas ou se envolver com gangues, talvez não consiga mais parar. É por isso que a Polícia Militar realiza um trabalho pedagógico com crianças de 9 a 11 anos em toda a rede de ensino para que elas aprendam a dizer “não” sem hesitar. O esforço se justifica. Não é só a curiosidade, a rebeldia ou o acaso que levam os jovens a experimentar drogas. Os criminosos sabem exatamente como envolvê-los, como explica o diretor da Penitenciária de Joinville, Richard Harrison Chagas dos Santos.
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Os sinais
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– Os pais têm uma função primordial na estrutura social e devem observar o que filho faz, o acesso às redes sociais, com quem ele anda. Se houver uma mudança de rotina na vida do adolescente, uma aspereza no conversar com pai e mãe, são indicativos de que algo está acontecendo de errado na vida do adolescente. Neste momento, é importante parar o que está fazendo porque existem vários momentos para solucionar isso com a autoridade de pai e mãe. Depois que isto passa dos limites, em que o pai acaba não tem autoridade, aí vem o Estado com uma prisão, com ação de Estado, para um sistema de aprisionamento do menor. Por isso, tem que estar atento ao dia a dia do seu filho, aonde vai, quem são os amigos, se vai a uma casa de um amigo, observe, ajude a observar a rotina do seu filho adolescente.
Sedução
– Vejo que a ausência de uma estrutura familiar é um dos momentos em que são captados pela criminalidade, a distância das escolas e dos centros de capacitação. Um dia inteiro sem fazer nada, quando o jovem tem entre seus 14, 15, 16 anos, se não está indo para a escola ou ou centro de qualificação, o ócio é o que atenta o indivíduo que vai captar esse menor. E aí sobram vários argumentos: vai falar que o crime é algo extraordinário, que viver nesse meio de vida é excepcional, não existe cadeia, ninguém é preso, e você é menor, então tem vários argumentos. Além disso, festas regadas a mulheres, drogas, mostrar uma arma, um poder, bom carro, dinheiro, tudo isso atrai o menor, que acaba sendo levado para as atividades criminosas, e aí surgem as necessidades: tenho um assalto para fazer em tal lugar, tem uma frente, a prática dos maiores, que guardados pela lei que acaba não levando ele a nada, deixa o menor levar toda a culpa, e essa coisa está acontecendo muito rápido.
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Medidas alternativas
– Não é particularidade de Joinville ou SC, isso acontece em alguns Estados há muito mais tempo. Demorou para chegar a SC e está chegando e, enquanto sociedade, nós devemos iniciar as políticas públicas nas áreas de educação, formação e qualificação. Dar um dia de atividade para o adolescente, com responsabilidade do Estado dividido com a família, um resultado econômico e financeiro pelo trabalho que ele está desenvolvendo. Recentemente, visitei um amigo que é gestor de uma empresa grande em Joinville e ele disse que havia 50 vagas para menor aprendiz e ele só conseguiu preencher com 22 menores aquelas vagas. Não existe menor aprendiz? Sim, mas precisamos desenvolver as políticas, não só a responsabilidade para as empresas, mas também para aproximar as famílias e colocar os adolescentes em salas de aula, em cursos de qualificação porque o resultado disso estamos tendo aí agora. Menores envolvidos a cada dia que passa, apontando armas, assaltando, furtando por causa dessa ausência de políticas públicas.
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É possível recuperar um adolescente que se envolve com o crime?