O diretor eleito da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azevêdo, entregou um dos postos-chave dentro da entidade para a China, garantindo pela primeira vez um posto de alto escalão dentro da instituição para Pequim e assegurando a influência dos chineses no futuro do desenho das regras do comércio mundial. O brasileiro assume a direção da entidade no dia 1º de setembro.

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A concessão do cargo de vice-diretor da OMC é uma retribuição ao apoio dado pela China na eleição de Azevêdo. O escolhido é Yi Xiaozhun, embaixador da China na OMC desde 2011 e um dos mais altos diplomatas no governo chinês.

Questionado logo após sua eleição sobre o papel de Pequim na OMC, Azevêdo foi categórico:

– A OMC era uma antes da entrada da China e é outra agora – disse.

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Pequim aderiu à entidade em 2001 e hoje é um dos membros mais ativos. Nesse período, a China se tornou a maior exportadora do planeta e a segunda maior economia do mundo.

Não é segredo para ninguém que a China, desde que entrou na OMC, buscou uma posição de influência, depois de passar alguns anos “estudando” o local. O atual diretor, o francês Pascal Lamy, não aceitou abrir espaço na cúpula da entidade para um chinês.

O brasileiro também distribuirá cargos para Estados Unidos e Europa, regiões que não votaram integralmente por ele. A África, de onde veio mais de um terço dos votos de Azevêdo, também ganhará um cargo de vice-diretor. O escolhido é o nigeriano Yonov Agah. A Nigéria havia prometido votar pelo brasileiro e levar votos africanos, caso seu candidato inicial não vingasse.

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Se por um lado Azevêdo vai retribuir seus aliados, por outro ele também atuará de forma pragmática. Os dois cargos restantes ficam com EUA e Alemanha. Assim, o governo americano manterá um dos cargos de vice-diretor, posto que lhe é cativo desde a criação da organização. Azevêdo terá o grande desafio de convencer a administração de Barack Obama a voltar a dar atenção à OMC.

A UE rachou na votação. Reino Unido e Holanda seriam dois países que não receberiam postos. O escolhido foi Karl-Ernst Brauner, da Alemanha, país que teria apoiado o Brasil. Segundo Azevêdo, a seleção dos quatro nomes foi baseada no compromisso desses diplomatas ao sistema multilateral do comércio e suas experiências.