O ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, admitiu nesta sexta-feira, em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que o empresário Milton Pascowitch, um dos delatores do esquema de desvios da Petrobras, pagou a reforma de seu apartamento e de sua casa. De acordo com seu advogado, Roberto Podval, Dirceu também negou que tenha indicado o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, apontado como indicação do PT, para o cargo. O ex-ministro foi interrogado na ação penal da Lava-Jato, na qual é réu por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Ele está preso preventivamente desde 3 de agosto de 2015, em um presídio em Curitiba.

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Após o depoimento, Podval disse que “os seus pecados, o Zé Dirceu admitiu”. Ele também destacou que o ex-ministro não recebeu diretamente o dinheiro da reforma dos imóveis e que o custeio foi feito em razão da amizade entre Dirceu e Pascowitch.

— Tentou ser o mais claro possível, o mais correto possível. É só olhar as propriedades, o dinheiro que ele (Dirceu) tem para saber qual é a verdade disso. Muitos delatores devolveram muito dinheiro, R$ 80 milhões, ficaram com R$ 40 (milhões), estão soltos e dando risada por aí. O Zé está preso — disse Podval.

Além do ex-ministro, também prestou depoimento hoje Gerson Almada, ex-executivo da empreiteira Engevix. A acusação contra Dirceu e os demais denunciados se baseou nas afirmações de Milton Pascowitch, em depoimento de delação premiada. O delator afirmou que fez pagamentos em favor de Dirceu e Fernando Moura, empresário ligado ao ex-ministro. Segundo os procuradores, o dinheiro saiu de contratos entre a Engevix e a Petrobras e teriam passado por Renato Duque e o empresário Fernando Moura, que assinou acordo de delação premiada.

— O Zé Dirceu admitiu que fez negócio, que permitiu que o Milton Pascowitch pagasse a reforma do apartamento e da casa. Ele disse. ‘Isso era uma coisa minha com Milton, eu iria pagar o Milton.’ Imagino que o Pascowitch se aproveitou da situação e ‘vendeu’ o Zé. O Zé sempre permitiu ser usado por terceiros que ganharam milhões às custas do Zé. Estão rindo aí, andando por aí, e o Zé Dirceu preso. ê ridículo —

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Dirceu negou ter indicado o engenheiro Renato Duque para a Diretoria de Serviços da Petrobras, disse o advogado. Duque, apontado como cota do PT na estatal, também é réu da Lava Jato porque sob seu controle teria operado um dos principais focos de corrupção na petrolífera.José Dirceu disse, segundo seu advogado: “Não indiquei Renato Duque, eu não o conhecia, não o conhecia antes desses fatos (investigação da Lava Jato). Havia um pedido do PSDB (para uma diretoria da estatal), uma indicação absolutamente legítima. Eu já tinha uma indicação do PSDB por conta de Furnas e havia uma outra pessoa indicada pelo PT. Eu preferi indicar porque já tinha PSDB para Furnas. Eu não tinha nenhum interesse pessoal com Renato Duque. Como ministro da Casa Civil, assinei. A última palavra era minha para todas as pessoas, todos os ministérios. Eu não tiro a minha responsabilidade.”O ex-ministro declarou na audiência, segundo o relato de seu advogado: “O que me chegou é que havia uma disputa entre duas pessoas, uma apoiada legitimamente pelo PSDB e a outra pelo PT. Minha escolha foi a indicada pelo PT. Tinha duas pessoas. Eu vou optar por escolher o do PT porque alguém já havia sido indicado pelo PSDB. A demanda chegou para mim e eu decidi assim. Renato Duque não era amigo meu, eu nunca tinha visto, não sabia quem era.”Dirceu admitiu também ter usado um jatinho de outro lobista e delator, Julio Camargo, afirmou Podval. Segundo o advogado, o ex-chefe a Casa Civil falou: “Os aviões me foram cedidos. A vida inteira me foram cedidos. Foram cedidos por ele (Júlio Camargo), foram cedidos por outros. Eu sempre voei e sempre me deram.”Podval disse: “Ou seja, nunca ninguém escondeu isso. Até então era bacana ser amigo do Zé Dirceu. Era bacana oferecer o avião para o Zé Dirceu. Claro, nas costas dele estavam ganhando dinheiro em cima disso.”

*Zero Hora com agências