Ajoelhado no meio da rua, com as pernas e as mãos amarradas, descalço, de bermuda e regata, a vítima implora aos algozes: “Não, não, não! Deixa eu me explicar!”. Com uma arma longa em punho, o atirador dispara sem piedade e começa o massacre. O jovem tomba seguido de mais uma saraivada de tiros.

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Ao menos três homens se encarregam da execução. “Cata aí as cápsulas”, ordena um bandido para os comparsas. Não bastasse, ainda decapitam o homem e deixam a cabeça jogada em via pública. O crime é filmado e espalhado em redes sociais como forma de disseminar o horror.

A barbárie aconteceu na madrugada do último domingo na Chico Mendes, área Continental de Florianópolis . A comunidade sofre há décadas com o cotidiano de violência. A polícia identificou o morto como sendo Luiz Felipe Mazzuco da Silva, 19 anos, de São José, disse que ele tinha envolvimento com drogas e que o assassinato estava ligado à disputa entre facções criminosas. Ninguém foi preso.

Decapitações, esquartejamentos, execuções frias e chacinas. Desde janeiro, foram mais de 140 mortes violentas apenas na Capital. A quantidade e a crueldade trazem a sensação de banalização dos homicídios. Um cenário assustador, de impotência e medo até mesmo para policiais mais experientes. Se considerar crimes em Palhoça e São José, o quadro fica ainda mais preocupante.

A epidemia da guerra de facções começou há dois anos em Joinville e se alastrou na Grande Florianópolis. Há uma letargia evidente de reação do Estado, ou seja, a mobilização prática deixa bastante a desejar e enquanto isso famílias estão se despedaçando.

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A suposta tese de que bandidos estão se matando entre si e quem morre não era gente de bem é perigosa. Só a ação da polícia também não basta. A Secretaria de Segurança Pública, Ministério Público, Judiciário, Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a sociedade em geral não demonstraram até agora um plano a curto e médio prazo para um basta nesta triste realidade.

Não há dúvidas que se continuar assim a tendência será uma sociedade pior, pois há outros delitos conexos como roubos e tráfico de drogas. Basta ver as conseqüências da criminalidade atual no Rio de Janeiro, onde conflitos entre facções causam mortes de inocentes. Há dezenas de casos de balas perdidas, pessoas confundidas com criminosos, grande quantidade de mortes de policiais, rotina de tiroteios e pânico. A bandidagem aqui não demorará para atemorizar geral, se é que já não o faz.

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