Na primeira convocação em seu retorno ao comando da Seleção, era só paz e amor. Um Felipão moderado, politicamente correto. Não convinha mesmo entrar de sola, ainda que o país já o conheça de outros carnavais. Estava chegando.

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Mas na véspera da estreia na Copa das Confederações, contra os japoneses, não pode restar mais dúvida: o velho e bom Felipão de 2002 voltou. E o fez em grande estilo, com entrevista traduzida para quatro idiomas em evento oficial da Fifa. Nada como a adrenalina de competição para acelerar um processo que deu tão certo na trajetória rumo ao penta, quando foi construindo a Família Scolari.

Em menos de uma hora, Felipão criou alguns inimigos imaginários. E, claro, colocou-se na condição de guardião do pavilhão nacional. Daí a declaração forte acerca de Neymar, que vale como estratégia para motivar o grupo.

– Vocês deveriam protegê-lo, mas parece que a imprensa quer execrá-lo.

Ninguém, obviamente, quer execrar Neymar, mas a defesa do técnico foi tão comovente que o novo astro do Barcelona deveria mesmo arrasar contra o Japão em agradecimento. Diante da pergunta singela (”o que há com Neymar, que soma quase 900 minutos sem marcar gol na Seleção?”), ele o elogiou como se estivesse sendo acusado de morte. Diz que muitas vezes Neymar não faz o gol por estar ajudando, a seu pedido, na marcação. Fez o mesmo com Paulinho, às vezes criticado por não ir à frente como no Corinthians:

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– Esta história de montar esquema para este ou aquele não existe. Aí vou ter de jogar com 11 esquemas. Somos um time. O Neymar tem de ajudar o time, e está fazendo isso. Este exagero de cobrança é de vocês.

Além do individual, ao tentar mexer com o brio de Neymar, também o geral. Sem ser perguntado, provocou que, no Exterior, a Seleção segue respeitada, enquanto em casa há quem a trate como se fosse um ”timinho”. Felipão quer fazer valer o fator local. Por isso, busca conexão rápida com o torcedor via orgulho nacional. Deu um pequeno show para tê-lo ao seu lado hoje, no caríssimo Estádio Mané Garrincha, que custou mais de R$ 1 bilhão aos cofres públicos.

– Perder em casa na estreia seria terrível. Tira a tranqulidade. Precisamos ganhar. O torcedor vem com a gente se jogarmos bem, mas é preciso entender que os adversários são difíceis. A pressão ajuda se for a favor, com aplauso e grito – implorou o técnico.

O capitão Thiago Silva já entrou no clima. Está assim virando um Lúcio, como em 2002. Entende que aquela dupla de zaga, com Juan, foi a melhor de todos os tempos. E quer o mesmo para ele a partir desta Copa das Confederações.

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– Quero ser como o Lúcio – resumiu, os olhos brilhando, quem sabe inflado pelo espírito que Felipão vai impregnando na Seleção.

É aquele mesmo cenário do Grêmio de 1995, de Portugal na Euro-2004 e no Penta. Os jogadores, quando voltarem ao hotel e conferirem o noticiário, assistirão a um leão lutando por eles e vão querer retribuir contra o Japão. É o velho e bom Felipão que está de volta. Que seja para glória da Seleção Brasileira, hoje no começo de uma caminhada não rumo ao título da Copa das Confederações, mas na direção do sonho do hexa.