Ainda não é caso para rir à toa, mas depois de quatro anos apanhando sem esboçar defesa, é de renovar a esperança quando surge um primeiro sorriso, ainda que tímido, no caminho da Copa das Confederações. A Seleção Brasileira empatou em 2 a 2 com a Inglaterra, um adversário poderoso e, no cômputo geral do amistoso de reabertura do Maracanã, merecia ter vencido.

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A reação do público carioca, que não costuma ter pudores para vaiar a Seleção, pois já se acostumou ao longo do tempo a conviver com ela em treinos e jogos, é prova disso. Não vaiou quando o colombiano Wilmar Roldán apitou o fim da partida. Pelo contrário: aplaudiu. É verdade que os 66 mil torcedores ainda estavam impactados pelo gol de empate de Paulinho, aos 35 minutos do segundo tempo, quando a derrota parecia inevitável. Mas é fato: o público apoiou. Filipe Luís, surpresa na lateral-esquerda no lugar do celebrado Marcelo, até revelou bastidores do vestiário:

– A gente disse um para o outro: para o momento em que estamos, a galera foi show.

Esperavam vaia pesada, portanto, e não muxoxos em substituição, como na saída de Oscar, depois do intervalo. Talvez esteja aí a explicação para o primeiro tempo. Era preciso dar o sangue. Fiasco na primeira vez do novo Maracanã seria inaceitável. Havia muito a Seleção não mostrava tanta disciplina e solidariedade para marcar. Isso, e mais uma mudança de Felipão, fez o Brasil jogar os melhores 45 minutos desde o retorno do comandante do Penta.

Não por acaso, Felipão deu a camisa 10 a Neymar. Em vez de posicioná-lo pelos lados, como assessor de lateral, enfiou o seu protagonista pelo meio, numa zona mais povoada, na qual suas carências defensivas aparecem menos. Abriu Oscar e Hulk, outra surpresa, esta no lugar de Hulk.

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– Me senti como no Santos, com mais liberdade. Nosso primeiro tempo foi maravilhoso. Teve tabela, passe, infiltração, chute. Temos que jogar sempre como neste primeiro tempo.

O entusiasmo de Neymar está expresso nos números. O Brasil concluiu 11 vezes. A Inglaterra, só uma, aos 39 minutos, chute esquálido de Jones. Enquanto isso, Neymar poderia ter aberto o placar de meia-bicicleta, aos 5, na cara de Hart, aos 17, e errando o ângulo por milímetros, aos 21. Daniel Alves, Oscar, até Thiago Silva arrematou. Hulk quase fez de calcanhar. Enfim: 11 a 1 é bombardeio.

Curiosamente, o primeiro gol, de Fred, já no segundo tempo, saiu quando a Inglaterra era melhor. O técnico Roy Hodgson havia colocado Cole no lugar de Baines, de tanto que Oscar o incomodou, aberto pela direita. Os ingleses passaram a se defender melhor, ao passo que a forte marcação brasileira do primeiro tempo relaxou. Os espaço surgiram para Lampard, Milner e, sobretudo Rooney. Em 12 minutos e dois chutes de fora da área veio a virada dos inventores do futebol. Chamberlain, aos 21. Rooney, um golaço, aos 33, mesmo que a bola tenha desviado em Fernando e enganado Júlio César.

Felipão cometeu dois erros que poderiam ter lhe custado caro. Tirou Oscar para o ingresso de Lucas, uma exigência da torcida, quando deveria ter sacado Hulk, o vaiado. Limou Luiz Gustavo para dar lugar Hernanes, que há muito não é volante de contenção. O time ficou exposto, e por aí a Inglaterra virou. Um lançamento inglês em profundidade e pronto: mano-a-mano dos zagueiros brasileiros contra os avantes. Mas o gol de Paulinho impediu a derrota e renovou a esperança.

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Esperança que só poderia mesmo vir do Maracanã, do lendário Maracanã de Didi e Evaristo de Macedo, de Pelé e Garrincha, de Zico e Dinamite, de Rivellino e Romário. Esperança que ainda é só um sorriso tímido, mas quem sabe não vira um riso orgulhoso e confiante já contra a França, dia 9, na Arena do Grêmio?