O segundo mandato do governador Raimundo Colombo (PSD) tem uma marca incômoda e inegável: a dificuldade quase permanente de manter as contas em dia. Santa Catarina pode até ter conseguido postergar os efeitos da crise econômica nacional, mas não ficou imune a ela.

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É nesse cenário que o governo olha com volúpia para os R$ 103 milhões parados no caixa da autarquia estadual que administra o Porto de São Francisco do Sul. Curioso, nesse caso, é a resistência que surge no próprio PSD do governador.

Não houve maior obstáculo no parlamento nos outros momentos em que o governo buscou esse tipo de recurso. Em 2015, a extinção de um fundo previdenciário colocou R$ 800 milhões na máquina durante o auge da crise econômica. Terça-feira, os deputados aprovaram a redução da de 4,5% para 0,5% os aportes patronais no plano SC Saúde, dos servidores estaduais, durante seis meses – economia prevista de R$ 100 milhões.

No caso dos R$ 103 milhões do porto, no entanto, o governo enfrenta resistência dos deputados estaduais pessedistas Kennedy Nunes e Darci de Matos – este, ironicamente, líder do governo. Ambos foram eleitos pela região Norte e defendem que o dinheiro continue por lá.

Desde o final de maio tramita na Assembleia a extinção da autarquia, seguindo uma determinação da União para renovação da concessão em um novo modelo. Contando com recursos no caixa, Colombo prometeu em agosto que utilizaria o dinheiro para apagar os incêndios da Secretaria de Saúde. Mês passado, eles também foram prometidos para quitar dívidas com os terceirizados do sistema prisional. O reembolso seria feito futuramente.

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Esta semana, Darci acolheu em seu relatório na Comissão de Constituição e Justiça a emenda de Kennedy que impede o governo de usar os recursos em outra área que não a infraestrutura do porto. “Sou líder do governo, mas também sou deputado e nesta matéria divirjo do governo”, diz Darci. O texto deve ir a plenário na próxima quarta-feira. Colombo até poderá vetar a emenda dos pessedistas do Norte, mas é provável que termine essa história como o personagem da anedota que ficou pendurado pelo pincel após ter a escada tirada de seus pés.