Escondido entre a mata e as dunas dos Ingleses, com acesso somente por trilha, um cercado de madeira, com cordas e baldes velhos contrasta com a paisagem. O mangueirão – local utilizado para farra do boi – foi construído por vários homens rapidamente, segundo a denúncia de morador à Hora e a Polícia Militar – ele não se identifica por medo de represálias.

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De acordo com o denunciante, ele estava pescando quando viu farristas puxando bois que ficam pastando no morro e promovendo a farra no período da Quaresma. Os mangueirões se tornaram uma alternativa para os farristas, que cada têm cada vez mais dificuldades de agir em locais públicos.

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Essa restrição, somada às denúncias como a do morador dos Ingleses e ações educativas de Ministério Público e PM, tem um resultado prático: a redução nas ocorrências da farra do boi em SC. Em 2015, segundo a PM, foram 40 casos confirmados, contra 65 em 2014 no mesmo período

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Evidências claras

Nessas semana, a Hora esteve no local acompanhada por um policial ambiental, que constatou evidências de que houve farra ali. De acordo com o major Jardel Silva, comandante da 1ª Companhia de Polícia Militar Ambiental, os policiais irão informar a existência do local para a Polícia Civil, que é responsável pela investigações dos responsáveis pela construção do local. O procedimento administrativo também será feito e o encaminhamento para os órgãos responsáveis por destruir a estrutura.

ONG confirma redução

É com alegria que Halem Guerra Nery, do Instituto Ambiental Ecosul, percebe a diminuição. Na luta há 34 anos contra os maus-tratos animais, ele explica que o trabalho de conscientização está fazendo efeito:

– Além dos números, nossos ativistas nas regiões em que costumeiramente existe mais farra relatam que as ocorrências diminuíram bastante. Já passamos por várias fases, como quando a polícia invadia e fazia o enfrentamento, até conseguir a criminalização em 1998, mas vimos que nem mesmo a lei resolvia, então começamos a trabalhar com a educação, com a formação de valores nas crianças – disse.

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Halem destaca que desde 2008, a Polícia Militar e o Ministério Público se juntaram nos trabalhos nos munícipios, não atuando só na repreensão.

– Esse trabalho é feito o ano inteiro. Todas as escolas receberam visitas, e o resultado foi surpreendente. Até mesmo em Governador Celso Ramos, que é o local mais sensível, poucas crianças se mostraram favoráveis. Temos que resgatar as verdadeiras tradições açorianas, a brincadeira do boi de mamão. O argumento de que faz parte da cultural não é mais aceitável.

PM destaca ações preventivas

Na visão da Polícia Militar, as ações de inteligência e prevenção são os principais fatores que colaboram com a diminuição dos casos. De acordo com o chefe de jornalismo, Capitão Aires Pilonetto, são realizadas operações anualmente nos meses mais propensos a realização da farra, além de ações educativas em escolas, como concursos de redação.

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– A PM intensificou o trabalho nas ações preventivas, evitando que a farra ocorra, para não precisar de ações de enfretamento, fazendo barreiras nos caminhões que levam os bois e com o patrulhamento aéreo, identificando áreas de mangueirões. Este ano, das 12 cidades monitoradas com maior potencial para ocorrência de farra, em seis delas não tivemos nenhum chamado (Antônio Carlos, Porto Belo, Rancho Queimado, Garopaba, Navegantes, São José).

Pilonetto destaca que é fundamental que a população continue denunciando os casos, não só de farra, mas quando percebe que um ambiente estás sendo formado para uma futura farra.

2015

– 40 casos

– 5 bois apreendidos

– 6 pessoas detidas

2014

– 65 casos

– 17 bois apreendidos

– 37 pessoas detidas

Casos confirmados 2015 (até o dia 8 de abril)

– Gov Celso Ramos: 24

– Florianópolis: 11

– Baln. Camboriú: 01

– Biguaçu: 1

– Bombinhas:2

– Itapema 1 ??

Pena chega a um ano de cadeia

Desde 1998 a Farra do Boi foi proibida no Brasil, e os responsáveis podem ser punidos e presos, mesmo que o animal não seja ferido. O promotor de Justiça Paulo Antônio Locatelli, coordenador do Centro de Apoio Operacional do Meio Ambiente, explica que as ocorrências encaminhadas pela PM podem ir parar na Justiça

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– A pena poderá ser dada pela prática do crime de maus tratos aos animais, e até virar um denúncia com outros crimes, como formação de quadrilha e oferecer risco a vida e saúde.

O crime de maus tratos aos animais prevê uma pena de 3 meses a 1 ano de detenção, sendo aumentada em um terço nos casos de morte do boi.