Para os paulistas, rodo. Os cariocas usam também passapé. Uruguaios e argentinos, una patada. Rasteira, enfim. Dilma Rousseff ergueu Joseph Blatter a meio metro de altura ao comunicar, em cima da hora, sua ausência no 64º Congresso da Fifa, que começou nessa terça-feira em São Paulo e termina amanhã, véspera do jogo inaugural da Copa, entre Brasil e Croácia.
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O golpe, além de representar um desprestígio, esvaziou o evento e deve ser um episódio a mais na campanha eleitoral pelo comando da entidade. Sempre tratada como se fosse um país, do qual Blatter é o presidente, a Fifa se vale de seus congressos também para arrostar o quanto tem poder e, por isso, é respeitada.
A rasteira de Dilma tisna esta imagem.
– Estamos preparados para realizar a Copa das Copas – escreveu Dilma em carta lida pelo ministro do Esporte no palco da cerimônia de abertura, sem conseguir compensar o peso da sua ausência.
É claro que a oposição, encarnada pelo presidente da UEFA, Michel Platini, irá explorar o bolo que Dilma deu em Blatter. Na prática, a presidente quer se desvincular da Fifa, atolada em denúncias de corrupção. A mais recente indica sujeira debaixo do tapete vermelho da Copa no Catar, que teria caído no colo dos sheiks à custa de propinas milionárias.
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Dilma telefonou a Blatter em abril, garantindo presença no Congresso. Blatter alardeou tanto a conversa quanto a promessa de Dilma, mostrando que seu filme não estava queimado como diziam seus detratores. A relação dos dois vem azedando há algum tempo, desde que, de um lado, o secretário geral Jerome Valcke acentou as críticas à organização do Mundial. E, de outro, desde que Dilma começou a deixar claro, em suas conversas com grupos de jornalistas no Palácio do Planalto, que a Fifa era um fardo pesado demais para carregar.
O fotógrafo uruguaio Mauricio Arbilla, da agência de notícias France Press, veio ao congresso de máscará de gás e capacete. Imaginou que, com Blatter e Dilma juntos, o coquetel para manifestações estava em sua escala máxima. Relaxou quando soube que Dilma não viria. Mas deixou uma frase que mostra bem a imagem da Fifa:
– Mas ainda tem o Blatter, né… – resumiu Maurício Arbilla.
Até a paranóia de segurança pareceu um tanto bizarra sem a presença de Dilma. O prédio de eventos do Hotel Transamérica sofreu três varreduras da Polícia Federal e Exército. Esquadrões antibomba esquadrinharam cada corredor. A fila no detector de metais não andava, tal o pente fino da revista. Jipes do exército andavam pelo estacionamento. Homens de terno com rádios e fones de ouvido surgiam dos corredores.
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Os debates começam na quarta-feira. Na pauta, mudanças estatutárias. Há sucessão em 2015. A Uefa quer proibir pessoas acima de 72 anos de concorrerem. Blatter, candidato a novo mandato, tem 78. Outro ponto é a questão financeira. Blatter quer dar bônus como prêmio para o trabalho das confederações, mas a oposição insinua que isso seja uma maneira de comprar votos.
De resto, o que salvou o primeiro dia do congresso foi a bem organizada cerimônia de abertura. E Fernanda Lima, claro. Esta sim, se aplicasse rodo, passapé, patada, rasteira, bem, aí era o caso de a Fifa fechar. Não haveria como suportar.