Perguntada sobre as prioridades em investimento na área de infraestrutura em Santa Catarina, a presidente Dilma Rousseff se esquivou e disse que o país “corre atrás da máquina”. Citou que várias áreas são urgentes. A entrevista exclusiva foi concedida ao Painel RBS Especial, aos profissionais do Grupo RBS – Carolina Bahia, David Coimbra, Cacau Menezes – no Palácio da Alvorada, na manhã desta quarta-feira.
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Além do sistema de transportes – rodovias, ferrovias, aeroportos e portos -, saneamento básico e prevenção a desastres também são necessidades imediatas. Mas não citou obras específicas:
– O Brasil tem tanta carência de investimentos que é um absurdo a gente discutir prioridade. todos os investimentos são prioritários. Eu não tenho como dizer que primeiro vem esse, depois vem aquele. Eles têm de ser simultâneos. Porque investir em infraestrutura vai exigir da gente investimento em rodovia, ferrovia, porto, aeroporto. Vai exigir da gente investimento em saneamento, investimento em prevenção de desastre. Não tem como isso ser priorizado – respondeu.
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Confira abaixo, na íntegra, as repostas da presidente sobre a infraestrutura.
Grupo RBS – Por que parece tão difícil fazer investimentos da maneira rápida que precisamos para acelerar nossa economia? E se a senhora pudesse escolher uma prioridade em SC e no RS, em infraestrutura, o que seria?
Dilma Rousseff – Olha, entender porque que no Brasil é difícil fazer investimento, é algo que exige que a gente volte um pouco atrás. O Brasil parou de investir. O que aconteceu nos últimos 30 anos? Tivemos uma situação que foi uma hipertrofia, ou seja, aumentou muito a parte de fiscalização. E reduziu-se muito a de execução. Para se ter uma ideia, quando cheguei ao Ministério de Minas e Energia, que é o ministério que tem ligado a ele a Eletrobrás e a Petrobrás, tinha três engenheiros, 25 motoristas. Tem outros ministérios que não tinham estrutura de engenheiros. Até porque engenheiro no Brasil sumiu, né? Nós tínhamos uma época que engenheiro era contratado, sobretudo, para atuar nas tesourarias dos bancos e das empresas, porque não tinha obras. Este ano de 2013 é o primeiro ano que a formação de engenheiros no Brasil ultrapassou a formação de advogados. Nós precisamos muito de engnheiros. Nós tivemos dificuldades para contratar projetos, não só projetos executivos de obras físicas, mas todos os projetos necessários, ambientais, para você poder fazer uma obra. Nós voltamos a investir de uma forma global a partir de 2007, com o PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento. E eu te dou um outro dado. Em 2005, eu já era ministra-chefe da Casa Civil e nós estávamos submetidos ao Fundo Monetário. Para saneamento, um funcionário da Secretaria do Tesouro, muito feliz, chegou para mim e disse: “conseguimos uma excessão do Fundo Monetário, que é investir R$ 500 milhões em saneamento no Brasil inteiro”. Hoje, R$ 500 milhões em saneamento, nós investimos em uma cidade modesta. Porque a exigência de recursos para investimento em qualquer obra de infraestrutura é muito grande. Então eu vou te dizer um outro fator: não existia financiamento de longo prazo no Brasil. Nós é que construímos as condições de financiamentos. Rio Grande do Sul: a obra do metrô, metade é OGU (Orçamento Geral da União). A União coloca recurso a fundo perdido. A outra metade é financiamento. Você acha normal, o Estado vai pagar. Mas em que condições? Vai pagar em 30 anos, com cinco de carência e juros subsidiados. Se não você não faz investimentos.
Grupo RBS – E as prioridades?
Dilma – O Brasil tem tanta carência de investimentos que é um absurdo a gente discutir prioridade. Todos os investimentos são prioritários. Eu não tenho como dizer que primeiro vem esse, depois vem aquele. Eles têm de ser simultâneos. Porque investir em infraestrutura vai exigir da gente investimento em rodovia, ferrovia, porto, aeroporto. Vai exigir da gente investimento em saneamento, investimento em prevenção de desastre. Não tem como isso ser priorizado. Porque nós estamos correndo atrás da máquina. Estamos correndo atrás da máquina. Durante muito tempo não se investiu no Brasil. Às vezes somos criticados por ter pressa, às vezes por não ter pressa. É absolutamente imprescindível no Brasil que a gente tenha pressa no que se refere a investimento em infraestrutura, porque tem uma carência muito grande, ficou muito tempo sem investir. Quando fica muito tempo sem investir, se corre atrás da máquina. E é o que nós estamos fazendo. Para você ver, nós temos, hoje, uma carteira de investimentos que nunca o governo federal teve. E nós administramos essa carteira. Em algumas áreas, com grande facilidade, porque ela já se estabilizou. Vou te dar um exemplo: energia elétrica. Hoje é mais tranquilo, o marco regulatório é estavel. Outra área que é cada vez mais tranquila, apesar do pessoal fazer uma certa turbulência: petróleo e gás. Petróleo e gás têm regras e essas regras são internacionais. Modelo de partilha nós não inventamos. Nós sabemos que o modelo de partilha é usado onde tem muito petróleo e baixo risco. Modelo de concessão é usado onde tem pouco petróleo e muito risco. Isso é regra do jogo.
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