Ao desautorizar publicamente o ministro da Agricultura, Mendes Ribeiro Filho, a presidente Dilma Rousseff impôs uma mordaça aos auxiliares e expôs uma crise com seu principal aliado, o PMDB do vice Michel Temer.

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Avessa a floreios no trato com interlocutores e rigorosa nas cobranças, Dilma é temida por reagir com rispidez ao vazamento de informações. Foi o que motivou a reprimenda a Mendes Ribeiro, que falou demais sobre as costuras políticas em torno do Código Florestal.

Depois de vetar 12 pontos do texto da Câmara, o Planalto editou uma medida provisória (MP) para regular o tema. Como resposta, os parlamentares sugeriram quase 700 emendas, um desaforo na avaliação do governo. Após se reunir com Dilma na sexta-feira, 8 de junho, o ministro sinalizou a disposição do Planalto em negociar a MP, o que provocou a ira da presidente. Escalada para dar o puxão de orelha, a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, telefonou para Mendes no sábado.

– A presidente não gostou da entrevista. Você precisa desmentir – ralhou a colega.

Enquanto Mendes redigia uma nota de esclarecimento à imprensa, foi surpreendido com a informação que o porta-voz da Presidência, Thomas Traumann, o havia desautorizado a falar sobre o Código. Por telefone, Mendes recorreu a Temer. Garantiu ter sido mal interpretado na declaração e ouviu um conselho:

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– Seja moderado e cuidadoso com as palavras.

A estratégia de desidratar o fato foi referendada na segunda-feira, quando Temer e Mendes conversaram em Brasília.

Peemedebistas planejam reação

O vice procurou Gleisi para externar o descontentamento na condução do episódio. Ele reclamou que o ministro nem sequer pôde se defender e foi fritado na imprensa, ato considerado pelo PMDB um desrespeito à sigla que garante a sustentação do governo no Congresso.

A reação deve vir com posições contrárias às do PT em votações estratégicas, como na da própria medida provisória do Código Florestal.

– Somos o maior partido do país. Essa subordinação (à presidente) tem limites – revela um importante interlocutor de Temer.

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A carraspana reforçou o medo de morrer pela boca na Esplanada. Acostumados ao excesso de franqueza e aos modos poucos cordiais de Dilma nas reuniões, os demais ministros entenderam o recado: quem falar mais do que deve, será exposto.

– Todo mundo sabe como funciona – disse a ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, enquadrada no ano passado por deixar vazar a possibilidade de o Planalto manter em sigilo eterno a documentos oficiais.

Outro que sentiu o peso da reprovação presidencial foi o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM). Revoltado com um erro na redação de uma MP, Braga disse que o Ministério do Planejamento havia feito uma barbeiragem. À boca pequena, chamou a ministra Miriam Belchior de “anjo mau”. Dilma ficou irritada com a postura do líder e já cogita tirá-lo do cargo.

Receosos, ao auxiliares graduados fogem dos microfones ou só tocam em temas já decididos pela presidente. Sabem que ela detesta tomar conhecimento pela imprensa de propostas de governo ou ler nos jornais comentários feitos na intimidade do Planalto.

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Os adeptos da prática perdem espaço. Dilma confia e aposta nos seguidores da sua estratégia: trabalhar muito e falar somente o necessário.